Criada à
sombra de Santo Estevão, rei da Hungria, de quem era sobrinha, desde cedo Santa
Margarida já mostrava sua forte vocação religiosa através das frequentes orações,
da assiduidade à Santa Missa e da compaixão pelos pobres.
Nascida em 1046, na Hungria, era uma mulher da nobreza, de grande devoção cristã, culta, inteligente, e possuidora de uma sutil e fina diplomacia. Sua mãe, Águeda, irmã da rainha da Hungria e de Eduardo, pretendente ao trono da Inglaterra, expulso pelo usurpador rei Canuto. Numa época tão conturbada, mesmo depois da morte desse último, tiveram que fugir várias vezes.
Para escapar à tirania de Guilherme, o Conquistador, Edgard e
Margarida, esta com 20 anos de idade, fugiram numa embarcação pretendendo
chegar à Hungria, onde sabiam que seriam bem recebidos. Mas outro era o
desígnio da Providência, e durante uma tempestade o barco foi atirado às costas
da Escócia.
Nesse país foram bem recebidos pelo rei Malcolm III que,
encantado com as qualidades de Margarida, propôs-lhe o matrimônio. Esta de há
muito alimentava o desejo de, como sua irmã Cristina, fazer-se religiosa. Mas
seu confessor fê-la ver como poderia auxiliar mais a religião subindo ao trono.
Assim realizou-se no ano de 1070 o casamento e a coroação de Margarida como
rainha da Escócia.
Embora Malcolm fosse um pouco rude, tinha muito boa índole e
disposição para a virtude. Sobretudo amava ternamente a rainha e tinha nela uma
confiança sem limites.
Assim Margarida, por uma conduta cheia de respeito e
condescendência, tornou-se senhora de seu coração; e serviu-se do ascendente
que tinha sobre o rei para fazer florescer a religião e a justiça, procurar a
felicidade dos súditos e inspirar a seu marido os sentimentos que o tornaram um
dos mais virtuosos reis da Escócia.
Ela amenizou seu caráter, cultivou seu espírito, poliu suas
maneiras e o inflamou de amor pela prática das máximas evangélicas. A rainha
punha empenho nesse apostolado, pois não duvidava que a transformação e melhora
dos costumes do povo dependiam em boa parte do exemplo do rei e da corte.
Assim, toda a Escócia progrediu, tornando o reinado de Malcolm um dos mais
felizes e prósperos da Escócia.
Em suma, Margarida era uma rainha “piedosa e varonil ao mesmo tempo.
Cavalgava gentilmente entre os magnatas, tecia e bordava entre as damas, rezava
entre os monges, discutia entre os sábios, e entre os artistas planejava
projetos de catedrais e de mosteiros”.
Deus abençoou seu matrimônio com oito filhos, seis homens e duas
mulheres, todos tendo seguido o caminho da mãe. Dois deles –– uma filha, também
Margarida, casada com o rei da Inglaterra, e um filho, Davi I, rei da Escócia
–– foram elevados à honra dos altares.
Um dos cuidados de Margarida foi estabelecer em todo o reino
sacerdotes virtuosos e pregadores zelosos. Um sínodo foi convocado, e as mais
importantes dentre as reformas instituídas por ele foram a regulamentação do
jejum da Quaresma e a observância da comunhão pascal, então quase
desaparecidos, e a remoção de certos abusos concernentes ao casamento dentro
dos graus de parentesco proibidos.
A rainha procurou ainda organizar a Igreja na Escócia. Em consequência, por seus conselhos, o reino foi dividido em dioceses, com
demarcação bem determinada. Foram criados cabidos nas catedrais, com o
correspondente clero, e estabelecidas paróquias. Atraiu ordens religiosas,
principalmente da França e da Inglaterra, com vistas a contribuir eficazmente
para o incremento da vida litúrgica, pois desejava o esplendor na Casa de Deus.
Para isso, construiu igrejas magníficas e reformou outras, dotando-as do que
havia de melhor para o serviço divino.
Embora fosse pouco exigente para com sua própria pessoa, a
rainha queria que a corte fosse esplêndida, a fim de valorizar a autoridade
real; que a nobreza se vestisse muito bem, e que os reis se trajassem com
pompa. Protegeu também as ciências e as artes e fundou diversos
estabelecimentos de cultura.
Salientou-se também pela caridade para com o próximo.
Diariamente servia com suas próprias mãos a comida a nove
meninas órfãs e a 24 anciãos. Durante o Advento e a Quaresma, atendia com o rei
–– ambos de joelhos, por respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo em seus membros
padecentes –– a 300 pobres, servindo-lhes comida da mesa real. Também
diariamente a rainha saía pelas ruas, sendo rodeada então por inúmeros órfãos,
viúvas e necessitados de toda espécie, que clamavam:
“Rainha santa, socorrei-nos”, “Ó nossa mãe, assisti-nos”.
E ela a todos socorria, mesmo que para isso tivesse que pedir
também aos membros da sua comitiva algo com o que assistir àquela gente.
Regularmente visitava os hospitais para socorrer os doentes pobres. Os
devedores insolventes encontravam nela seu auxílio. Resgatava cativos, não só
escoceses, mas também de outras nacionalidades. Enfim, não houve miséria física
ou moral que ela não tivesse socorrido.
Santa Margarida, como todos os santos, tinha profunda humildade.
Pedia frequentemente a seu confessor que a advertisse de qualquer falta que a
visse praticar. E reclamava com ele, que não encontrava o que advertir,
alegando que não estava cumprindo sua missão.
Ela dormia pouco e rezava muito. Sua alimentação era tão parca,
que se restringia apenas ao necessário. Começou a sentir o organismo minado,
com terríveis dores de estômago. Privava-se de qualquer passatempo fútil e
fugia de tudo quanto pudesse alimentar a sensualidade.
Quando a rainha estava acamada em sua última doença, teve que
passar por uma prova duríssima.
Tendo o rei Guilherme, o Ruivo, da Inglaterra, invadido a
Northumberland escocesa, Malcolm organizou um exército para a reconquistar. A
rainha lhe pediu muito que não fosse pessoalmente a essa campanha, mas ele
resolveu ir com seus filhos Eduardo e Edgard, julgando que o temor da rainha se
devia à bondade do seu coração.
Quatro dias antes de sua morte, ela disse aos presentes:
“Hoje talvez tenha acontecido uma grande infelicidade para
a Escócia, como a que ela não via há muitos anos”.
Entrementes seu filho Edgard voltou da guerra, e ela lhe pediu
notícias do pai e do irmão. Temendo que a verdade lhe fosse fatal, o rapaz
respondeu que estavam bem.
“Ah! Meu filho, sei muito bem o que se passa; por isso não
tens que negar-me a verdade”, respondeu ela.
Edgar relatou então a morte de seu pai e irmão numa emboscada
durante a campanha. Margarida, erguendo os olhos ao céu, exclamou:
“Deus todo-poderoso, eu vos agradeço por me terdes enviado
uma tão grande aflição nos derradeiros momentos de minha vida. Espero que, com
vossa misericórdia, ela servirá para me purificar de meus pecados”.
Enfim, sua alma se viu livre dos liames do corpo no dia 16 de
novembro de 1093, aos 47 anos de idade. Tornou-se padroeira da Escócia.
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