Conhecido como “Leão
de Münster” pela sua luta implacável contra o nazismo, o Beato Clemente
Augusto nos deixa um legado de defesa da vida, não admitindo qualquer violação
contra o dom divino da vida, principalmente contra o crime da eutanásia,
praticado pelos nazistas em pessoas idosas, paralíticas e com doenças
incuráveis. Foi perseguido, ameaçado, caluniado, mas manteve-se firme e fiel ao seu lema: "Não me movo nem por louvores nem por temor".
Clemente Augusto von Galen
(1878-1946) nasceu em 16 de março na Alemanha, como décimo-primeiro de 12
irmãos. A família, de antiga tradição católica, deu à Igreja arcebispos, bispos,
clérigos e numerosas freiras. E também ardorosos defensores da Igreja em todos
os lugares..
Em seu lar cheio de virtudes
cristãs, ele recebeu uma esmerada educação e fre-quentou a escola jesuítica
Stella Ma-tutina em Feldkirch.
Em 1897, acompanhado de seu
irmão Franz, frequentou a Faculdade de Fribourg, na Suíça. Foi ali que resolveu
tornar-se sacerdote. Em 1899 ingressou no seminário jesuíta de Innsbruck.
Ordenado em 28 de Maio de 1904 na Catedral de Münster, foi nomeado no mês
seguinte vigário capitular e capelão de seu tio, bispo-auxiliar de Münster,
Mons. Maximilian von Galen. Em 1906 foi transferido para Berlim, onde se tornou
capelão da paróquia de São Mathias. Além de seus cuidados pastorais, dava aulas
de Religião em ginásio da cidade.
No dia 5 de Setembro de 1933,
Pio XI elevou-o ao episcopado, designando-lhe a sede ocupada anteriormente por
seu tio. No dia de sua sagração episcopal, escreveu dele o Cardeal Schulte:
“Aussi Clement, qu’Auguste” ( Igualmente Clemente e Augusto ). O
novo bispo de Münster adotou como lema de seu brasão as palavras “Nec laudibus
nec timore” ( Não me movo nem por louvores nem por temor ), indicando
destarte a firmeza de seu caráter.
A seu respeito escrevia o
“Münstersche Anzeiger”: “Assinalam o novo bispo altas virtudes sacerdotais
e humanas. Como cura de almas em Berlim, [...] levantou continuamente sua voz
contra a crescente secularização da vida, exigindo um retorno aos claros
princípios da Igreja Católica”.
Oito meses antes havia o
Partido Nacional Socialista (nazista) galgado o poder. Com sua doutrina pagã da
raça ariana pura, o nazismo iria entrar necessariamente em choque com a Igreja,
a qual começou a perseguir, de início discreta, mais tarde aberta e ferozmente.
Monsenhor von Galen logo
percebeu os erros contidos na obra Mito do Século XX, de Rosenberg, o ideólogo
do partido nazista. E combateu-os rijamente em sua Carta Pastoral de 19 de
março de 1935, denunciando o “mito do sangue” de Rosenberg como uma nova
religião pagã.
Empolgados com a coragem de
seu bispo, os católicos deram-lhe a alcunha de “Leão de Münster”. Isso
se deve não apenas a suas críticas constantes aos erros nazistas, mas sobretudo
por três famosos sermões que proferiu nos dias 13 e 20 de Julho e 3 de Agosto
de 1941 na igreja de São Lamberto.
No sermão do dia 13 de Julho,
criticou o confisco de mosteiros e conventos, apontando para um “ódio profundo
contra o Cristianismo, o qual querem exterminar”. Dia 20 de Julho, empregou a
figura da bigorna e do martelo: “Atualmente não somos martelo, mas bigorna.
[...] A bigorna não pode e nem precisa rebater. Ela precisa apenas ser firme e
dura“. No dia 3 de Agosto, denunciou o crime da eutanásia, praticado em
pessoas idosas, paralíticas e com doenças incuráveis. A reação suscitada por
este sermão foi imensa. Altos funcionários do partido nazista exigiam que se
movesse um processo contra o bispo e o enforcassem numa praça pública de
Münster. Goebbels, o ministro da propaganda, percebeu que tal medida alienaria
do esforço de guerra os católicos de toda a Alemanha. E recomendou a Hitler que
deixasse o “acerto de contas” para depois da “vitória final”. Ele teve de viver
com essa espada de Damócles sobre sua cabeça e a aceitou heroicamente, sem
recuar.
A “vitória final” não houve.
Com a capitulação da Alemanha em Maio de 1945 e o processo de Nuremberg, que julgou
os crimes dos principais chefes nacional-socialistas, o nazismo desapareceu do
cenário mundial, deixando atrás de si, a exemplo do comunismo, morte, escombros
e miséria.
Depois de receber o chapéu cardinalício,
Monsenhor von Galen ficou ainda alguns dias na Itália, visitando soldados
alemães em diversos campos de concentração. Em meados de Março esperava-o em
Münster uma acolhida triunfal. Deus, porém, tinha outros planos para seu
“Leão”. Acometido por uma apendicite aguda, faleceu na tarde do dia 22 de março
de 1946.
Em seu sermão fúnebre, o
Cardeal Frings salientou que, enquanto houvesse uma diocese em Münster, Mons.
von Galen seria o seu adorno. E acrescentou: “Enquanto houver uma história do
povo alemão, ele será apontado como o alemão ideal, o orgulho da Alemanha”.
Em 9 de Outubro de 2005 o
Cardeal von Galen foi beatificado pelo Papa Bento XVI, que na ocasião enalteceu
a luta do novo bem-aventurado contra a eutanásia.
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