terça-feira, 7 de março de 2017

07 de março - Beato José Olallo Valdes

A vida do Pai Olallo, como vocês sempre o chamaram, é cronologicamente enquadrada ao longo do século XIX, mas ainda se tem hoje uma relevância surpreendente, atualidade que provem da eterna juventude do amor cristão, que beatos e santos são as testemunhas mais convincentes.
Enquanto eu falo, eu tenho em mente as nobres aspirações humanitárias e os dons recebidos do alto que valoraram o Beato José. Basta recordar as circunstâncias dramáticas que aconteceram, tanto no hospital com os feridos e os doentes, como na sociedade camagüeyana no cuidado dos pobres, os escravos, de quem era considerado o pai e protetor.
Também gostaria de mencionar o seu discurso corajoso às autoridades militares, defendendo o cuidado dos mais fracos no hospital e evitando em um momento o toque dos sinos para dar o sinal de ataque, como ele foi determinado, poupando assim a população de uma verdadeira e própria carnificina. Também foi impressionante a sua caridade e cuidados com os pacientes na prisão antes, durante e depois da guerra.
Pai Olallo se distingue, também, pela sua  entusiasmada fidelidade pela vocação ao serviço no hospital como um diligente e consciencioso enfermeiro, perto de todos os enfermos, dedicado especialmente aos marginalizados e mais doentes, para o seu desenvolvimento físico e social, a cura psicológica e espiritual, em um momento histórico em que a sociedade de Camagüey sofreu grande pobreza e miséria.
Foi ele, portanto, como foi definido com precisão, "um campeão da caridade cristã" em solidariedade com aqueles que chamou de "seus irmãos amados" com todos os tipos de ajuda.
Cardeal José saraiva Martins – Homilia de Beatificação – 29 de novembro de 2008

O Beato José Olallo Valdés nasceu em La Habana, Ilha de Cuba, em 12 de Fevereiro de 1820. Filho de pais desconhecidos, foi confiado à Casa Berço São José de La Habana, onde no mesmo dia 15 de Março de 1820 recebeu o batismo. Viveu e foi educado na mesma Casa Berço até os sete anos, e depois na Casa de Beneficência, manifestando-se um rapaz sério e responsável; com a idade de 13 a 14 anos ingressou na Ordem Hospitaleira de São João de Deus, na comunidade do hospital dos santos Felipe e Santiago, da Havana.
Superando os obstáculos que pareciam interpor-se à sua vocação, mantém-se constante na sua decisão, emitindo a profissão como religioso hospitaleiro. Em abril de 1835 foi destinado à cidade de Porto Príncipe (hoje Camagüey), incorporando-se na comunidade do Hospital de São João de Deus, onde se dedicou pelo resto de sua vida ao serviço dos enfermos, segundo o estilo de São João de Deus; em 54 anos somente uma noite se ausentou do hospital, e por causas alheias à sua vontade. De enfermeiro ajudante, aos 25 anos passa a ser o "Enfermeiro Mor do hospital", e depois, em 1856, Superior da Comunidade.

Viveu enfrentando grandes sacrifícios e dificuldades, mas sempre com retidão e força de ânimo: sua vida consagrada à hospitalidade não se sentiu afetada durante o período da supressão das Ordens Religiosas por parte dos governos liberais espanhóis, ainda que tenha comportado também a confiscação dos bens eclesiásticos. De 1876, em que morreu seu último irmão de Comunidade, até à data de sua morte, em 1889, ficou sozinho, mas seguiu com a mesma magnificência ocupando-se da assistência dos enfermos, sempre fiel a Deus, à sua consciência, à sua vocação e ao carisma, humilde e obediente, com nobreza de coração, respeitando, servindo e amando também os ingratos, os inimigos e aos invejosos, sem nunca abandonar seus votos religiosos.

No período da guerra dos 10 anos (1868-1878) mostrou-se cheio de coragem, na custódia dos que tinha a seu cuidado, sempre prudente e sem rancor, trabalhando em favor de todos, mas com preferência pelos mais fracos e pobres, pelos anciãos, órfãos e escravos. Cedeu ante as exigências das autoridades militares de converter o centro em hospital de sangue para seus soldados, mas sem deixar de seguir acolhendo os mais necessitados dos civis, sem fazer distinções de ideologia, raça nem religião.

Durante os momentos e situações mais difíceis dos conflitos bélicos, ainda pondo em perigo sua própria existência, com “doce firmeza”, socorria assistindo aos prisioneiros e feridos da guerra, sem ter em conta sua proveniência social ou política, defendendo inclusive aos que não tinham permissão do governo para que os curasse, não se deixando intimidar com ameaças, nem proibições, e obtendo por tudo isso o respeito e a consideração das próprias autoridades militares.

Ante as autoridades também foi capaz de interceder em favor da população de Camagüey num momento de especial tensão e perigo, evitando um massacre civil. Perseverante na vocação, através de sua bondade doce e serena fez do quarto voto de Hospitalidade, próprio dos religiosos de São João de Deus, não só um ministério de amor e serviço para com os enfermos, mas um modo de ardente apostolado, destacando-se na assistência aos moribundos e agonizantes, aos quais acompanhava nas últimas horas de sua existência, na passagem para uma vida melhor. Distinguiu-se, pois, sempre por sua infinita bondade, sendo chamado com os apelativos de “apóstolo da caridade” e “pai dos pobres”, que sintetizam perfeitamente o heroico testemunho do Beato Olallo.

Modesto, sóbrio, sem aspirações de nenhum gênero, mas sim de estar consagrado unicamente a seu ministério misericordioso, renunciou ao sacerdócio e se caracterizou por seu espírito humanitário e competência sanitária, inclusive como médico-cirurgião, ainda que autodidata. Viveu longe das aclamações, recusando as honras para poder fixar seu olhar somente sobre Jesus Cristo, que encontrava no rosto dos que sofriam.

Sua humildade, em fidelidade a seu carisma, se manifestou na renúncia ao sacerdócio, quando foi convidado por seu Arcebispo, porque sua vocação era o serviço dos enfermos e pobres; os testemunhos, finalmente, nos falam de fidelidade total a sua consagração como religioso na prática dos votos de obediência, castidade, pobreza e hospitalidade.
Sua morte, ocorrida em sete de março de 1889, foi tida como a “morte de um justo. Desde então seu túmulo será visitado continuamente. Havia morrido, mas permanecerá vivo no coração do povo, que o seguirá chamando “Pai Olallo”.

A popular fama de santidade que o rodeava nascia de sua vida de homem modesto, justo e de ânimo generoso, enquanto modelo de virtudes com um coração ardente de amor por “meus irmãos prediletos”: sóbrio, gozoso, afável, mas sobretudo excelso servidor da caridade. O Beato Olallo soube ser um fiel imitador de seu Fundador. Deus foi sua vida e, em consequência, iluminado pelo amor de Deus, devolveu da mesma maneira tanto amor. “Deus ocupou o primeiro posto em suas intenções e em suas obras: fixos seus olhos no bem levava a Jesus constantemente na alma”.

Esta heroica caridade tinha sua base numa fé que reconhecia em “Deus a seu próprio pai, e em Jesus o centro de sua vida, o fundamento de seu serviço de amor e de sua misericórdia; Jesus crucificado foi o segredo de sua fidelidade ao amor de Deus que motivava cada uma de suas obras”. Sendo de espírito tenaz, foi sempre dócil aos desígnios de Deus para enfrentar e sustentar melhor as duras e quotidianas tarefas impostas pelo trabalho hospitaleiro e as situações difíceis e delicadas que comportavam riscos para sua própria vida, sempre tratando de obter o bem de seus enfermos.

A cerimônia de Beatificação do Padre Olallo Valdés teve lugar na cidade de Camagüey, Cuba, em 29 de novembro 2008, presidida por Sua Eminência o Cardeal José Saraiva Martins.


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