Antes de mais, o beato Giácomo Cusmano, médico e
sacerdote. Ele, para curar as chagas da pobreza e da miséria que afligiam
grande parte da população por causa de frequentes carestias e epidemias, mas
também de uma desigualdade social, escolheu o caminho da caridade: amor de Deus
que se traduzia no amor efetivo para com os irmãos e no dom de si aos mais
necessitados e sofredores, por meio de um serviço levado até ao sacrifício
heroico.
Depois de ter aberto uma primeira "Casa dos
pobres", iniciou uma obra mais vasta de promoção social, instituindo a
"Associação para a distribuição de comida ao Pobre", que foi como o
grão de mostarda do qual surgiria uma planta tão viçosa. Ao fazer-se pobre com
os pobres, não se envergonhou de mendigar pelas ruas de Palermo, solicitando a
caridade de todos e recolhendo víveres que depois distribuía aos inúmeros
pobres que o circundavam.
A sua obra, como todas as obras de Deus, encontrou
dificuldades que puseram à dura prova a sua vontade, mas com a sua imensa
confiança em Deus e com a sua invicta fortaleza de alma superou todos os
obstáculos, dando origem ao Instituto das "Irmãs Servas dos Pobres",
e à "Congregação dos Missionários Servos dos Pobres".
Ele orientou os seus filhos e as suas filhas espirituais
para o exercício da caridade na fidelidade aos conselhos evangélicos e na
tendência para a santidade. As suas regras e as suas cartas espirituais são
documentos de sabedoria ascética em que se harmonizam fortaleza e suavidade. A
ideia central era esta: "Viver na presença de Deus e em união com Deus;
receber tudo das mãos de Deus; fazer tudo por puro amor e glória de Deus".
Este magnífico "Servo dos Pobres" desgastou-se
nos exercícios de uma caridade que ia crescendo cada vez mais até tocar
vértices heroicos. Com o início de uma nova epidemia de cólera em Palermo, como
nenhum outro ele esforçou-se por estar, em todos os momentos, junto dos seus
pobres. "Senhor, repetia ele, atingi o pastor e poupai o
rebanho". Por causa desta epidemia a sua saúde debilitou-se
gravemente e, com apenas 54 anos, consumava o seu holocausto, entregando com
todo o amor a sua alma àquele Deus, cujo nome é Amor.
Papa João Paulo II - Homilia de Beatificação - 30 de
outubro de 1983.
Tocado pelo amor e
pela misericórdia de Deus, o Padre Giácomo deixou tudo para dedicar-se aos
pobres. A sua piedade exprimiu-se na devoção à Santíssima Trindade, ao Sagrado
Coração de Jesus, além da piedade eucarística, da qual nasceu a ideia
do Boca do Pobre, e da piedade mariana, na qual chamava
Maria Mãe da Misericórdia.
Entre suas virtudes
poderíamos citar a caridade, a humildade e a mansidão. O Santo Padre Papa São
João Paulo II o beatificou, na Praça de
São Pedro, no Vaticano, a 30 de outubro de 1983.Giácomo nasceu em Palermo no dia 15 de março de 1834. Foi o quarto filho do casal Giácomo Cusmano e Madalena Patti, que tiveram outros quatro filhos.
Aos 03 anos de idade perdeu
sua mãe, vítima do cólera, passando a ser cuidado pela irmã mais velha,
Vicenzina, juntamente com uma tia. Desde pequeno ele tinha um grande amor pelos
pobres.
Aos 15 anos, sua ânsia em
ser missionário o levou tentar fugir junto com o superior dos jesuítas de navio
para terras distantes. Na continuidade dos estudos, praticava seu apostolado
entre seus companheiros. Tendo concluído seus estudos de Medicina, se formou ao
21 anos de idade. Como médico, era muito bom e atencioso, sendo que, quando era
chamado, deixava tudo para acorrer ao leito de qualquer enfermo, a qualquer
hora.
No ano de 1859 o jovem
Cusmano foi invadido por dúvidas vindo a perceber que não era aquele caminho
que deveria seguir, pois Deus o chamava para algo mais. Foi então que ele
procurou Monsenhor Domenico Turano, que o aconselhou a uma vida de oração mais
intensa.
Com o passar do tempo,
Giácomo foi pedir a bênção a Monsenhor Turano para fazer parte dos Capuchinhos,
como um frade mendicante, mas o guia espiritual lhe mostrou outro caminho: o
sacerdócio.
O jovem sentia-se indigno do
sacerdócio e recusava aquele apelo de Deus. Entretanto, o confessor dizia-lhe o
contrário e o chamado de Deus acabou vencendo a recusa do jovem Cusmano, que em
1859 vestiu o hábito na Paróquia São Tiago, inscrevendo-se na Congregação
Clerical de Maria Santíssima do Fervor.
Foi ordenado sacerdote aos
22/12/1860.
Em poucas palavras traçou o
programa de sua vida, ao qual se mostrou sempre fiel: “Encarnar Cristo em mim mesmo,
dar e dar-me, como Ele, para o alívio dos corpos e para a redenção das almas”.
Assim, Pe. Giácomo uniu-se
aos Recordantes, cuja missão era assistência aos moribundos, e rejeitou o
ofício de Pároco em São Giuseppe Jato, aceitando ser o capelão da Igreja dos
Santos Quarenta Mártires, no bairro Casaletto. Entretanto, ele pensava na
fundação de uma obra que pudesse irmanar ricos e pobres. Certo dia, na hora do almoço na casa do amigo de Franchis, viu que a
família dele tirava um pouco de comida do prato de cada um para pôr em outro
prato que depois seria dado a um pobre. Daí surgiu a ideia do "Boccone del Povero".
Em 1866 a situação na
Sicília voltou a complicar-se. Houve uma intensa rebelião popular, a supressão
das comunidades religiosas e a cólera devastou a cidade de Palermo. A situação
era alarmante: fome, doenças etc. Nesse
período uma cena chocou Pe. Giácomo: ao entrar numa casa viu uma família se
alimentando de um cão cru para matar a fome.
O Beato Giacomo Cusmano
fazendo a coleta do Bocado do Pobre em Palermo Pe. Giácomo começou a contar com
a ajuda de leigos e mais de vinte padres. Em 1868 o Arcebispo Naselli instituiu
canonicamente a obra sob o titulo de "Boccone del Povero", sendo que
a solene inauguração deu-se em 10/01/1869. Proposta pelo Arcebispo Naselli, se
fez depois inserir no livro de associação do Bocado uma estampa de Jesus em
atitude amorosamente suave, de um lado acolhendo os pobres e, de outro, as
ofertas dos ricos, feliz como se a ele mesmo fossem dadas.
Pe. Giácomo, por sua vez, se
fez pobre entre os pobres, cedendo o seu próprio apartamento e indo morar em um
cubículo; frequentemente ele também se improvisava como marceneiro, alfaiate, sapateiro,
fazendo os mais humildes serviços.
Em 1874 obteve o Convento e
a Igreja de São Marcos, transferindo para lá os órfãos. Com as dificuldades Pe. Giácomo pensava em entregar a sua obra para que
alguma Congregação a mantivesse; no entanto, por esse período, Pe. Giácomo teve
um sonho misterioso no qual apareceu Nossa Senhora abençoando a obra e dando
forças para ele prosseguir seu caminhar: sua obra era uma obra de Deus!
Assim, em 23/05/1880, Festa
da Santíssima Trindade, receberam o hábito seis noviças, às quais Pe. Giácomo
chamou de "Servas dos Pobres”.
Em 1882, acompanhado pela
irmã e outras cinco religiosas, Pe. Giácomo chegou a Agrigento para cuidar de um
orfanato, o qual se encontrava em uma situação horrível. As 30 órfãs da Quinta
Casa ocuparam um novo edifício localizado em Terre Rosse, o qual seria um
orfanato feminino. Depois, ele partiu com mais oito irmãs para Valguarnera
Caropepe, para uma nova fundação.
Em 1884, Pe. Giácomo
entregou o hábito aos primeiros Irmãos Servos dos Pobres, para cuidarem
dos órfãos e auxiliarem a obra. Em 1885, a cidade de Palermo foi vítima
novamente do cólera e Pe. Giácomo não dormia bem, sempre preocupado com as
casas da obra. As carroças carregadas de madeiras e outros materiais de
construção começaram a chegar a São Giuseppe Jato, na colônia agrícola da
família do Pe. Giácomo. Tendo sido terminada a construção, recebeu ali os
primeiros pobres. Em janeiro de 1886, foi inaugurada a casa de Canicatti, onde
as irmãs, entre elas Madre Vicenzina, foram recebidas acompanhadas pelo Pe.
Boscarini.
Depois de ver que toda a sua
obra alcançara êxito e que tudo provinha de Deus, Pe. Giácomo exclamou a
09/02/1888 que a sua missão estava terminada. Aos 17/02 começou a
enfraquecer-se por febre e, a partir daí, foi só sofrimento e cada vez mais a
sua doença ia aumentando. No dia 13/03, os médicos o examinaram e
consideraram-no curado. Entretanto, às quatro horas da manhã do dia 14/03/1888
Pe. Giácomo veio a falecer santamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário