quarta-feira, 8 de março de 2017

08 de março - São João de Deus

João Ciudad Duarte nasceu no dia 08 de março de 1495 em Montemor-o-novo, perto de Évora, Portugal. Seu pai era vendedor de frutas na rua. Da sua infância sabemos apenas que, João, aos oito anos fugiu ou foi raptado por um viajante, que se hospedou em sua casa. Depois de vinte dias, sua mãe não resistiu e morreu. O pai acabou seus dias no convento dos franciscanos, que o acolheram.

Enquanto isso, João foi a pé para a Espanha rumo à cidade de Madrid, junto com mendigos e saltimbancos. Nos arredores de Toledo, o viajante o deixou aos cuidados de um bom homem, Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, conhecido por sua caridade. Foi nessa época que ganhou o apelido de João de Deus, porque ninguém sabia direito quem era ou de onde vinha.

Por seis anos Francisco o educou como um filho, ao lado de sua pequenina filha. Dos catorze anos até os vinte e oito João trabalhou e viveu como um pastor de ovelhas. E quando Francisco decidiu casá-lo com sua filha, de novo ele fugiu, começando sua vida errante.

Alistou-se como soldado de Carlos V e participou da batalha de Paiva, contra Francisco I. Vitorioso, abandonou os campos de batalha e ganhou o mundo. Viajou por toda a Europa, foi para a África, trabalhou como vendedor ambulante em Gibraltar. Então, qual filho pródigo, voltou à sua cidade natal, onde ninguém o reconheceu, pois os pais já tinham falecido; novamente rumou à Espanha, onde abriu uma livraria em Granada.

Nessa cidade, em 1538, depois de ter ouvido um inflamado sermão proferido por São João d’Ávila, arrependido dos seus pecados e tocado pela graça, saiu correndo da igreja, e gritou: “misericórdia, Senhor, misericórdia”.

Todos riram dele, mas João de Deus não se importou. Distribuiu todos os seus bens aos pobres e começou a fazer rigorosas penitências. Tomado por louco foi internado num hospital psiquiátrico, onde foi tratado desumanamente. Depois de ter experimentado todas as crueldades que aí se praticavam e orientado por João d’Ávila decidiu fundar uma casa-hospitalar, para tratar os loucos. Criou assim uma nova Ordem religiosa, a dos Irmãos Hospitaleiros.

Seu desejo impulsivo de ajudar salvou muita gente numa certa emergência. Soou o alarme de que o Hospital Real estava a arder. Tendo largado tudo para se dirigir ao local, constatou que a multidão apenas estava a assistir ao hospital – e seus doentes – a serem consumidos pelas chamas. Correu para o edifício em chamas e carregou ou ajudou os doentes a sair. Quando todos os doentes estavam a salvo, começou a atirar cobertores, lençóis e colchões pelas janelas – quão bem sabia, pelo seu difícil trabalho, como eram importantes estes objetos. Nesse momento, foi trazido um canhão para destruir a parte em chamas do edifício de modo a salvar o resto. João pediu-lhes que parassem, subiu ao telhado, tendo separado com um machado a parte em chamas. Conseguiu, mas acabou por cair do telhado em chamas. Todos pensaram que teriam perdido o seu herói, até que João de Deus apareceu miraculosamente de entre a fumaça.
Por esta razão, João de Deus é também o Santo Padroeiro dos bombeiros.

Ao todo foram mais de oitenta casas-hospitalares fundadas, para abrigar loucos e doentes terminais. Para cuidar deles, usava um processo todo seu, sendo considerado o precursor do método psicanalítico e psicossomático, inventado quatro séculos depois por Freud e seus discípulos. João de Deus, que nunca se formou em medicina, curava os doentes mentais utilizando a fé e sua própria experiência. Partia do princípio de que curando a alma, meio caminho havia sido trilhado para curar o corpo. Ele sentia a dualidade da situação do doente, por tê-la vivenciado dessa maneira. Foi pioneiro na história da humanidade ao separar os doentes por patologia e ao dar um leito para cada paciente.

João de Deus sentia-se pertencer ao mundo dos loucos e ao mundo dos pecadores e indignos e, por isso, se motivou a trabalhar na dignificação, reabilitação e inserção de ambas as categorias. Um modelo de empatia e convicções profundas tão em falta, que várias instituições seguiram sua orientação nesse sentido, tempos depois e ainda hoje.

Depois, João de Deus e seus discípulos passaram a atender todos os tipos de enfermos. Seu mote era: “fazei o bem, irmãos, para o bem de vós mesmos”. No dia 8 de Março de 1550, de joelhos, entregou a sua alma a Deus. Tinha nas mãos um crucifixo. Morreu como tinha vivido: de joelhos perante Deus, abraçando a cruz redentora de Cristo.
Foi canonizado pelo Papa Leão XIII que o proclamou padroeiro dos hospitais, dos doentes e de todos aqueles que trabalham pela cura dos enfermos.

Hoje a Ordem Hospitaleira São João de Deus, é um instituto religioso, internacional, com sede em Roma, composto de homens que por amor a Deus se consagram à hospitalidade misericordiosa para com os doentes e necessitados em quarenta e cinco países dos cinco continentes.

Algumas Histórias:
- Ocorreu que um homem, desconfiado de João de Deus e da "loucura" com que dizia levar a sua vida - porque para muitos, tratava-se de verdadeira loucura abandonar a própria vida em favor dos outros - quis testar a João de Deus para saber se ele realmente usava as esmolas que conseguia para cuidar dos pobres.
Ao ver João de Deus aproximar-se pelo caminho, deu-lhe uma esmola. Saiu dali apressadamente, vestiu-se de mendigo a fim de lhe testar a caridade e foi para a beira do caminho solicitar ajuda a São João de Deus. Qual não foi a surpresa do homem quando João de Deus tirou dos bolsos tudo o que tinha e entregou-lhe tudo sem hesitar. Com isso, o homem converteu-se, aderiu a causa do Santo e passou a ser Colaborador de sua obra.

- Certo dia, chegando João de Deus a casa de um rico, percebeu ele que as janelas de sua casa possuíam belas cortinas. Todas elas aveludadas e grossas.
É sabido que na Espanha, assim  como em toda Europa, os invernos são muito rigorosos e milhares de pessoas acabavam morrendo de frio por serem muito pobres. Os mesmos pobres os quais cuidava São João de Deus.
Observando aquilo, João de Deus disse ao homem que enquanto as janelas de sua casa eram cobertas por cortinas luxuosas, com tecidos finos, os seus pobres morriam de frio por falta de roupas.
O homem sentiu-se tão envergonhado com tal comentário, que mandou que fossem retiradas todas as cortinas da casa e serem entregues a João de Deus.

Ao recebê-las, João de Deus agradeceu-lhe. E imediatamente perguntou ao homem se não gostaria de comprar as tais cortinas, pois estava precisando de dinheiro para os pobres.

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