No segundo
Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro
discípulo deve seguir: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos,
da obediência total e radical aos planos do Pai.
O Evangelho
relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo
Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de
Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através
do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho
do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o,
vós também.
Na primeira
leitura apresenta-se a figura de Abraão. Abraão é o homem de fé, que vive numa
constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que aceita os apelos de
Deus e que lhes responde com a obediência total e com a entrega confiada. Nesta
perspectiva, ele é o modelo do crente que percebe o projeto de Deus e o segue
de todo o coração.
Na segunda
leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma
verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projeto de Deus no mundo.
Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o
discípulo dessa responsabilidade.
A narração
da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus.
Portanto, o autor do relato vai colocar no quadro que descreve todos os
ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e
que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo
Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem
e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino.
Isto quer dizer o seguinte: não estamos diante de um relato fotográfico de
acontecimentos, mas de uma catequese (construída de acordo com o imaginário
judaico) destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos
homens um projeto que vem de Deus.
Recorrendo
a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que Jesus é o Filho
amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é, também, esse
Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés)
e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: ele é um novo Moisés – isto é, aquele
através de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a nova lei e através de quem Deus
propõe aos homens uma nova aliança.
A questão
fundamental expressa no episódio da transfiguração está na revelação de Jesus
como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e libertador
do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de si
próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus demonstra aos crentes de
todas as épocas e lugares que uma existência feita dom não é fracassada – mesmo
se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera, no final do caminho,
todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos
irmãos.
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