Jesus, vendo a multidão que o seguia, sobe à suave encosta que rodeia o lago da Galileia, senta-se e, dirigindo-se aos discípulos, anuncia as bem-aventuranças. Portanto, a mensagem é dirigida aos discípulos, mas no horizonte está a multidão, ou seja, toda a humanidade. É uma mensagem para toda a humanidade.
Além disso, a “montanha” faz recordar o Sinai,
onde Deus entregou os Mandamentos a Moisés. Jesus começa a ensinar uma nova
lei: ser pobre, ser manso, ser misericordioso... Estes “novos mandamentos” são
muito mais que normas. De fato, Jesus nada impõe, mas revela o caminho da
felicidade — o seu caminho — repetindo a palavra “felizes” oito
vezes.
Cada Bem-aventurança compõe-se de três partes.
Inicia sempre com a palavra “felizes”; depois vem a situação na
qual os felizes se encontram: pobreza de espírito, aflição, fome e sede de
justiça, e assim por diante; por fim há o motivo da bem-aventurança,
introduzido pela conjunção “porque”: “Felizes estes porque, felizes aqueles
porque...” Assim as Bem-aventuranças são oito e seria bom aprendê-las de cor
para as repetir, a fim de ter na mente e no coração esta lei que Jesus nos deu.
Prestemos atenção a este fato: o motivo da
bem-aventurança não é a situação atual, mas a nova condição que os
bem-aventurados recebem como dom de Deus: “porque deles é o reino do céu”,
“porque serão consolados”, “porque possuirão a terra”, e assim por diante.
No terceiro elemento, que é precisamente o
motivo da felicidade, Jesus usa muitas vezes um futuro passivo: “serão
consolados”, “possuirão a terra”, “serão saciados”, “alcançarão a
misericórdia”, “serão chamados filhos de Deus”.
Mas o que significa a palavra “feliz”? Por
que começa cada uma das oito Bem-aventuranças com a palavra “feliz”? O termo
original não indica alguém que tem a barriga cheia ou está bem na vida, mas é
uma pessoa que está em condição de graça, que progride na graça de Deus e no
caminho de Deus: a paciência, a pobreza, o serviço aos outros, a consolação...
Quantos progridem nestes aspectos são felizes e serão bem-aventurados.
Deus, para se doar a nós, escolhe muitas vezes
caminhos impensáveis, talvez os dos nossos limites, das nossas lágrimas, das
nossas derrotas. É a alegria pascal da qual falam os nossos irmãos orientais,
aquela que tem os estigmas, mas está viva, atravessou a morte e experimentou o
poder de Deus. As Bem-aventuranças conduzem-nos à alegria, sempre; são o
caminho para alcançar a alegria.
Papa Francisco – 29 de janeiro
de 2020.
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