Segundo a narração da Bíblia, no cume da criação surge a mulher, quase como compêndio de toda a obra criada. De fato, encerra em si mesma a finalidade da própria criação: a geração e a conservação da vida, a comunhão com tudo, a solicitude por tudo. É o que faz Nossa Senhora no Evangelho de hoje. “Maria – conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração”. Conservava tudo: a alegria pelo nascimento de Jesus e a tristeza pela hospitalidade negada em Belém; o amor de José e a admiração dos pastores; as promessas e as incertezas quanto ao futuro. Interessava-se por tudo e, no seu coração, tudo reajustava, incluindo as adversidades. Pois, no seu coração, tudo organizava com amor e confiava tudo a Deus.
No Evangelho, esta atividade de Maria reaparece
uma segunda vez: na adolescência de Jesus, diz-se que a sua mãe guardava todas
estas coisas no seu coração. Esta repetição faz-nos compreender que o gesto de
guardar no coração não era simplesmente um ato bom que Nossa Senhora realizava
de vez em quando, mas é um hábito d’Ela. É próprio da mulher tomar a peito a
vida. A mulher mostra que o sentido da vida não é produzir coisas em
continuação, mas tomar a peito as coisas que existem.
Só vê bem quem olha com o coração, porque sabe ver
dentro: a pessoa independentemente dos seus erros, o irmão independentemente
das suas fragilidades, a esperança nas dificuldades; vê Deus em tudo.
Podemos nos perguntar: Sei olhar com o coração?
Sei olhar as pessoas, com o coração? Tenho a peito as pessoas com quem vivo, ou
arruíno-as com as bisbilhotices? E sobretudo, no centro do coração, tenho o
Senhor ou outros valores, outros interesses, a minha promoção, as riquezas, o
poder?
Papa Francisco – 01 de
janeiro de 2020
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