“A Mãe de Deus é o modelo e a figura da Igreja,
na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava
santo Ambrósio”. Lumen Gentium
Comecemos a
partir do primeiro aspecto: Maria, como modelo de fé. Em que
sentido Maria representa um modelo para a fé da Igreja? Pensemos em quem era a
Virgem Maria: uma jovem judia que, com todo o seu coração, esperava a redenção
do seu povo. Mas naquele coração de jovem filha de Israel havia um segredo, que
Ela mesma ainda não conhecia: no desígnio de amor de Deus, estava destinada a
tornar-se a Mãe do Redentor. Na Anunciação, o Mensageiro de Deus chama-lhe “cheia
de graça”, revelando-se este desígnio. Maria responde “sim” e, a partir daquele
momento, a fé de Maria recebe uma luz nova: concentra-se em Jesus, o Filho de
Deus que dela recebeu a carne e em quem se realizam as promessas de toda a
história da salvação. A fé de Maria é o cumprimento da fé de Israel, pois
nela está concentrado precisamente todo o caminho, toda a senda daquele povo
que esperava a redenção, e neste sentido Ela é o modelo da fé da Igreja, que
tem como fulcro Cristo, encarnação do amor infinito de Deus.
Como viveu Maria
esta fé? Viveu-a na simplicidade dos numerosos trabalhos e preocupações de cada
mãe, como prover a comida, a roupa, os afazeres de casa... Precisamente esta
existência normal de Senhora foi o terreno onde se desenvolveram uma relação
singular e um diálogo profundo entre Ela e Deus, entre Ela e o seu Filho. O “sim”
de Maria, já perfeito desde o início, cresceu até à hora da Cruz. Ali a sua
maternidade dilatou-se, abarcando cada um de nós, a nossa vida, para nos
orientar rumo ao seu Filho. Maria viveu sempre imersa no mistério do Deus que
se fez homem, como sua primeira e perfeita discípula, meditando tudo no seu
coração, à luz do Espírito Santo, para compreender e pôr em prática toda a
vontade de Deus.
Podemos
interrogar-nos: deixamo-nos iluminar pela fé de Maria, que é nossa Mãe? Ou então pensamos que Ela
está distante, que é demasiado diversa de nós? Nos momentos de dificuldade, de
provação, de obscuridade, olhamos para Ela como modelo de confiança em Deus que
deseja, sempre e somente, o nosso bem? Pensemos nisto, talvez nos faça bem
voltar a encontrar Maria como modelo e figura da Igreja nesta fé que Ela tinha!
Venhamos ao
segundo aspecto: Maria, modelo de caridade. De que modo
Maria é para a Igreja exemplo vivo de amor? Pensemos na sua disponibilidade em
relação à sua prima Isabel. Visitando-a, a Virgem Maria não lhe levou apenas
uma ajuda material — também isto — mas levou-lhe Jesus, que já vivia no seu
ventre. Levar Jesus àquela casa significava levar o júbilo, a alegria completa.
Isabel e Zacarias estavam felizes com a gravidez, que parecia impossível na sua
idade, mas é a jovem Maria que lhes leva a alegria plena, aquela que vem de
Jesus e do Espírito Santo e que se manifesta na caridade gratuita, na partilha,
no ajudar-se, no compreender-se.
Nossa Senhora
quer trazer também a nós, a todos nós, a dádiva grandiosa que é Jesus; e com Ele
traz-nos o seu amor, a sua paz e a sua alegria. Assim a Igreja é como Maria: a
Igreja não é uma loja, nem uma agência humanitária; a Igreja não é uma ONG, mas
é enviada a levar a todos Cristo e o seu Evangelho; ela não leva a si mesma —
seja ela pequena, grande, forte, ou frágil, a Igreja leva Jesus e deve ser
como Maria, quando foi visitar Isabel. O que lhe levava Maria? Jesus. A Igreja
leva Jesus: este é o centro da Igreja, levar Jesus! Se, por hipótese, uma
vez acontecesse que a Igreja não levasse Jesus, ela seria uma Igreja morta! A
Igreja deve levar a caridade de Jesus, o amor de Jesus, a caridade de Jesus.
Falamos de Maria,
de Jesus. E nós? Nós que somos a Igreja? Qual é o amor que levamos aos
outros? É o amor de Jesus que compartilha, perdoa e acompanha, ou então é
um amor diluído, como se dilui o vinho que parece água? É um amor forte ou
frágil, a ponto de seguir as simpatias, procurar a retribuição, um amor
interesseiro? Outra pergunta: Jesus gosta do amor interesseiro? Não, não gosta,
porque o amor deve ser gratuito, como o seu. Como são as relações nas nossas
paróquias, nas nossas comunidades? Tratamo-nos como irmãos e irmãs? Ou
julgamo-nos, falamos mal uns dos outros, cuidamos cada um dos próprios
«interesses», ou prestamos atenção uns dos outros? São perguntas de caridade!
E, brevemente, um
último aspecto: Maria, modelo de união com Cristo. A vida da
Virgem Santa foi a existência de uma mulher do seu povo: Maria rezava,
trabalhava, ia à sinagoga... Mas cada gesto era realizado sempre em união perfeita
com Jesus. Esta união alcança o seu apogeu no Calvário: aqui Maria une-se ao
Filho no martírio do coração e na oferenda da sua vida ao Pai, para a salvação
da humanidade. Nossa Senhora fez seu o sofrimento do Filho, aceitando com Ele a
vontade do Pai naquela obediência fecunda, que confere a vitória genuína sobre
o mal e a morte.
É muito bonita
esta realidade que Maria nos ensina: estarmos sempre unidos a Jesus. Podemos
perguntar: recordamo-nos de Jesus só quando algo não funciona e temos necessidades,
ou a nossa relação é constante, uma amizade profunda, mesmo quando se trata de
o seguir pelo caminho da cruz?
Peçamos ao Senhor
que nos conceda a sua graça, a sua força, a fim de que na nossa vida e na
existência de cada comunidade eclesial se reflita o modelo de Maria, Mãe da
Igreja. Assim seja!
Papa Francisco – 23 de
outubro de 2013
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