Beato Donizetti Tavares de Lima
Donizetti Tavares de Lima nasceu em Santa Rita
de Cássia (hoje Cássia), no estado de Minas Gerais, em 3 de janeiro de 1882,
quinto dos dezesseis filhos de Tristão, advogado e Chichina, professora. Quando
criança, ele se mudou com sua família para o estado de São Paulo.
Tendo vivido um período complexo na
história do Brasil, esse zeloso ministro de Deus se destaca como pastor
integral de almas, que no decorrer de sua vida sacerdotal foi guiado pelo amor
de Deus e do próximo. Como
pároco, ele não se poupou no serviço do seu povo: ninguém foi excluído de sua
atenção, pois todos os homens como filhos de Deus eram iguais, ele não olhou
para a cor da pele, a cultura, a fé. Profundo conhecedor das encíclicas
sociais do Papa Leão XIII, ele foi precursor dos direitos humanos, contra a exploração
desenfreada imposta pelos interesses econômicos, que esmagam a pessoa
humana. Ele demonstrou coragem indomável na defesa da justiça social,
defendeu os pobres, os doentes e os trabalhadores e denunciou destemidamente os
abusos e irregularidades que ocorreram na sociedade; ao mesmo tempo,
procurou chegar a um acordo entre os parceiros sociais em conflito. Desafiando a
oposição e a perseguição, às vezes até em risco de vida, ele pregou abertamente
em defesa dos pobres, bem como pela abolição da escravidão e pela promoção
humana e cristã dos marginalizados. Em todas essas criaturas sofredoras,
ele viu o rosto de Cristo; por esse motivo, lutou contra toda discriminação
social e racial.
Em sua intenção de promoção humana e religiosa
do povo, dedicou-se cuidadosamente aos problemas da família: fundou a
associação de maternidade e infância e numerosos trabalhos de assistência
social, em particular para doentes e idosos; ele tentou fornecer aos
pobres: medicamentos, alimentos e roupas; construiu um hospício para os
necessitados, um abrigo para tuberculosos, uma revenda de alimentos
baratos; ele enviou jovens para estudar, instruindo aqueles que não podiam
frequentar escolas públicas por causa da pobreza de suas famílias. Sempre
provou ser refratário à carreira eclesiástica, prestígio e qualquer vantagem
econômica; viveu com grande austeridade, sempre dedicado ao bem do rebanho
de Cristo que lhe foi confiado.
Mas onde ele encontrou tanta energia para viver
uma missão tão vasta e extraordinária? Primeiro de tudo na
oração. Testemunhas relatam que ele orou muito, celebrado com fervor,
muitas vezes parou em adoração diante da Santíssimo Sacramento. Ele também
tinha uma devoção filial a Nossa Senhora, venerada como Nossa Senhora Aparecida. Diante
das graças espirituais e da ajuda celestial que obteve com sua oração, ele
adorava repetir: "Não sou nada, mas posso obter de Deus através de
Nossa Senhora"
O testemunho cristão e sacerdotal do Beato
Donizetti é um estímulo para enfrentar, à luz da mensagem do Evangelho e de
acordo com os ensinamentos da Igreja, a sociedade hoje marcada por uma profunda
crise social, cultural e moral, que afeta a herança dos valores da Igreja.
aldeia global inteira, necessitando da luz do Evangelho. Precisamos de
padres que são "evangelho vivo", animados pelo forte desejo de ser
homens totalmente dedicados ao serviço do Reino de Deus e de pastores que, como
o Santo Padre Francisco gosta de repetir, têm cheiro de ovelha, ou seja, que se
sentem plenamente envolvidos na vida de fé de seu povo. Isso será possível
se, no exemplo de Don Donizetti, todos os dias eles encontrarem na oração a
fonte de serem sacerdotais.
Ao mesmo tempo, pedimos que os leigos se
esforcem para ser protagonistas da vida eclesial em comunhão com os pastores,
na consciência de que, como São Paulo nos lembrou na segunda leitura, apesar da
diversidade de carismas e ministérios, todos os discípulos de Jesus parte de um
único corpo, a Igreja, e cada um por sua parte contribui para a mesma.
Cardeal Angelo Becciu - Homilia de Beatificação em 23 de novembro de
2019
Amor a Deus e a Nossa Senhora: Padre Donizetti pregava a Nosso Senhor Jesus Cristo e atribuía toda a sua ação evangelizadora à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, cuja réplica ele carregava consigo. Tudo que ele pedia para a Mãe de Deus, o Redentor escutava e ele sempre dizia que tudo o que fazia era em nome de Deus e da Virgem Maria. Assim que assumiu a paróquia, Padre Donizetti encomendou a réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida para colocar na Igreja Matriz de Santo Antônio. Em 1929, um incêndio provocado por um curto circuito destruiu completamente a igreja. Das 23 imagens que havia no local, restou intacta apenas a imagem da padroeira do Brasil, retirada do incêndio pelo padre Donizetti. Diante do fato, o padre prometeu construir um santuário para a Virgem Santíssima. Seu desejo, porém, só foi concretizado após sua morte, aos 79 anos.
Padre Donizetti era um homem de muita fé. Ele
abençoava o povo em nome de Deus que concedia o dom de vários milagres, que
levava como consequência que as pessoas tivessem uma conversão radical e uma
mudança de vida conforme a vontade de Deus e o que pedem os santos evangelhos.
Dedicava muitas horas de seu dia à oração. Até mesmo nos momentos em que
atendia às confissões dos fiéis, o fazia em espírito de penitência, de
renúncia, de sacrifício e de profunda oração.
O estilo de vida do Padre Donizetti era de uma austeridade muito grande. O
religioso fez voto de pobreza desde sua ordenação sacerdotal e a única coisa
que dizia possuir eram livros. Para ele, a evangelização só alcançava seus
frutos através da penitência. Exerceu seu sacerdócio como Jesus, a serviço dos
pobres, dos desprotegidos e dos doentes. Viveu de maneira simples e humilde,
sempre à disposição do povo.
Suas obras testemunham ainda nos dias de hoje
seu desapego e a sua compaixão. Padre Donizetti espalhou por Tambaú diversas
obras sociais, entre elas destacam-se a fundação do asilo São Vicente de Paulo
e da Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Tambaú. Criou também
a Congregação Mariana, a Irmandade das Filhas de Maria e o Círculo Operário
Tambauense.
Seu cuidado com o povo era permanente. Em
tempos que a saúde pública era precaríssima, padre Donizetti, letrado como era,
entrou em contato com o Instituto Butantã, em São Paulo, para que lhe mandassem
soro antiofídico; em troca, ele lhes enviaria as cobras. E o soro chegava a
Tambaú e salvava a vida de várias pessoas que eram picadas pelas cobras (o
próprio sacerdote aplicava em quem precisava). Entre injeções, defesa dos mais
humildes, atenção às crianças, moral ilibada, liderança comunitária, estudos e
leitura cotidianos, música e canto, engajamento político, crescia a percepção
de que ali estava bem mais que um simples pároco de aldeia. Mas a marca do
padre que colocaria Tambaú, efetivamente, no mapa-múndi, estava por vir.
Obediente à Igreja: Padre Donizetti, como todo
santo, foi obediente às autoridades eclesiásticas. Eis o motivo: “Na pequena
Tambaú (cuja população à época era de 15 mil habitantes), alguns moradores já
haviam tido a experiência de receber uma cura pela imposição das mãos e pela
bênção do padre. Mas tudo ficava restrito ao povo do local. Porém, em 1954, o
senhor Marcassa, um comerciante de vinhos de outra cidade, foi curado de uma
dor no joelho. Posteriormente, ele espalhou a notícia do “padre milagroso”, e
os romeiros começaram a afluir. Entre 1954 e 1955, a multidão de romeiros de
vários lugares do país era cotidiana, em busca de curar-se de diversas
enfermidades, do corpo e do espírito; todos aguardavam, ansiosos, a bênção
pública dada pelo padre. Com isso, Tambaú transformou-se, porém tudo
funcionando com precárias condições de higiene. Jornalistas, estudiosos,
curiosos, marreteiros religiosos entupiram as ruas no caminho por onde passavam
aqueles que chegavam à cidade dos milagres de carro, em caminhões pau de arara,
de trem, a cavalo, a pé, de bicicleta e até em pequenos aviões para livrar-se
de seus males. Muitos alcançavam o que buscavam; multidões, porém, retornavam a
seus lugares de origem sem a cura de seus males, mas amparadas pelo vigor
daquele homem de voz poderosa.
Como era de se esperar, não tardou para que os problemas começassem, envolvendo
questões eclesiais, econômicas e políticas. Obedecendo ao pedido do bispo de
São João da Boa Vista, Padre Donizetti anunciou que sua última bênção e os
atendimentos públicos aconteceriam no dia 30 de maio de 1955. E assim foi. Isso
ocorreu com uma chuva de pétalas de rosas, organizada pelo radialista Pedro
Geraldo Costa que transmitia as orações e as bênçãos do padre a milhares de
espectadores. Diante da Capela São José, em palanque na praça, um emocionado
sacerdote mineiro deu a derradeira bênção pública às 20h. No outro dia, após um
longo ano, Tambaú, milagrosamente, amanheceu vazia, sem nenhum romeiro."
Assim
como o Papa emérito Bento XVI, Padre Donizetti recolheu-se em uma vida mais
reclusa, lutando como podia para construir um santuário para Nossa Senhora
Aparecida, a quem ele atribuía a graça dos milagres que aconteceram. Em 16 de
junho de 1961, faleceu o taumaturgo de Tambaú, sem ver o sonho do santuário
concretizado.
O milagre para sua beatificação aconteceu em
Casa Branca (SP), cidade que fica a 36 quilômetros de Tambaú, onde padre
Donizetti trabalhava. Depois de alguns dias do nascimento de Bruno, em 2006, a
mãe dele, Margarete Arruda de Oliveira, percebeu que os pés do bebê eram
tortos. Logo, os médicos constataram a anormalidade de difícil tratamento, com
a possibilidade do uso de gessos, bota ortopédica e realização de cirurgia,
podendo ainda acarretar sequelas. O site dedicado ao Padre Donizetti narra que
Bruno, ao começar a ficar de pé, não conseguia encostar as solas na superfície;
ele pisava com os lados dos pés e tinha as perninhas arqueadas. Em uma noite, a
mãe colocou Bruno de pé sobre a mesa da cozinha e tentou desentortar os
pezinhos dele e fazer com que ficassem retos, mas seus esforços foram em vão.
Então ela começou a chorar e clamou ao Padre Donizetti: “Por favor, Santo Padre
Donizetti, tenha piedade desta vossa filha que vos clama, me ajude: cure o meu
filho, cura os pés dele… Sei que terei um caminho difícil pela frente com esse
tratamento… Intercede por mim junto a Nossa Senhora Aparecida; sei que Ela não
negará um pedido do senhor padre, pois Ela o ama muito, peça a Ela, por favor,
que interceda ao filho Jesus, tal qual nas bodas de Canãa. Padre Donizetti, se
o senhor atender o meu pedido, prometo ir até a sua casa em Tambaú e levar o
sapatinho do meu filho Bruno, para que dê o testemunho do seu poder junto a
Nossa Senhora e Jesus, para que outros que sofrem, possam também pedir ajuda a
vós. Obrigada, essa é minha vontade, mas que seja feita a vontade de Deus sobre
todas as vontades… Amém!” Depois disso, a mãe fez o bebê dormir. No outro dia,
resolveu colocá-lo de pé sobre a mesa novamente. E foi aí que teve a grata
surpresa: “Meu filho pisou com os pés retos e as solas dos pés tocavam a mesa!
Suas pernas ainda continuavam arqueadas, mas, os pés estavam pisando certo.
Chegou o dia da consulta com o ortopedista. Levei meu filho juntamente com o
raio-X e o laudo, e o Dr. José Elias olhava o laudo e examinava os pés do
Bruno, e depois de algum tempo, me disse: “Você acredita em Deus?” Eu disse que
sim, e ele me disse: “Então agradece, porque foi Ele, seu filho não tem nada
nos pés, está normal!”
Padre Donizetti foi beatificado em 23 de
novembro de 2019, às 9h, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Tambaú, SP,
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