terça-feira, 16 de junho de 2020

16 de junho - Beato Donizetti Tavares de Lima

Beato Donizetti Tavares de Lima
Beato Donizetti Tavares de Lima

“Maria, a principal responsável pelo meu chamado à vida religiosa, porque só ela sabe interceder com o Senhor"

Donizetti Tavares de Lima nasceu em Santa Rita de Cássia (hoje Cássia), no estado de Minas Gerais, em 3 de janeiro de 1882, quinto dos dezesseis filhos de Tristão, advogado e Chichina, professora. Quando criança, ele se mudou com sua família para o estado de São Paulo. 

Tendo vivido um período complexo na história do Brasil, esse zeloso ministro de Deus se destaca como pastor integral de almas, que no decorrer de sua vida sacerdotal foi guiado pelo amor de Deus e do próximo. Como pároco, ele não se poupou no serviço do seu povo: ninguém foi excluído de sua atenção, pois todos os homens como filhos de Deus eram iguais, ele não olhou para a cor da pele, a cultura, a fé. Profundo conhecedor das encíclicas sociais do Papa Leão XIII, ele foi precursor dos direitos humanos, contra a exploração desenfreada imposta pelos interesses econômicos, que esmagam a pessoa humana. Ele demonstrou coragem indomável na defesa da justiça social, defendeu os pobres, os doentes e os trabalhadores e denunciou destemidamente os abusos e irregularidades que ocorreram na sociedade; ao mesmo tempo, procurou chegar a um acordo entre os parceiros sociais em conflito. Desafiando a oposição e a perseguição, às vezes até em risco de vida, ele pregou abertamente em defesa dos pobres, bem como pela abolição da escravidão e pela promoção humana e cristã dos marginalizados. Em todas essas criaturas sofredoras, ele viu o rosto de Cristo; por esse motivo, lutou contra toda discriminação social e racial.

Em sua intenção de promoção humana e religiosa do povo, dedicou-se cuidadosamente aos problemas da família: fundou a associação de maternidade e infância e numerosos trabalhos de assistência social, em particular para doentes e idosos; ele tentou fornecer aos pobres: medicamentos, alimentos e roupas; construiu um hospício para os necessitados, um abrigo para tuberculosos, uma revenda de alimentos baratos; ele enviou jovens para estudar, instruindo aqueles que não podiam frequentar escolas públicas por causa da pobreza de suas famílias. Sempre provou ser refratário à carreira eclesiástica, prestígio e qualquer vantagem econômica; viveu com grande austeridade, sempre dedicado ao bem do rebanho de Cristo que lhe foi confiado.

Mas onde ele encontrou tanta energia para viver uma missão tão vasta e extraordinária? Primeiro de tudo na oração. Testemunhas relatam que ele orou muito, celebrado com fervor, muitas vezes parou em adoração diante da Santíssimo Sacramento. Ele também tinha uma devoção filial a Nossa Senhora, venerada como Nossa Senhora Aparecida. Diante das graças espirituais e da ajuda celestial que obteve com sua oração, ele adorava repetir: "Não sou nada, mas posso obter de Deus através de Nossa Senhora"

O testemunho cristão e sacerdotal do Beato Donizetti é um estímulo para enfrentar, à luz da mensagem do Evangelho e de acordo com os ensinamentos da Igreja, a sociedade hoje marcada por uma profunda crise social, cultural e moral, que afeta a herança dos valores da Igreja. aldeia global inteira, necessitando da luz do Evangelho. Precisamos de padres que são "evangelho vivo", animados pelo forte desejo de ser homens totalmente dedicados ao serviço do Reino de Deus e de pastores que, como o Santo Padre Francisco gosta de repetir, têm cheiro de ovelha, ou seja, que se sentem plenamente envolvidos na vida de fé de seu povo. Isso será possível se, no exemplo de Don Donizetti, todos os dias eles encontrarem na oração a fonte de serem sacerdotais.

Ao mesmo tempo, pedimos que os leigos se esforcem para ser protagonistas da vida eclesial em comunhão com os pastores, na consciência de que, como São Paulo nos lembrou na segunda leitura, apesar da diversidade de carismas e ministérios, todos os discípulos de Jesus parte de um único corpo, a Igreja, e cada um por sua parte contribui para a mesma.

Cardeal Angelo Becciu - Homilia de Beatificação em 23 de novembro de 2019

Amor a Deus e a Nossa Senhora: Padre Donizetti pregava a Nosso Senhor Jesus Cristo e atribuía toda a sua ação evangelizadora à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, cuja réplica ele carregava consigo. Tudo que ele pedia para a Mãe de Deus, o Redentor escutava e ele sempre dizia que tudo o que fazia era em nome de Deus e da Virgem Maria. Assim que assumiu a paróquia, Padre Donizetti encomendou a réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida para colocar na Igreja Matriz de Santo Antônio. Em 1929, um incêndio provocado por um curto circuito destruiu completamente a igreja. Das 23 imagens que havia no local, restou intacta apenas a imagem da padroeira do Brasil, retirada do incêndio pelo padre Donizetti. Diante do fato, o padre prometeu construir um santuário para a Virgem Santíssima. Seu desejo, porém, só foi concretizado após sua morte, aos 79 anos.

Padre Donizetti era um homem de muita fé. Ele abençoava o povo em nome de Deus que concedia o dom de vários milagres, que levava como consequência que as pessoas tivessem uma conversão radical e uma mudança de vida conforme a vontade de Deus e o que pedem os santos evangelhos.
Dedicava muitas horas de seu dia à oração. Até mesmo nos momentos em que atendia às confissões dos fiéis, o fazia em espírito de penitência, de renúncia, de sacrifício e de profunda oração.
O estilo de vida do Padre Donizetti era de uma austeridade muito grande. O religioso fez voto de pobreza desde sua ordenação sacerdotal e a única coisa que dizia possuir eram livros. Para ele, a evangelização só alcançava seus frutos através da penitência. Exerceu seu sacerdócio como Jesus, a serviço dos pobres, dos desprotegidos e dos doentes. Viveu de maneira simples e humilde, sempre à disposição do povo.

Suas obras testemunham ainda nos dias de hoje seu desapego e a sua compaixão. Padre Donizetti espalhou por Tambaú diversas obras sociais, entre elas destacam-se a fundação do asilo São Vicente de Paulo e da Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Tambaú. Criou também a Congregação Mariana, a Irmandade das Filhas de Maria e o Círculo Operário Tambauense.

Seu cuidado com o povo era permanente. Em tempos que a saúde pública era precaríssima, padre Donizetti, letrado como era, entrou em contato com o Instituto Butantã, em São Paulo, para que lhe mandassem soro antiofídico; em troca, ele lhes enviaria as cobras. E o soro chegava a Tambaú e salvava a vida de várias pessoas que eram picadas pelas cobras (o próprio sacerdote aplicava em quem precisava). Entre injeções, defesa dos mais humildes, atenção às crianças, moral ilibada, liderança comunitária, estudos e leitura cotidianos, música e canto, engajamento político, crescia a percepção de que ali estava bem mais que um simples pároco de aldeia. Mas a marca do padre que colocaria Tambaú, efetivamente, no mapa-múndi, estava por vir.

Obediente à Igreja: Padre Donizetti, como todo santo, foi obediente às autoridades eclesiásticas. Eis o motivo: “Na pequena Tambaú (cuja população à época era de 15 mil habitantes), alguns moradores já haviam tido a experiência de receber uma cura pela imposição das mãos e pela bênção do padre. Mas tudo ficava restrito ao povo do local. Porém, em 1954, o senhor Marcassa, um comerciante de vinhos de outra cidade, foi curado de uma dor no joelho. Posteriormente, ele espalhou a notícia do “padre milagroso”, e os romeiros começaram a afluir. Entre 1954 e 1955, a multidão de romeiros de vários lugares do país era cotidiana, em busca de curar-se de diversas enfermidades, do corpo e do espírito; todos aguardavam, ansiosos, a bênção pública dada pelo padre. Com isso, Tambaú transformou-se, porém tudo funcionando com precárias condições de higiene. Jornalistas, estudiosos, curiosos, marreteiros religiosos entupiram as ruas no caminho por onde passavam aqueles que chegavam à cidade dos milagres de carro, em caminhões pau de arara, de trem, a cavalo, a pé, de bicicleta e até em pequenos aviões para livrar-se de seus males. Muitos alcançavam o que buscavam; multidões, porém, retornavam a seus lugares de origem sem a cura de seus males, mas amparadas pelo vigor daquele homem de voz poderosa.
Como era de se esperar, não tardou para que os problemas começassem, envolvendo questões eclesiais, econômicas e políticas. Obedecendo ao pedido do bispo de São João da Boa Vista, Padre Donizetti anunciou que sua última bênção e os atendimentos públicos aconteceriam no dia 30 de maio de 1955. E assim foi. Isso ocorreu com uma chuva de pétalas de rosas, organizada pelo radialista Pedro Geraldo Costa que transmitia as orações e as bênçãos do padre a milhares de espectadores. Diante da Capela São José, em palanque na praça, um emocionado sacerdote mineiro deu a derradeira bênção pública às 20h. No outro dia, após um longo ano, Tambaú, milagrosamente, amanheceu vazia, sem nenhum romeiro." 

Assim como o Papa emérito Bento XVI, Padre Donizetti recolheu-se em uma vida mais reclusa, lutando como podia para construir um santuário para Nossa Senhora Aparecida, a quem ele atribuía a graça dos milagres que aconteceram. Em 16 de junho de 1961, faleceu o taumaturgo de Tambaú, sem ver o sonho do santuário concretizado.

O milagre para sua beatificação aconteceu em Casa Branca (SP), cidade que fica a 36 quilômetros de Tambaú, onde padre Donizetti trabalhava. Depois de alguns dias do nascimento de Bruno, em 2006, a mãe dele, Margarete Arruda de Oliveira, percebeu que os pés do bebê eram tortos. Logo, os médicos constataram a anormalidade de difícil tratamento, com a possibilidade do uso de gessos, bota ortopédica e realização de cirurgia, podendo ainda acarretar sequelas. O site dedicado ao Padre Donizetti narra que Bruno, ao começar a ficar de pé, não conseguia encostar as solas na superfície; ele pisava com os lados dos pés e tinha as perninhas arqueadas. Em uma noite, a mãe colocou Bruno de pé sobre a mesa da cozinha e tentou desentortar os pezinhos dele e fazer com que ficassem retos, mas seus esforços foram em vão. Então ela começou a chorar e clamou ao Padre Donizetti: “Por favor, Santo Padre Donizetti, tenha piedade desta vossa filha que vos clama, me ajude: cure o meu filho, cura os pés dele… Sei que terei um caminho difícil pela frente com esse tratamento… Intercede por mim junto a Nossa Senhora Aparecida; sei que Ela não negará um pedido do senhor padre, pois Ela o ama muito, peça a Ela, por favor, que interceda ao filho Jesus, tal qual nas bodas de Canãa. Padre Donizetti, se o senhor atender o meu pedido, prometo ir até a sua casa em Tambaú e levar o sapatinho do meu filho Bruno, para que dê o testemunho do seu poder junto a Nossa Senhora e Jesus, para que outros que sofrem, possam também pedir ajuda a vós. Obrigada, essa é minha vontade, mas que seja feita a vontade de Deus sobre todas as vontades… Amém!” Depois disso, a mãe fez o bebê dormir. No outro dia, resolveu colocá-lo de pé sobre a mesa novamente. E foi aí que teve a grata surpresa: “Meu filho pisou com os pés retos e as solas dos pés tocavam a mesa! Suas pernas ainda continuavam arqueadas, mas, os pés estavam pisando certo. Chegou o dia da consulta com o ortopedista. Levei meu filho juntamente com o raio-X e o laudo, e o Dr. José Elias olhava o laudo e examinava os pés do Bruno, e depois de algum tempo, me disse: “Você acredita em Deus?” Eu disse que sim, e ele me disse: “Então agradece, porque foi Ele, seu filho não tem nada nos pés, está normal!”

Padre Donizetti foi beatificado em 23 de novembro de 2019, às 9h, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Tambaú, SP,

 


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