sábado, 15 de outubro de 2016

Santa Teresa de Jesus

Mestra da Oração, Santa Teresa nos ensina que a porta para entrar em nós mesmos, para nos conhecer e conhecer a Deus é a oração:

Não é pequena lástima e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos a nós mesmos, nem saibamos quem somos. Não seria grande ignorância, minhas filhas, que perguntassem a alguém quem era e não se conhecesse, nem soubesse quem foi seu pai, nem sua mãe, nem sua terra? Pois, se isto seria grande estupidez, sem comparação é maior a que há em nós quando não procuramos saber que coisa somos e só nos detemos nestes corpos; e assim, só a vulto sabemos que temos alma, porque o ouvimos e porque nos diz a fé. Mas, que bens pode haver nesta alma ou quem está dentro dela, ou o seu grande valor, poucas vezes o consideramos; e assim se tem em tão pouco procurar com todo o cuidado conservar sua formosura. Tudo se nos vai na grosseria do engaste ou cerca deste castelo; que são estes corpos.

Consideremos agora que este castelo tem, como disse, muitas moradas: umas no alto, outras em baixo, outras aos lados; e, no centro e meio de todas estas, tem a mais principal onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma.

Pois, voltando a nosso agradável e maravilhoso castelo, temos de ver como poderemos entrar nele.

Parece que digo algum disparate; porque, se este castelo é a alma, claro que não se trata de entrar, pois se é ele mesmo, pareceria desatino dizer a alguém que entrasse num aposento estando já dentro. Mas ficai sabendo: há grande diferença entre os modos de entrar num mesmo lugar. Muitas almas andam em torno do castelo, onde as sentinelas montam guarda. Não têm interesse em entrar nele. Não sabem o que há naquele tão precioso lugar, nem quem mora dentro, nem mesmo os salões que contém. Não ouvistes dizer que alguns livros de oração, aconselham a alma a entrar dentro de si mesma? É isso mesmo.

Dizia-me há pouco uma pessoa muito douta, que as almas, que não têm oração são como um corpo paralítico e entrevado que, embora tenha pés e mãos, não os podem mexer; há almas tão é bem verdade. Há almas tão enfermas e tão habituadas às coisas exteriores, que dão a impressão que não há remédio nem possibilidade de as fazer entrar dentro de si mesmas. É tal a força do costume de tratarem sempre com os insetos e feras das cercanias do castelo, que já quase se tornaram como elas. Embora tão ricas de natureza, capazes de conversar com o próprio Deus, não têm remédio que lhes valha. E se estas almas não procuram entender e remediar sua grande miséria, olhando para si, tornam-se estátuas de sal, assim como ficou a mulher de Lot por voltar a cabeça e olhar para trás.

Porque, tanto quanto eu posso entender, a porta para entrar neste castelo é a oração, a meditação. Não digo oração mental mais que vocal. Para ser oração é necessária a reflexão. Não chamo oração mexer com os lábios sem pensar no que dizemos, nem no que pedimos, nem quem somos nós, nem quem é Aquele ao qual nos dirigimos. Algumas vezes poderá acontecer isso a pessoas que se esforçam por rezar bem, mas será por motivos que se justificam, e será boa a oração.

Porém quem tivesse por costume falar com a Majestade de Deus como quem fala a um estranho, que nem repara se diz mal, dizendo o que lhe vem à boca, sem reparar se está certo, por ter decorado ou repetido muitas vezes – a isso  não tenho em conta por oração. Não permita Deus que cristão algum reze desse modo. Que entre vós, irmãs, espero em Sua Majestade não haverá tal oração. Nosso costume é de tratar de coisas interiores, o que é muito bom para não cair em semelhantes brutezas.”

Castelo Interior ou Moradas – Capítulo 1,5-7
Conheça mais a vida de Santa Teresa de Jesus clique aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário