domingo, 30 de outubro de 2016

30 de outubro - Santo Ângelo de Acri


Podemos interrogar-nos se, ao menos uma vez por dia, confessamos ao Senhor o amor que Lhe temos; se, entre tantas palavras de cada dia, nos lembramos de Lhe dizer: “Amo-Vos, Senhor. Vós sois a minha vida”. Com efeito, se se perde de vista o amor, a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem alma, uma moral impossível, um conjunto de princípios e leis a respeitar sem um porquê. 

Papa Francisco – Homilia de Canonização – 15 de outubro de 2017

Grande missionário da Calá­bria, por mais de quarenta anos, anuncia o amor de Deus. À luz da sua ardente palavra e do testemunho de vida, os bons tornam-se melhores, os pecadores convertem-se: é uma autêntica ressurreição espiritual. Torna-se, assim, o grande pregador popular da sua época.

Em Acri - Calábria, em Outubro de 1669, nasce aquele que mais tarde viria a ser o grande apóstolo da sua terra e uma genuína glória dos Capuchinhos. Montanhês de nascimento e educação, o Beato Ângelo conservará no modo de falar e de agir, a par do seu temperamento, um tanto rude, o forte caráter e a indomável energia de seus conterrâneos.
Manifesta desde criança um grande amor à oração e à mortificação. Um dia, a mãe, no regresso da igreja, vê a sua casa inundada de luz. Que aconteceu? O seu filhinho estava de joelhos, e da imagem da Virgem Maria partiam raios luminosos que o transfiguravam totalmente e lhe envolviam a cabeça como uma auréola. «Certamente o meu filho será chamado por Deus a grandes coisas».

Um austero Capuchinho, descalço e com palavras de fogo, viera pregar à sua terra. Sente o chamamento de Deus: «Também eu quero ser como aquele Irmão e fazer o mesmo que ele faz».
Apresenta-se e expõe-lhe a sua inquietação. Apesar de todos os obstáculos da família, ingressa como noviço na Fraternidade para iniciar o itinerário da sua formação. Está com 18 anos. Mas, quando menos se pensa, eis que o demônio o vem tentar. E são tão fortes as sugestões do tentador que o pobre jovem volta para a família. Mas, no seu coração, ele deseja ser Capuchinho, sente que deve ser Capuchinho.
Pede de novo para entrar e de novo é aceito. Agora começa da melhor maneira e vai em frente. Mas eis que, mais uma vez, se revela o espírito das trevas: apodera-se dele um desânimo destruidor e um desinteresse por tudo. E, pela segunda vez, diz adeus ao Noviciado. Mas a voz de Deus continua a inquietá–lo e a fazer-se sentir na sua vida. E ele procura viver de uma maneira digna para poder ouvir a Sua voz.
Finalmente, em 1690, com vinte anos completos, voltará, pela terceira vez, a pedir, a bater, a suplicar. Desta vez vencerá. Enquanto se dirige para o convento de Bel-verde, sai ao seu encontro um enorme cão que se põe a ladrar furiosamente: o animal parece querer barrar-lhe o caminho. O santo jovem, amadurecido pela experiência, reconhece o embuste. Enfrenta o furioso animal e grita–lhe: «Besta maldita, vai-te embora! Vai para as profundezas do inferno». No mesmo instante o cão desaparece e ele pôde continuar a sua viagem. Poucos dias depois consegue obter tudo o que o seu coração anseia.

Era o dia 12 de Novembro de 1690: veste o santo hábito para nunca mais o deixar, e recebe o nome de Ângelo. Um dia, desanimado e desesperado com novas angústias e tentações, lança-se aos pés do crucifixo, e implora: «Senhor Jesus, tende piedade de mim! Não posso mais! Ajudai-me». E obtém a resposta: «Caminha sobre as pegadas de Bernardo de Corleone». Era um claro convite à penitência. Frei Ângelo não rejeita esse convite. Desta maneira vence-se a si mesmo, domina o seu amor próprio, atinge os confins do céu infinito e descansa em Deus.

Desejava viver sempre na solidão do seu paradisíaco quartinho e no recolhimento silencioso da igreja! Mas os Superiores confiam-lhe o ministério da pregação. «Seja feita a vontade de Deus».
Desde o início, pensa dever dar aos seus sermões uma forma mais simples e agradável. Mas eis que, num dos momentos mais empolgantes da sua prédica, perde o fio à meada e, completamente desorientado, não consegue acabar.
O servo de Deus, que se sentia seguro da sua memória e da sua preparação, não compreende o que se passa. Humanamente falando era o fracasso total. Que queria Deus dele? No silêncio do convento mortifica-se e chora mas, ao mesmo tempo, pede humildemente ao Senhor lhe manifeste a Sua vontade. E a resposta vem: «Não temas, dar-te-ei o dom da pregação e abençoarei as tuas canseiras»«Quem sois vós»? De repente, o pavimento e as paredes do quarto são sacudidas como que por um terremoto, e ele ouve distintamente estas palavras: «Eu sou o que sou»! Doravante prega de forma simples e popular, de modo que todos entendam.

Excepcionalmente aos 42 anos, devido à ressonância carismática da sua pregação, o Cardeal Pignatelli convida-o a pregar a Quaresma em Nápoles. A obediência é sempre santa. E aceita o convite. Começa a Quaresma. A maior parte da gente, habituada a outro estilo de pregação, mostra-se desiludida, descontente e não se cansa de o criticar. No segundo dia, o auditório é reduzidíssimo; ao terceiro dia, cinco a seis pessoas. O pároco sente-se no dever de intervir, e faz compreender ao padre Ângelo que será melhor regressar às aldeias da Calábria. Ele parte. À noite chega a Torre dei Greco.

Entretanto o Arcebispo, informado do acontecido, não aceita de maneira alguma a sua substituição. Manda-o chamar «para que prossiga a quaresma». «Os Superiores querem que seja assim, pois que assim seja». E regressa ao púlpito. Desta vez o auditório é numerosíssimo e ouve-o com atenção. Também lá se encontra um jornalista, vindo, como outras vezes, com o único objetivo de anotar as suas imperfeições de forma e de o tornar objeto de mofa e de riso entre os amigos. Mas a brincadeira sai-lhe cara. Terminada a pregação, o servo de Deus recomenda em voz alta: «Recitemos um Pai Nosso e uma Ave Maria pela alma daquele que, ao sair da igreja, cairá repentinamente morto». Há quem sorria e graceje com a ingenuidade do pregador-profeta, mas, passados alguns instantes, o jornalista é acometido de um mal imprevisto e entrega a sua vida ao Criador. Todos recuperaram novo ânimo e, a partir de então, o auditório tornou-se ainda mais numeroso e assíduo.
Devido aos seus dotes e à sua virtude, nomeiam-no Superior. Foi mais do que superior. Foi um pai. Também o elegem Provincial por um triênio. E pelo seu zelo em promover a concórdia entre os religiosos foi chamado o «Anjo da paz».

Fiel cumpridor da seráfica Regra, pontualíssimo aos atos comunitários, até mesmo adoentado era assíduo, de dia e de noite, à oração da Fraternidade.
De uma intensa vida interior, a cada passo se ouvia gritar: «Como é bom amar a Deus! Como é bom amar a Deus! O Amor não é amado».
Tinha uma ardente devoção à Paixão de Cristo. Em Acri, no ano de 1714, encontrando-se em oração, sente o seu coração ser trespassado por uma espada invisível. O sofrimento é agudíssimo e ele teria prorrompido em gritos lancinantes, se não visse ali perto de si, Cristo flagelado e preso à coluna, cheio de chagas e de sangue. E uma visão do Paraíso. Jesus diz-lhe: «Que graça queres que te faça»?«Senhor, só quero aquilo que Vós quiserdes». O Beato conservará no coração a ferida aberta pela misteriosa espada: a dor não será sempre igual, mas, a certas horas, é tão lancinante que se sente morrer.

Tem uma fé tão viva que ela lhe faz ver o Filho de Deus na Eucaristia, como se não existissem véus. A sua alegria é o altar. Na celebração da santa Missa, a sua alma é incapaz de conter o ímpeto e o ardor das comunicações divinas.
Para com a Rainha do Céu tem uma devoção profunda e cheia de ternura: com o santo Rosário reza também todos os dias o Ofício Mariano; quando a Liturgia o permite, celebra a Missa votiva de Nossa Senhora das Dores.

Quando regressava da pregação à Fraternidade, era um bom e estimulante exemplo para todos e também um conforto para o Superior. Um dia foi pedir ao padre Superior licença para uma coisa insignificante. «Padre Ângelo responde-lhe não tens já licença para fazeres o que quiseres? Dou-te inteira liberdade». «Padre Superior, não me fale assim. O senhor é o Superior. Obediência! Obediência»!
Uma outra vez o padre Superior entra no seu quarto para lhe falar e pergunta se está livre. O servo de Deus levanta-se depressa, acolhe-o amavelmente e diz-lhe: «Pergunta-me se estou livre? Devo porventura ter ocupações diversas daquelas que vós quereis»?
Era muito humilde. Repetia: «Meu Deus, não sou nada. Tudo é dádiva de Deus. Prego, sim, mas não sou mais que um pobre e vil instrumento, como a burra de Balaão».
Aos setenta anos ainda parecia um jovem. Mas tinha dito: «Chegarei aos setenta, mas daqui não passarei». E começaram então a aparecer os indícios do seu fim próximo. Perdia a vista, mas recuperava-a para celebrar a Missa e recitar a Liturgia das Horas. Teve a consolação de rever Acri e de se encontrar com a sua querida e amada Senhora Dolorosa. A 24 de Outubro de 1739 foi acometido de febre. A 28, desceu à igreja para receber o Santo Viático; ouviu a santa missa.

O médico dizia: «Não é uma doença de morte». Mas ele respondia: «Deus chama-me». Fazia-lhe companhia também um cônego, e este sugeria-lhe a oração de São Martinho: «Meu Deus, se sou necessário ao Vosso povo, não recuso o trabalho». A resposta veio rápida: «Só Deus é necessário». Mesmo em estado gravíssimo, continuava a orar, a humilhar-se, a repetir: «Pequei, Senhor! Tende piedade de mim»!
A 30 de Outubro, uma Sexta-feira, partiu ao encontro de Deus.

Foi declarado Beato por Leão XIII a 18 de Dezembro de 1825 e canonizado pelo Papa Francisco em 15 de outubro de 2017.

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