Hoje vamos falar de Santo
Atanásio de Alexandria. Este autêntico protagonista da tradição cristã, poucos
anos depois da sua morte, foi celebrado como "a coluna da Igreja"
pelo grande teólogo e Bispo de Constantinopla Gregório Nazianzeno, e foi sempre
considerado como um modelo de ortodoxia, tanto no Oriente como no Ocidente.
Gian Lorenzo Bernini colocou uma estátua dele entre a dos quatro santos
Doutores da Igreja oriental e ocidental juntamente com Ambrósio, João
Crisóstomo e Agostinho na abside da Basílica vaticana circundando a Cátedra de
São Pedro.
A ideia fundamental de toda a luta teológica de Santo Atanásio era precisamente a de que Deus é acessível. Não é um Deus secundário, é o Deus verdadeiro, e através da nossa comunhão com Cristo podemos unir-nos realmente a Deus. Ele tornou-se realmente "Deus conosco".
Atanásio foi sem dúvida um
dos Padres da Igreja antiga mais importantes e venerados. Mas, sobretudo este
grande santo é o apaixonado teólogo da encarnação do Logos, o Verbo de
Deus, que como diz o prólogo do quarto Evangelho "se fez carne e veio
habitar entre nós" (Jo 1, 14).
Precisamente por este motivo
Atanásio foi também o mais importante e tenaz adversário da heresia ariana, que
então ameaçava a fé em Cristo, reduzido a uma criatura
"intermediária" entre Deus e o homem.
Nascido provavelmente em
Alexandria, no Egito, por volta do ano 300, Atanásio recebeu uma boa educação
antes de se tornar diácono e secretário do Bispo da metrópole egípcia,
Alexandre. Estreito colaborador do seu Bispo, o jovem eclesiástico participou
com ele no Concílio de Niceia, o primeiro de caráter ecumênico, convocado pelo
imperador Constantino em Maio de 325 para garantir a unidade da Igreja. Os
Padres nicenos puderam assim enfrentar várias questões, e principalmente o
grave problema causado alguns anos antes pela pregação do presbítero
alexandrino Ário.
Ele, com a sua teoria,
ameaçava a fé autêntica em Cristo, declarando que o Logos não era
verdadeiro Deus, mas um Deus criado, um ser "intermediário" entre
Deus e o homem e assim o verdadeiro Deus permanecia sempre inacessível para
nós. Os Bispos reunidos em Niceia responderam preparando e fixando o
"Símbolo de fé" que, completado mais tarde pelo primeiro Concílio de
Constantinopla, permaneceu na tradição das diversas confissões cristãs e na
liturgia como o Credo niceno-constantinopolitano.
Neste texto fundamental que
expressa a fé da Igreja indivisa, e que recitamos também hoje, todos os
domingos, na Celebração eucarística encontra-se a palavra grega homooúsios, em latim consubstantialis: ele
pretende indicar que o Filho, o logos, é
"da mesma substância do Pai, é Deus de Deus, é a sua substância, e assim é
posta em realce a plena divindade do Filho, que tinha sido negada pelos arianos.
Tendo falecido o Bispo
Alexandre, Atanásio tornou-se, em 328, seu sucessor como Bispo de Alexandria, e
logo depois demonstrou-se decidido a recusar qualquer compromisso em relação às
teorias arianas condenadas pelo Concílio niceno. A sua intransigência, tenaz e
por vezes muito dura, mesmo se necessária, contra quantos se tinham oposto à
sua eleição episcopal e sobretudo contra os adversários do Símbolo niceno,
atraiu a implacável hostilidade dos arianos e dos filo-arianos. Apesar do
inequívoco êxito do Concílio, que tinha afirmado com clareza que o Filho é da
mesma substância do Pai, pouco depois destas ideias erradas voltaram a
prevalecer nesta situação até Ário foi reabilitado e foram defendidas por
motivos políticos pelo próprio imperador Constantino e depois pelo seu filho
Constâncio II. Ele, aliás, que não se interessava tanto pela verdade teológica
como pela unidade do Império e dos seus problemas políticos, pretendia
politizar a fé, tornando-a mais acessível segundo a sua opinião a todos os seus
súbditos no Império.
A crise ariana, que se
pensava estar resolvida em Niceia, continuou por decênios, com vicissitudes
difíceis e divisões dolorosas na Igreja. E por cinco vezes, entre 336 e 366
Atanásio foi obrigado a abandonar a sua cidade, transcorrendo 17 anos no exílio
e sofrendo pela fé.
Mas durante as suas forçadas
ausências de Alexandria, o Bispo teve a oportunidade de defender e difundir no
Ocidente, a fé nicena e também os ideais do monaquismo, abraçados no Egito pelo
grande eremita Antão com uma opção de vida à qual Atanásio sempre esteve
próximo.
Santo Antão, com a sua força
espiritual, era a pessoa mais importante na defesa da fé de Santo Atanásio.
Insediado de novo e definitivamente na sua sede, o Bispo de Alexandria pôde
dedicar-se à pacificação religiosa e à reorganização das comunidades cristãs.
Faleceu a 2 de Maio de 373, dia em que celebramos a sua memória litúrgica.
A obra doutrinal mais famosa
do santo Bispo alexandrino é o tratado Sobre a encarnação do Verbo, o Logos divino que se fez carne tornando-se como nós para a
nossa salvação. Atanásio diz nesta obra, com uma afirmação que se tornou
justamente célebre, que o Verbo de Deus "se fez homem para que nos
tornássemos Deus; ele fez-se visível no corpo para que tivéssemos uma ideia do
Pai invisível, e ele próprio suportou a violência dos homens para que nós
herdássemos a incorruptibilidade".
De fato, com a sua
ressurreição o Senhor fez desaparecer a morte como se fosse "palha no
fogo".
Por fim Atanásio é também
autor de textos meditativos sobre os Salmos, depois muito difundidos e
sobretudo de uma obra que constitui o best seller da antiga
literatura cristã: a Vida de Antão, isto é, a biografia do abade Santo Antão, escrita
pouco depois da morte deste santo, precisamente enquanto o Bispo de Alexandria,
exilado, vivia com os monges do deserto egípcio.
Atanásio foi amigo do
grande eremita, a ponto que recebeu uma das duas peles de ovelha deixadas por
Antão como sua herança, juntamente com a capa que o próprio Bispo de Alexandria
lhe tinha oferecido.
Tendo-se tornado depressa
muito popular, traduzida quase imediatamente em latim por duas vezes e depois
em diversas línguas orientais, a biografia exemplar desta figura querida à
tradição contribuiu muito para a difusão do monaquismo, no Oriente e no
Ocidente.
De fato escreve na conclusão
desta obra: "Que fosse conhecido em toda a parte, por todos admirado e
desejado, até por quantos não o tinham visto, é um sinal da sua virtude e da
sua alma amiga de Deus. De fato, Antão não é conhecido pelos escritos nem por
uma sabedoria profana nem por qualquer capacidade, mas só pela sua piedade em
relação a Deus. E ninguém poderia negar que isto é um dom de Deus. De fato,
como se teria ouvido falar na Espanha e na Gália, em Roma e em África deste
homem, que vivia retirado entre os montes, se o não tivesse dado a conhecer em
toda a parte o próprio Deus, como ele faz com quantos lhe pertencem, e como
tinha anunciado a Antão desde o princípio? E também se estes agem no segredo e
desejam permanecer escondidos, o Senhor mostra-os a todos como um lampadário,
para que quantos ouvem falar deles saibam que é possível seguir os mandamentos
e se sintam encorajados a percorrer o caminho da virtude".
Sim, irmãos e irmãs! Temos
tantos motivos de gratidão para com Santo Atanásio. A sua vida, como a de Antão
e de muitos outros santos, mostra-nos que "quem caminha para Deus não
se afasta dos homens, antes, pelo contrário, torna-se-lhes verdadeiramente
vizinhos" (Deus caritas est, 42).
Papa Bento XVI
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