Só mediante a caridade sobrenatural que brota
sempre renovada do coração de Cristo, se pode explicar o prodigioso
florescimento de santidade à qual se assiste ao longo dos dois mil anos de
cristianismo. Um florescimento que no Piemonte, e na Arquidiocese de Turim em
particular, conheceu uma estação singular, longa e feliz, em cujo contexto se
situa bem o nosso novo Beato, o Cônego Luís Boccardo.
Beato Luis Boccardo
Plasmado pelo Espírito de Cristo, o Beato Padre
Luís é um modelo de dedicação evangélica que gerou a semente de um Instituto de
vida consagrada, como expressão e escola de caridade, com as contemplativas "Filhas
de Jesus Rei", inserido na Família das Irmãs de São Caetano, para as
quais soube continuar a obra do irmão, o Beato Giovanni Boccardo.
Sacerdote humilde, de grande coração, como o de
Cristo que a todos acolhe no abraço da sua misericórdia foi durante trinta anos
educador dos jovens sacerdotes no Colégio Eclesiástico junto do Santuário da Consolata
e confessor assíduo e fiel.
Em continuidade com os numerosos santos
sacerdotes de Turim, Padre Luís pode ser definido o "cantor e apóstolo
da misericórdia de Deus", tendo irradiado a mensagem salvífica de
Cristo, vivendo em plenitude e com alegria o ministério sacerdotal, a ponto de
ser indicado como "sacerdote sempre sacerdote" e "aquele
que faz ver o sol" da misericórdia divina, por aqueles que se iam
confessar a ele. Imerso no hoje eterno de Jesus Cristo, Sumo e Eterno
Sacerdote, o Beato Luís Boccardo pode ser justamente apresentado como modelo de
vida sacerdotal mais atual que nunca, porque, como disse o Papa João Paulo II,
em relação ao Sacerdócio "Cristo é a medida de todos os
tempos".
Foi precisamente o próprio João Paulo II, em
visita aqui a Turim, a 13 de abril de 1980, há 27 anos, que ressaltou com agudo
sentido pastoral: "Mas alguém dirá: esta é história de ontem. O
hoje é diferente, radicalmente diferente. O hoje não esmaga o ontem. Já não há
Turim dos santos, mas Turim da grande indústria e da grande secularização.
(...) Os santos pertencem ao passado, não são suficientes para os tempos modernos
dirá alguém. Mas há Cristo. E Ele é suficiente para todos os tempos: porque
Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!"
Os santos não nos afastam de Cristo, mas
restituem-nos a Ele. Assim seja para quantos poderão encontrar no novo Beato
Luís Boccardo um motivo a mais para dar um passo em frente pelo caminho do
Reino de Deus.
Cardeal José Saraiva
Martins – 14 de abril de 2007
Luís Boccardo nasceu em 9 de agosto de 1861 em Moncalieri, na província de Turim. Ele foi o sétimo de nove filhos de Gaspare Boccardo e Giuseppina Malerba. O filho mais velho da família, Giovanni Ottavio, que se tornou padrinho de Luís aos 13 anos, desempenhará um papel decisivo no futuro de seu irmão mais novo.
Embora os pais de Luís fossem agricultores,
eles se entregaram ao desejo de estudar escrevendo para a escola dos Padres de
Barnabita, onde Giovanni também estudou. Influenciado pelo bom exemplo de
seu irmão e pela atmosfera religiosa que encontrou, Luís começou a pensar que
queria se tornar padre. Ele recebeu outro exemplo de dedicação a Deus
quando sua irmã Jacinta entrou em um convento de claustro em 1874.
Quando Luís expressou seu desejo de estudar
para o sacerdócio, seus pais ficaram relutantes, e foi seu irmão mais velho
Giovanni que intercedeu por ele, assumindo também o peso financeiro de todos os
estudos no seminário de Luís. O jovem entrou no seminário arquidiocesano
de Turim em outubro de 1875 e em 23 de setembro de 1877 ele recebeu o hábito
clerical.
Foi nesse momento que ele contraiu uma febre
severa que o levou à beira da morte. Como último recurso para salvar sua
vida, ele recebeu uma bebida de Lourdes. Esse evento aprofundou em Luís
uma devoção filial à Mãe de Deus, a quem ele se consagrou. Em um cartão
sagrado da Virgem Maria, ela escreveu: "Foi ela quem me salvou e
roubou meu coração". Além da proteção da Virgem Maria, Luís
estava novamente em boa companhia com seu irmão Giovanni, que fora designado
como diretor espiritual dos estudantes de filosofia do seminário. Os
santos companheiros continuaram a cercá-lo no seminário teológico, onde ele
recebeu orientação espiritual do futuro beato Giuseppe Allamano.
Luís Boccardo foi ordenado sacerdote em 7 de
junho de 1884. Ele ocupou alguns cargos temporários, incluindo o vigário
paroquial na paróquia onde seu irmão foi designado como pároco em Pancalieri,
Turim. Durante esse período, a área foi atingida por uma epidemia de
cólera e Don Luís observou novamente a vida virtuosa de seu irmão mais velho
através do cuidado pastoral que ele deu ao seu rebanho. De fato, após a
epidemia, que deixou numerosos órfãos e abandonou os idosos, Padre Giovanni
fundou uma Congregação de Irmãs para ajudá-lo, as Irmãs Pobres de São Caetano,
que mais tarde se tornaram responsabilidade sacerdotal do irmão mais novo.
Em 1886, Dom Luís foi nomeado vice-reitor e
diretor espiritual dos jovens sacerdotes do colégio eclesiástico de Nossa
Senhora do Bom Conselho, em Turim, onde trabalhou pelos próximos 30 anos,
juntamente com o reitor Giuseppe Allamano. Dom Luís trabalhou com
paciência e humildade à sombra deste santo homem de Deus, assumindo várias
tarefas de acordo com as necessidades da instituição.
A escola também era um local onde os padres
recém-ordenados, antes de serem designados como vigários da paróquia, estudavam
por dois anos para melhorar sua educação, especialmente em teologia
moral. A maioria dos padres da arquidiocese de Turim frequentou esta
escola de treinamento e foi o Padre Luís Boccardo quem liderou a formação geral
de gerações de padres diocesanos.
Em 9 de janeiro de 1914, Dom Luís foi nomeado
superior geral da Congregação das freiras pobres, que já havia se espalhado por
muitas partes da Itália. Assim começou um novo capítulo em sua vida e, em
vez da vida relativamente pacífica que ele desfrutara até agora, teve que se
adaptar às viagens frequentes por toda a Itália. Certamente, havia muitos
pedidos para administrar um instituto composto por dezenas de conventos, várias
centenas de freiras e milhares de doentes, idosos, crianças e idosos. Isso
certamente contribuiu para seu crescimento pessoal, porque tinha passado a
maior parte de sua vida em um seminarista masculino.
Em 3 de dezembro de 1919, Dom Luís foi então
nomeado diretor espiritual do Instituto de Cegos, fazendo-o prosperar e
salvando-o do fechamento. Aqui ele conheceu algumas pessoas que queriam
consagrar suas vidas a Deus e, ao tentar direcioná-las para a vida monástica,
foram rejeitadas por causa de sua cegueira.
Levando tudo isso a sério, ele decidiu, em 18
de janeiro de 1932, consagrar algumas delas a Deus com o título de "Irmãs
de Cristo Rei", tornando-se assim um ramo contemplativo das Irmãs Pobres
de São Caetano. A entrega das primeiras "Irmãs de Cristo Rei"
ocorreu em 29 de outubro de 1932; o trabalho delas era orar pela Igreja,
pelo Papa, pelos padres e principalmente pelos mais necessitados.
Em 5 de junho de 1934, Don Luís comemorou seu
50º aniversário do sacerdócio e desfrutou o merecido reconhecimento e ação de
graças de muitos. Entre seus sucessos estão as 1.027 cartas coletadas em
sete volumes de 1901-36, dirigidas a leigos, sacerdotes e religiosos e que
expressam toda a espiritualidade e confiança em Deus desse humilde sacerdote
que disse de si mesmo:
"Três coisas que eu nunca pensei em
fazer: escrever livros, fundar um instituto religioso para mulheres e construir
igrejas. E eu fiz todas as três!".
Don Luís Boccardo celebrou sua missa final em
26 de abril de 1936 no altar da Madonna del Buon Consiglio, no santuário que
ele mandou construir o Cristo Rei e morreu em paz em 9 de junho do mesmo ano.
Foi beatificado em 14 de abril de 2007
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