O Santo Papa Paulo
VI escreveu: “É no meio das suas desgraças que os nossos contemporâneos
precisam de conhecer a alegria e de ouvir o seu canto”. Hoje, Jesus convida-nos
a voltar às fontes da alegria, que são o encontro com Ele, a opção corajosa de
arriscar para O seguir, o gosto de deixar tudo para abraçar o seu caminho. Os
Santos percorreram este caminho.
Fê-lo Paulo VI,
seguindo o exemplo do Apóstolo cujo nome assumira. Como ele, consumiu a vida
pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha
d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja extroversa que olha para os
distantes e cuida dos pobres.
Mesmo nas fadigas e
no meio das incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada
a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus.
Hoje continua a
exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que
vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às
meias medidas, mas à santidade.
O Papa Paulo VI, Giovanni Battista Montini, faleceu em 6 agosto de 1978 depois de um pontificado de 15 anos iniciado em 1963.
O milagre que permitiu a beatificação ocorreu nos Estados Unidos em 2001, quando um feto no quinto mês de gravidez entrou em condições críticas pela ruptura da bolsa, a presença de líquido no abdômen, e a ausência de líquido na bolsa amniótica. O diagnóstico médico previa a morte do bebê ainda no ventre materno e, caso sobrevivesse ficaria com má-formação inevitável. A mãe foi aconselhada a interromper a gravidez, mas ela se negou a fazer um aborto. Acompanhada por uma religiosa italiana recorreu à intercessão de Paulo VI.
Depois, a situação foi melhorando e o menino nasceu bem aos oito meses em um parto por cesárea. A consultoria médica da Congregação para as Causas dos Santos certificou a cura inexplicável do ponto de vista da ciência médica e os teólogos do dicastério reconheceram que o milagre aconteceu pela intercessão pedida a Paulo VI.
Ele protagonizou importantes mudanças na
Igreja. Algumas de natureza ecumênica, como o seu inesquecível abraço com
o patriarca Atenágoras e o mútuo levantamento das excomunhões. Outras mudanças
de índole pastoral, como ter iniciado a era moderna das viagens pontifícias com
as suas visitas a Terra Santa, a Índia ou a ONU. Além disso, promulgou em 1969
a reforma litúrgica.
Giovanni Battista Montini nasceu em
Concesio, próximo da Bréscia, em 26 de setembro de 1897. Desde pequeno ele nutriu grande amor pelo estudo, acolhendo o chamado
sacerdotal, ingressou aos 19 anos no Seminário de Bréscia.Ordenado aos 23 anos,
dirigiu-se a Roma para aperfeiçoar seus conhecimentos teológicos.
Ali mesmo realizou
estudos também na academia pontifícia de estudos diplomáticos e, em 1922,
ingressou ao serviço papal como membro da Secretaria de Estado. Em maio de 1923
foi nomeado secretário do Núncio de Varsóvia, cargo que por sua frágil
saúde, teve que abandonar no final do mesmo ano. De volta a Roma e
trabalhando novamente na Secretaria de Estado da Santa Sé, o padre Montini
dedicou grande parte de seus esforços apostólicos ao movimento italiano de
estudantes católicos (1924 – 1933), exercendo ali um importante trabalho
pastoral. Em 1931, aos seus 32 anos, lhe era concedida a cadeira de
História Diplomática na Academia Diplomática.
Em 1937 foi nomeado
assistente do Cardeal Pacelli, que então desempenhava o cargo de
Secretário de Estado. Neste posto de serviço, Monsenhor Montini prestaria
um valioso apoio na ajuda que a Santa Sé brindou a numerosos refugiados e
presos de guerra.
Em 1944, já sob o
pontificado de Pio XII, foi nomeado diretor de assuntos eclesiásticos internos
e oito anos mais tarde, pró-secretário de Estado.
Em 1954, o Papa Pio
XII o nomeou Arcebispo de Milão. O novo Arcebispo haveria de enfrentar muitos
desafios, sendo o mais delicado de todos o problema social. Entregando-se com
grande energia ao cuidado do rebanho que se lhe confiava, desenvolveu um plano
pastoral que teria como pontos centrais a preocupação pelos problemas sociais,
a aproximação dos trabalhadores industriais à Igreja e a renovação
da vida litúrgica. Pelo respeito e
confiança que soube ganhar por parte da imensa multidão de operários,
Montini seria conhecido como o “Arcebispo dos operários”.
Em dezembro de 1958 foi escolhido Cardeal por
João XXIII que, ao mesmo tempo, lhe outorgou um importante rol na preparação do
Concílio Vaticano II ao nomeá-lo seu assistente. Durante estes anos,
prévios ao Concílio, o Cardeal Montini realizou algumas viagens importantes:
Estados Unidos (1960); Dublin (1961); África (1962).
O
Cardeal Montini contava com 66 anos quando foi eleito sucessor do Pontífice
João XXIII, em 21 de junho de 1963, tomando o nome de Paulo VI.
Três dias antes de sua coroação, realizada em
30 de junho, o novo Papa dava a conhecer a todos os programa de seu
pontificado: Seu primeiro e
principal esforço se orientava à culminação e posta em marcha ao grande
Concílio, convocado e inaugurado por seu predecessor. Além disto, o
anúncio universal do Evangelho, o trabalho em favor da unidade dos cristãos e
do diálogo com os não crentes, a paz e solidariedade na ordem social –
esta em escala mundial -, mereceriam sua especial preocupação pastoral.
O pontificado de Paulo VI está profundamente
vinculado ao Concílio, tanto em seu desenvolvimento como na imediata aplicação.
Em sua primeira
encíclica, a pragmática Ecclesiam suam,
publicada em 1966 ao finalizar a segunda sessão do Concílio, estabelecia
que eram três os caminhos pelos que o Espírito Santo lhe impulsionava a
conduzir a Igreja, respondendo aos “ventos de renovação” que desenrolavam
as velas da barca de Pedro.
Dizia ele mesmo no dia anterior à publicação
de sua encíclica Ecclesiam suam: “O
primeiro caminho é espiritual; se refere à consciência que a Igreja deve
ter e fomentar de si mesma. O segundo é moral; se refere à renovação
ascética, prática, canônica, que a Igreja necessita para dispor-se à
consciência mencionada, para ser pura, santa, forte, autêntica. E o terceiro
caminho é apostólico; o temos designado com termos hoje em voga: o
diálogo; quer dizer, se refere este caminho ao modo, a arte, ao
estilo que a Igreja deve infundir em sua atividade ministerial no
concerto dissonante, volúvel e complexo do mundo contemporâneo. Consciência,
renovação, diálogo, são os caminhos que hoje se abrem ante à Igreja viva e que
formam os três capítulos da encíclica”.
Paulo VI deixou um rico legado em seus
muitos escritos. Dentro dessa longa lista cabe ressaltar a encíclica Populorum progressio, a qual trata sobre o tema do
desenvolvimento integral da pessoa. Esta encíclica foi a base para a
Conferência dos Bispos Latino-Americanos em Medelim.
Também merece ser especialmente mencionada a
exortação Evangelii nuntiandi, carta magna da evangelização, que põe enfaticamente o
anúncio de Jesus Cristo no coração da missão da Igreja. Para muitos, esta carta
veio de algum modo, completar e aprofundar a Gaudium et spes.
Além disso, constituiu o pano de fundo da III Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano, em Puebla.
São muito
significativos também todos os ensinamentos dados por ocasião do Ano Santo da
Reconciliação, em 1975, o que se manifesta em uma importante
exortação apostólica: A Reconciliação dentro da
Igreja.
Por outro lado, é também de especial
importância O Credo do Povo de Deus. Nele, o Papa Paulo VI faz uma
formosa profissão de fé, que reafirma as verdades que se crê e vive no
Corpo Místico de Cristo, tomando assim uma firme postura diante de não poucos
intentos de agressão que sofria a fé cristã. A herança que deixou à Igreja com
todos os seus escritos é muito importante e valiosa.
Após seu incansável
trabalho em favor da Igreja a que tanto amor mostrou, morreu em 6 de agosto de
1978, na Festa
da Transfiguração (que curiosamente foi também a data da
publicação da encíclica que anunciava o programa de seu
pontificado).
Ele deixou escrito para todos em seu
“Testamento”:
«Fixo o olhar no mistério da morte e do que a
ela segue à luz de Cristo, o único que a esclarece; olho, portanto, para
a morte com confiança, humilde e serenamente. Percebo a verdade que esse
mistério projetou sempre sobre a vida presente e bendigo ao Vencedor da morte
por haver dissipado em mim as trevas e descoberto a luz.
Por isso, ante a morte e a separação total
e definitiva da vida presente, sinto o dever de celebrar o dom,
a fortuna, a beleza, o destino desta mesma fugaz existência:
Senhor, te dou graças porque me chamaste à vida e mais ainda porque me
regeneraste e destinaste à plenitude da vida».
O que inspirou o Papa
Paulo VI a viver como Pastor universal do rebanho do Senhor, o resume o Papa
João Paulo II em um valiosíssimo testemunho, pois ele – como ele mesmo disse –
pôde “observar de perto” sua atividade:
“Me maravilham sempre sua profunda prudência
e valentia, assim como sua constância e paciência no difícil período
pós-conciliar de seu pontificado. Como timão da Igreja, barca de Pedro, sabia
conservar uma tranquilidade e um equilíbrio providencial, inclusive, nos momentos
mais críticos, quando parecia que ela era sacudida por dentro, mantendo uma
esperança constante em sua compatibilidade” (Redemptor hominis,
3).
“(…)
em quinze anos de pontificado, este Papa demonstrou não só a mim, mas a todo o
mundo, como se ama, como se serve e como se trabalha e sofre pela Igreja
de Cristo”.
Foi beatificado em 19 de outubro de 2014 e canonizado em 14 de outubro de 2018 pelo Papa Francisco.
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