quarta-feira, 13 de maio de 2020

13 de maio - Aparição de Fátima


Dia 13 de maio de 1917 andava a brincar com a Jacinta e o Francisco, no cimo da Cova da Iria, a fazer um pequeno muro em volta de uma moita, vimos, de repente, como que um relâmpago.

- É melhor irmos embora para casa – disse a meus primos – que estão a fazer relâmpagos; pode vir trovoada.
- Pois sim.

E começamos a descer a encosta, tocando as ovelhas em direção à estrada. Ao chegar, mais ou menos no meio da encosta, quase junto de uma azinheira grande que aí havia, vimos outro relâmpago e, dados alguns passos mais adiante, vimos, sobre um arbusto, uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal, cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente. Paramos surpreendidos pela aparição. Estávamos tão perto, que ficávamos dentro da luz que A cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e meio de distância, mais ou menos.
Então Nossa Senhora nos disse:

- Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.
- De onde a Senhora é? – lhe perguntei.
- Sou do Céu.
- E que é que a Senhora quer de mim?
- Vim para vos pedir que venham aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.
- E eu também vou para o Céu?
- Sim, vais.
- E a Jacinta?
- Também.
- E o Francisco?
- Também, mas tem que rezar muitos terços.

Lembrei-me então de perguntar por duas meninas que tinham morrido há pouco. Eram minhas amigas e estavam aprendendo a bordar com minha irmã mais velha.

- A Maria das Neves está no Céu?
- Sim, está.

Parece-me que devia ter uns 16 anos.

- E a Amélia?
- Estará no purgatório por muito tempo.

Parece-me que devia ter de 18 a 20 anos.

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplicas pela conversão dos pecadores?
- Sim, queremos.
- Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente:

- O Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento.

Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:

- Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.

Em seguida, começou a Se elevar serenamente, subindo em direção ao nascente, até desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no serrado dos astros, motivo por que alguma vez dissemos que vimos abrir-se o Céu.

Parece-me que já expus, no escrito sobre a Jacinta ou numa carta, que o medo que sentíamos não foi propriamente de Nossa Senhora, mas sim da trovoada que supúnhamos ia vir; e dela, da trovoada, é que queríamos fugir. As aparições de Nossa Senhora não infundem medo ou temor, mas sim surpresa. Quando me perguntavam se tinha sentido e dizia que sim, referia-me ao medo que tinha tido dos relâmpagos e da trovoada que supunha vir próxima; e disto foi que quisemos fugir, pois estávamos habituados a ver relâmpagos só quando trovejava.

Os relâmpagos também não eram propriamente relâmpagos, mas sim o reflexo de uma luz que se aproximava. Por vermos esta luz, é que dizíamos, às vezes, que víamos vir Nossa Senhora; mas, propriamente, Nossa Senhora só a distinguíamos nessa luz, quando já estava sobre a azinheira. Por não sabermos explicar e por querer evitar perguntas foi que umas vezes dissemos que A víamos vir, outras que não. Quando dizíamos que sim, que A víamos vir, referíamo-nos a que víamos aproximar essa luz que, afinal, era Ela. E quando dizíamos que não A víamos vir, referíamos a que, propriamente Nossa Senhora, só a víamos quando já estava sobre a azinheira.

Relato de Lúcia, vidente de Fátima, sobre a aparição de Nossa Senhora em 13 de maio de 1917.




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