A página evangélica nos oferece um
ensinamento maravilhoso de Jesus sobre a ressurreição dos mortos. Alguns
saduceus, que não acreditavam na ressurreição perguntam a Jesus, de quem será
esposa depois da Ressurreição a mulher que teve sete maridos sucessivos, todos
irmãos entre si, que morreram um após o outro? Jesus não cai na armadilha e
responde que os ressuscitados no além não se casam, porque já não podem morrer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da
ressurreição, são filhos de Deus.
Com esta resposta, Jesus nos convida a pensar que esta dimensão
terrena em que vivemos agora não é a única, mas existe outra, já não sujeita à
morte, na qual se manifestará plenamente que somos filhos de Deus. É motivo de
grande conforto e esperança escutar esta palavra de Jesus, simples e clara,
sobre a vida para além da morte; precisamos dela especialmente no nosso tempo,
tão rico em conhecimento do universo, mas tão pobre em sabedoria sobre a vida
eterna.
Esta certeza clara de Jesus sobre a
Ressurreição baseia-se inteiramente na fidelidade de Deus, que é o Deus da
vida. De fato, a pergunta dos saduceus esconde uma questão mais profunda: não
só de quem será esposa a viúva de sete maridos, mas de quem será a sua
vida. É uma dúvida que diz respeito ao homem de todos os tempos e também a nós:
depois desta peregrinação terrena, o que será da nossa vida? Pertencerá ao
nada, à morte?
Jesus responde que a vida pertence a Deus,
que nos ama e se preocupa muito conosco, a ponto de ligar o seu nome com o
nosso: Ele é o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Deus não
é Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Ele, todos estão vivos. A vida subsiste
onde há vínculo, comunhão, fraternidade; e é uma vida mais forte do que a morte
quando se constrói sobre verdadeiras relações e vínculos de fidelidade. Pelo
contrário, não há vida quando se tem a pretensão de pertencer apenas a si mesmo
e de viver como ilhas: nestas atitudes prevalece a morte. É egoísmo. Se eu
viver para mim, estou a semear a morte no meu coração.
Papa Francisco – 10 de
novembro de 2019
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