sexta-feira, 11 de agosto de 2017

São Francisco e Santa Clara

As Legendas de São Francisco e Santa Clara  relatam que um dia consentiu Francisco em convidar Clara para um jantar em Santa Maria dos Anjos. Tratava-se de um favor que a abadessa de São Damião há tempo procurava em vão obter. Confiou sua causa aos amigos mais caros de Francisco, que também eram seus, os quais foram dizer ao Santo:

- É excessivo e contrário à caridade divina o rigor com que recusas atender ao desejo de Clara, virgem tão piedosa e cara ao Senhor. Não esqueças que, afinal, ela é tua plantinha espiritual e que foram tuas exortações que a tiraram das ilusões do século.


- Então, pensais que devo jantar com ela?
- Seguramente! E ainda que te pedisse muito mais, tu devias lho conceder.
- Pois bem, se este é vosso parecer, concordo convosco. E para que seja maior o contentamento de nossa irmã Clara, tomaremos a refeição aqui na Porciúncula. Pois há muito tempo que ela vive reclusa em São Damião e nada poderá agradar-lhe mais do que rever o lugar de seus esponsais com o Senhor.


No dia combinado, Clara chegou acompanhada de outra irmã. Com humildade e devoção venerou primeiro a imagem de Nossa Senhora dos Anjos que dominava o altar onde outrora ela havia recebido o véu e cortado seus cabelos; em seguida, enquanto chegava a hora da refeição, visitou o eremitério até os últimos recônditos. Francisco, que, segundo seu costume, fizera servir a mesa sobre o chão, sentou ao lado dela; os demais tomaram seus respectivos lugares e todos se dispuseram a comer. Mal, porém, haviam tomado os primeiros bocados, Francisco se pôs a falar de Deus e todos foram arrebatados em êxtase.

Logo, uma multidão acorreu ao convento. Eram habitantes de Assis, de Bettona e arredores que, vendo chamas sobre o bosque, acreditavam ter irrompido um grande incêndio em Santa Maria dos Anjos, e vinham para apagá-lo. Mas puderam constatar que não havia dano algum. Quando, ao entrar na sala do banquete, encontraram Francisco e os demais comensais com as mãos juntas e os olhos fixos no céu, compreenderam que as chamas que pensaram ver eram as do amor divino em que ardiam aqueles santos personagens; e retiraram-se edificados e confortados.

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