O Amor que se manifestava no seu rosto estimulava à oração. O Amor que
lhe era doado na Eucaristia ele o restituía carregando os fardos pesados de
quem se encontrava cansado pelo caminho, pacificando as desavenças de quem não
se sentia mais irmão, acudindo as fadigas e as dores de quem jazia doente
acamado. E ninguém resistia à sua candura, à sua bondade, ao seu grito
angustiado: “Permaneçam com Deus! Temam a Deus! Amem a Deus! Fujam do pecado! Sejam
bondosos"!
Bernardo Peroni de Offida nasceu em Vila de Appignano, nas
vizinhanças de Offida, terceiro de oito filhos, aos 07 de novembro de 1604, e o
pai José o levou no mesmo dia para ser batizado na antiga igreja de Santa Maria
da Roca, fora dos muros.
Domingos (assim se chamava) cresceu forte e robusto no campo onde viveu
sua infância e juventude. Aos 15 anos, em 1619, passou da guarda do rebanho
para a guarda dos bois e começou a mexer com o arado.
A vida austera dos capuchinhos, estabelecidos em Ofida em 1614, era para
ele um forte apelo, onde encontrava particular sintonia de Espírito. Frequentava
a sua singela e devota igreja. Mas esperou ainda vários anos quando falou,
finalmente, para os pais e depois para os freis de quem não recebeu nenhuma
resistência. Aos 15 de fevereiro de 1626, em Corinaldo, vestiu o hábito de
noviço, um ano depois, em Camerino, fez a
primeira profissão tomando o nome de Bernardo.
Foi mandado logo depois para o convento de Fermo como ajudante de
cozinha e assistente dos confrades enfermos, onde permaneceu por vinte anos. Em
seguida, foi para Áscoli, passando também por vários outros conventos. Em 1650
fixou morada definitivamente no convento de Offida, de onde não saiu mais, com
exceção de uma breve pausa de poucos meses em Áscoli. Em Ofida viveu
ininterruptamente por 45 anos.
Uma vida simples desenvolvida num ambiente geográfico muito limitado,
sem longas viagens fora das Marcas, desconhecido na humildade dos serviços
ordinários de um irmão não clérigo capuchinho: cozinheiro, enfermeiro, esmoler,
hortelão, porteiro, tudo cheio de devoção e de oração.
Rezava sempre. Na igreja permanecia absorto diante do tabernáculo ou
qualquer imagem sagrada, com os olhos elevados para o céu, firme como uma
estátua, com os braços levantados.
Enamorado da Eucaristia, tinha um respeito profundo pelos sacerdotes. É
necessário olhar os processos para dar um pouco de variedade e de movimento a
esta vida desconhecida. Também quando saía para esmolar se escondia na sua
interioridade. Nunca era surpreendido distraído. Sempre com os olhos baixos, o
rosário nas mãos, pacato nos gestos, afável no falar.
Alguém testemunha dele o seguinte: "Um dia de inverno, depois de ter nevado muito, Frei Bernardo chegou
numa cidadezinha para pedir esmolas afundando os pés na neve. Uma mulher, na
janela, vendo o "santo velho" passando, começou a chorar e a gritar:
"Pobre Frei Bernardo"! Ele, com grande jovialidade, respondeu:
"Filha, não é nada, não é nada. A graça de Deus não deixa sentir
frio". Dizendo isto, tirou o pé direito da sandália, o colocou nu sobre a
neve que desapareceu como por encanto, como se alguém houvesse jogado água
quente".
Frei Bernardo era um verdadeiro missionário para a pobre gente do campo.
Aos aflitos levava alívio com a serenidade do seu rosto e suas simples
palavras. Era um conselheiro que penetrava os corações também dos nobres e
prelados, a quem sabia falar com profundidade teológica, embora fosse
analfabeto e suas palavras não raramente se tornavam palavras proféticas.
Um outro aspecto da sua humanidade era a misericórdia para com os
doentes, os pobres e encarcerados. Os doentes do convento gostavam de estar
doentes por causa da assistência amorosa de Frei Bernardo que inventava mil
expressões de caridade, ao ponto de permanecer na enfermaria, dia e noite,
dispensado-se de qualquer outro ofício, para estar sempre pronto a servir.
Já perto dos 90 anos, Frei Bernardo, com o agravamento dos distúrbios
(hérnia, artrite, erisipela) despertava compaixão. Em 1694 a sua
erisipela o prostrou totalmente, mas o seu espírito se tornou ainda mais
luminoso.
Uma testemunha refere que "demonstrava
tanta alegria no rosto e nas palavras que parecia não estar enfermo, mas que se
deliciava".
Queria despojar-se de tudo e pedia ao seu guardião "por
caridade" de fazer uso apenas do hábito e mais nada.
Recebidos todos os sacramentos foi visto como que em êxtase.
Depois recomendou aos confrades a observância da regra, a paz e o amor
entre eles e para com o próximo e de rezar pelos benfeitores e animou muitas
pessoas presentes à fidelidade a lei de Deus e a educação cristã dos filhos. E
aos 22 de agosto de 1694, quando o sol surgia, ele serenamente expirava.
Somente em 1745 teve início o processo de beatificação e canonização.
Pio VI, a 19 de maio de 1795, o declarava Beato e seis dias depois era
celebrada a beatificação na Basílica Vaticana.
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