O campo de
concentração de Dachau está ligado a uma das páginas mais trágicas e gloriosas
do Clero polonês: nele estiveram como prisioneiros bem 1780 eclesiásticos e
desses, 868 ali encontraram a morte. A Igreja não hesitou em examinar os
eventos na procura dos elementos suficientes para dar a muitas vítimas a
gloriosa coroa do martírio. Pensemos a Maximiliano Kolbe, Tito
Brandsma e a Edith Stein, entre os mais conhecidos de uma heroica
fileira de testemunhas de Cristo.
Os mártires destes
campos não tiveram sua vida interrompida de repente por um momento heroico de
sofrimento: tratou-se de um longo calvário feito de humilhações, insultos,
torturas, que prepararam e determinaram com frequência o holocausto conclusivo
final.
Entre as heroicas
testemunhas da fé e da caridade cristã mortas em Dachau, brilha com sublime
esplendor a figura de Francisco Drzewiecki, um Orionita, nascido em
Zduny, no dia 26/02/1908.
Entrou adolescente
no seminário para realizar a sua vocação sacerdotal e religiosa na Pequena Obra
da Divina Providência do beato Dom Luiz
Orione. Após os estudos do ensino médio e filosofia, em 1931 foi
para a Itália, para a Casa mãe de Tortona, para o noviciado e os estudos da
teologia.
Foi ordenado
sacerdote no dia 6 de junho de 1936. Exerceu as primeiras atividades de seu
ministério sacerdotal no Pequeno Cotolengo de Gênova-Castagna, uma instituição
para deficientes graves, onde era também formador de um grupo de “vocações
adultas”.
Voltando à Polônia
no final de 1937, Pe. Francisco continuou a sua atividade de educador no
Colégio de Zdunska Wola. No verão de 1939 foi chamado para trabalhar na
Paróquia “Sagrado Coração” e no Pequeno Cotolengo de Wloclawek. Aqui o
surpreenderam os conhecidos e terríveis episódios de guerra, desencadeados a
partir da invasão alemã de 1º. de setembro de 1939.
A ocupação nazista
se transformou logo em perseguição religiosa, realizada sistematicamente e
particularmente violenta na Polônia católica. No dia 7 de novembro de 1939, Dom
Drzewiecki e quase todo o Clero da diocese de Wloclaweck, compreendidos os
seminaristas e o Bispo Dom M. Kozal, foram presos e levados ao cárcere.
Iniciava uma longa via-sacra de humilhações e sofrimentos: Wloclawek, Lad,
Szczyglin, Sachsenhausen e enfim Dachau.
Dos companheiros do
campo de concentração ele foi lembrado como “o homem que edificava com a sua cortesia e virtude”. Levado a
Dachau no dia 14 de dezembro de 1940, Dom Francisco Drzewiecki, depois de dois
anos de sofrimentos, de privações, de trabalhos forçados e de nobre presença
humana e religiosa, foi eliminado porque “inválido para o trabalho”. Morreu no
dia 13 de setembro de 1942. Tinha apenas 34 anos de idade: 6 de sacerdócio.
São muitos os testemunhos
da nobreza e santidade de espírito de Dom Francisco Drzewiecki. Os mais vivos e
comoventes são aqueles do seu companheiro de prisão, Dom Jozef Kubicki, também ele
Orionita e clérigo:
“Apenas chegamos
ao campo, nos conduziram aos chuveiros. Ali tiraram todas as nossas roupas e
nos deram uniformes e os novos números. Dom Francisco me havia segurado perto
de si na fila; assim eu recebi o nº. 22665 e Dom Francisco o nº. 22666.
No campo, eu
trabalhava como marceneiro e Dom Francisco foi destinado para as plantações.
Tinha que fazer longas e extenuantes caminhadas a pé, trabalhava debaixo de
sol, chuva, vento.
No campo era
terminantemente proibido ser visto em atitude de oração. Mas nós rezávamos
igualmente.
Dom Wladislaw Sarnik recorda de ter
trabalhado com Dom Francisco nas plantações. Bem, enquanto eram curvados no
campo de trabalho, tinham à frente de si, em alternância, a caixinha da
Eucaristia e faziam adoração.
Nos cercávamos na
multidão dos prisioneiros – recorda ainda Dom Kubicki. Dom Francisco queria
contar-me muitas coisas, sobretudo da Itália, onde esteve por seis anos, de Dom
Orione, do desenvolvimento da Congregação, etc. Me encorajava a ser fiel à
vocação, a resistir, a pensar no futuro.
Chegou o tempo em
que Dom Francisco, trabalhando nas plantações se enfraqueceu e adoeceu
gravemente e o seu corpo se inchou muito. Estava muito mal. Não tinha forças
para caminhar. Foi à enfermaria. Infelizmente, enquanto ele estava na
enfermaria veio uma Comissão. Todos aqueles que não conseguiam trabalhar eram
eliminados: ou com o gás ou assassinados de outras maneiras. Foi assim com Dom
Francisco, foi colocado em uma sala à parte e inscrito para o transporte de
inválidos. Aquelas viagens terminavam no forno crematório. Com o transporte de
10 de agosto de 1942, Dom Francisco foi levado para ser eliminado com o gás no
Castelo de Hartheim, perto de Linz.
“Era bem cedo” –
recorda ainda Dom Kubicki. “Eu tinha terminado o turno da noite de trabalho. Na
estrada principal tinham conduzido os inválidos para preparar o seu embarque.
Dom Francisco, mesmo sabendo que se arriscava, atravessou a estrada e veio me
dar o adeus, com Dom Victor
Rysztok. Bateu na janela e eu saltei do colchão e fui até à janela.
Dom Francisco me disse: Zezinho, adeus! Nós partimos.
Eu estava tão
abatido que não conseguia sequer dizer uma palavra de amargura. E Dom Francisco
continuou: Zezinho, não fica com
pena de mim. Nós, hoje, tu amanhã…
E com muita calma
disse ainda: Nós vamos... mas,
ofereceremos como poloneses a nossa vida para Deus, pela Igreja e pela Pátria.
Foram estas as
últimas suas palavras: Para
Deus, pela Igreja e pela Pátria” .
Don Francisco
demonstrou neste supremo e dramático momento de ser bom pastor “pronto a dar a
vida pelas suas ovelhas” e o expressou no oferecimento, conscientemente e
livremente, da vida que, aparentemente lhe era tirada injustamente. Como Jesus.
“Eu ofereço a minha vida e depois a retomo. Ninguém me tira a vida; sou eu que
a ofereço de boa vontade” (Jo 10,17-18).
Para Dom
Francisco, “cordeiro imolado conduzido ao matadouro”, a conformação a Cristo,
vítima e senhor da morte, alcança o seu apogeu naquela saudação, antes de subir
no comboio dos inválidos: “Para Deus, pela Igreja e pela
Pátria”.
Oração pela
Canonização do Beato Francisco Drzewiecki
Ó Deus, Pai bom e
providente, nós te agradecemos por nos teres dado no Beato Francisco Drzewiecki
um exemplo luminoso de sacerdote totalmente dedicado a causa de Cristo e da
Igreja, através da educação dos jovens e da caridade para com os pequenos, os
pobres e o povo.
Infunde em nós a
fortaleza do teu Espírito, a fim de que como o Beato Francisco, vítima
inocente, possamos testemunhar, no meio das trevas do egoísmo e do mal, que
somente a caridade salvará o mundo e que o último a vencer serás Tu, numa grande
e infinita misericórdia.
Para a glória do
teu nome e para que venha o teu Reino de paz e justiça, pela intercessão do
Beato Francisco, concede-nos a graça que te pedimos (diz a graça pedida...).
Glória ao Pai...
Nenhum comentário:
Postar um comentário