"Eu tenho Jesus crucificado em meu coração!"
Clara teve a visão de Jesus vestido como um peregrino pobre. Seu rosto arrasado pelo peso da cruz e seu corpo mostrando os sinais de um caminho duro carregando a cruz. Clara estava de joelhos tratando de evitar que Ele continuasse caminhando, e lhe perguntando
"Senhor, aonde vai?";
Jesus lhe respondeu: "procurei no mundo inteiro por um lugar forte onde plantar firmemente esta Cruz, e não encontrei nenhum".
Clara o olha e toca a cruz, mostrando ao Senhor o desejo de tantos anos de compartilhar sua cruz. O rosto de Jesus já não estava exausto, mas brilhando de amor e de gozo. Sua viagem tinha terminado.
Ele lhe diz: "Sim Clara, aqui encontrei um lugar para minha cruz; ao fim encontro alguém a quem posso confiar minha cruz", e a implantou em seu coração. A intensa dor que sentiu em todo seu corpo, ao receber a Cruz de Jesus em seu coração, permaneceu com ela. Desde esse primeiro momento, sempre esteve consciente da cruz, que não somente sentia mas sim a sentia com cada fibra de seu ser. Era parte dela, seu Amor Jesus e ela era um em sua Cruz.
Após a sua morte, as freiras imediatamente prepararam o corpo de Clara para que todos pudessem vê-la. Primeiro lhe tiraram o coração e o puseram em um caixa florida de madeira. A Missa funeral foi celebrada em 18 de Agosto. Nessa noite, as irmãs abriram o coração de Clara para prepará-lo e pô-lo em um relicário, para seu assombro, as palavras de Clara se fizeram vida;
"Porque me fazem o sinal da Cruz? Eu tenho Jesus crucificado em meu coração".
Diante delas estavam as marcas da Paixão de Jesus.
Dentro do coração estava a forma perfeita de Jesus Crucificado, ainda a coroa de espinhos na cabeça e a ferida da lança no lado. Além disso, feitos de ligamentos ou tendões, os flagelos usados na flagelação, com as pontas mostrando as bolas de metal com os ossos para rasgar a carne e os ossos do Senhor.
Santa Clara nasceu em Montefalco, em 1268. Sua irmã mais velha, Giovanna de 20 anos e sua amiga Andreola, estabeleceram uma Ermida, aonde se dedicaram a uma vida de oração e de sacrifício.
No ano 1274 recebeu
aprovação das autoridades eclesiásticas e foi então que, Giovanna pôde receber
mais irmãs à Ordem. A primeira candidata foi sua irmã Clara, de 6 anos de
idade.
O exemplo de seus pais, que
tinham uma grande devoção ao Senhor e a sua Mãe, e o de sua Irmã e sua
companheira, contribuíram para que se desenvolvesse em Clara o desejo de amar e
servir o Senhor através de uma vida de oração. Ela era uma menina muito viva a
que todos viam que ultrapassava às meninas de sua idade. Era além disso,
extremamente amorosa.
Desde que entrou para o
convento mesmo sendo mais jovem que as demais, mantinha-se ao mesmo nível que
suas duas companheiras, tanto na oração como na penitência.
Desde muito pequena, teve um
ardente amor pelo Senhor, especialmente por sua Paixão. Este fogo interior foi
o que lhe deu a energia, o zelo e a força, para viver uma vida que para muitos
seria impossível. Desde pequena teve grande apetite, e tinha que lutar contra
seus desejos de comer os pratos que mais gostava, jejuando constantemente,
especialmente durante a Quaresma.
Em 1278 e dois anos depois
de ter entrado para o Convento entrou Marina, amiga de Clara, e foi seguida de
muitas outras pelo que tiveram que mudar-se a uma montanha perto da cidade,
onde construíram outra Ermida.
Giovanna obteve permissão
para enviar algumas irmãs para pedir esmola. Clara que tinha 15 anos, insistiu
tanto em ir que, venceu as objeções de sua irmã, e ela junto com Marina, saíram
durante 40 dias em busca de esmolas; nunca retornavam sem ter completado seu
encargo. Sua irmã Giovanna, pensando em proteger Clara, não lhe permitiu sair
mais, e Clara esteve no convento pelo resto de seus anos.
Clara passava de oito a dez
horas diárias em oração, e pelas noites caía de joelhos rezando o Pai Nosso.
No ano de 1288, quando Clara
tinha 20 anos. Parecia que estava chegando a alcançar a completa união com
Jesus, quando o Senhor a provou adentrando-a em um deserto. Foi uma prova dada
pelo Senhor para castigar seu orgulho e para que ela visse que sem Ele não
podia fazer nada. Clara entrou no deserto. Perseguida por todo tipo de tentações,
vítima das emoções. Sentia que Deus a tinha abandonado. Esta tortura durou onze
anos de sua vida, através da qual esteve sem a assistência espiritual que ela
desesperadamente ansiava. Clara carregava o peso de seus sentimentos de
insegurança em seu coração.
Em 22 de novembro de 1291,
morre sua irmã Giovanna. Foi um golpe muito duro para Clara pois via em sua
irmã o exemplo a seguir e a pessoa que a formava em sua vida espiritual.
O representante do Bispo
chegou para a eleição da nova Abadessa. As monjas unanimemente escolheram
Clara. Sentindo-se totalmente indigna, rogou-lhes que escolhessem a alguma
mais, que fora Santa e sábia, dizendo que ela não era nenhuma das duas coisas;
mas sua petição não foi escutada.
Aceitou sua
responsabilidade, embora se sentisse indigna, e se converteu em Madre, Mestra,
e Diretora Espiritual. Ensinava a suas irmãs a oferecer ao Senhor todas suas
necessidades individuais, para que fossem moldadas nas necessidades da
comunidade, formando assim nelas um verdadeiro corpo, com uma vida em comum.
Ela dirigia, pessoalmente, e
incessantemente as irmãs em suas necessidades espirituais e corporais. Dizia:
"Quem ensina à alma, a não ser Deus? Não há melhor instrução para o mundo
que a que vem de Deus".
Como Clara foi tão provada e
sofreu tantas lutas e dúvidas, podia falar com autoridade a outros. Através de
sua experiência podia relacionar-se com a batalha espiritual sofrida por
outros. Podia ministrar às pessoas fora da comunidade, que vinham vê-la,
contando com os dons de conhecimento e sabedoria que lhe tinha dado o Senhor.
Por seu amor e cuidado
genuíno, Clara atraía ao mosteiro sacerdotes, teólogos, bispos, juízes, Santos
e pecadores. Nunca descuidou suas responsabilidades para suas irmãs dentro do
mosteiro por seu apostolado com aqueles de fora do claustro.
Clara tinha um amor muito
grande pelos pobres e perseguidos. Enviava as irmãs externas com comida e
medicamentos para os necessitados. Dava a amigos e inimigos igualmente, e às
vezes mais aos inimigos. Assim como era amorosa, generosa e entregue, mais
ainda era firme. Enfrentava a todos seus perseguidores com estas qualidades,
nunca retrocedendo diante deles. Ela se atreveu a ser impopular, enfrentando o
pensamento popular do mundo, assim como ao de suas próprias freiras, se ela
pensava que estava incorreto.
O ano 1294 foi um ano
decisivo na vida de Clara. Na festa da Epifania, depois de ter feito uma
confissão geral diante de todas as irmãs, caiu em êxtase e permaneceu assim por
várias semanas. As irmãs a mantinham com vida dando-lhe água e açúcar. Durante
este tempo, Clara teve uma visão, em que se viu sendo julgada diante de
Deus,"viu o inferno com todas as almas perdidas sem esperança e o céu com
os Santos, gozando perfeita felicidade na presença de Deus. Viu Deus em toda
sua majestade. Revelou-lhe quão incondicionalmente fiel uma alma deve ser a ele
para viver de verdade nele e com Ele. Ao recuperar-se, resolveu "nunca
pensar ou dizer algo que a separasse de Deus". Também dizia: Se Deus não
me protegesse, seria a pior mulher no mundo".
No ano de 1303 conseguiu
construir a Igreja que tanto sonhou, que não somente serviria ao convento, mas
também à comunidade do povo. A primeira pedra foi abençoada em 24 Junho de 1303
pelo Bispo de Espoleto e nesse dia a Igreja foi dedicada à Santa Cruz.
Devido a suas penitências de
tantos anos, seu corpo começou a debilitar-se e em Julho de 1308 já não pôde
levantar-se mas de sua cama. O demônio a atacava incansavelmente, tratando de
fazê-la sentir que ela era indigna de Deus; que Deus não a encontrava
agradável, que se tinha equivocado em tudo o que ela havia dito e feito;
levando assim muitas almas à perdição. Mas com a fortaleza do Senhor e sua fé
não cedeu às insinuações do demônio.
Na noite de 15 de Agosto,
chamou as freiras e lhes deixou seu último testamento espiritual:
"Eu ofereço minha alma
por todas vocês e pela morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sejam abençoadas por
Deus e por mim. E oro, minhas filhas, que vocês se comportem bem e que todo o
trabalho que Deus me tem feito fazer por vocês seja abençoado. Sejam humildes,
obedientes; sejam tais mulheres, que Deus seja louvado sempre através de
vocês".
Na sexta-feira 16 de Agosto,
à tarde, Clara pediu que viesse seu irmão Francisco. Nessa noite chegou e a
encontrou muito cansada; mas na manhã seguinte, Clara parecia estar se
recuperando. Francisco partia quando duas irmãs o chamaram e levaram a ver
Clara, que sentada na cama, com a cor do rosto aceso e sorrindo, parecia completamente
recuperada. Deu a seu irmão aconselhamento espiritual, já que ela era sua
diretora espiritual e mestra, falando longamente com ele. Um ambiente de
alegria e celebração começou a se espalhar pelo convento, quando Clara chamou
frei Tomaso, o capelão do convento, e lhe disse: "Eu confesso ao Senhor e
a você todas minhas faltas e ofensas", e mais tarde, dizia a suas freiras:
"Agora já não tenho nada mais que lhes dizer. Vocês estão com Deus porque
eu vou com Ele." E se manteve assim, sentada na cama, seus olhos olhando o céu,
sem mover-se. Passaram vários minutos e Francisco tomou o pulso; olhando às
irmãs, chorando anunciou-lhe que Clara tinha morrido.
Morreu no sábado 17 de
Agosto, de 1308, às nove da manhã.
Oração:
Ó Deus,que renovastes continuamente a vida de
Santa Clara de Montefalco com a mediação da Paixão de vosso Filho: concedei-nos
que, seguindo seu exemplo, constantemente possamos renovar nossa imagem em nós.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
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