Nós acreditamos e sabemos
que a morte e o ódio não são as últimas palavras pronunciadas sobre a parábola
da existência humana. Ser cristão implica uma nova perspectiva: um olhar cheio
de esperança. Sabemos que Deus nos quer herdeiros de uma promessa e incansáveis
cultivadores de sonhos.
“Eis que faço novas todas as coisas”(Ap), é
novidade da esperança cristã, uma esperança baseada na fé em Deus que sempre
cria novidades na vida do homem, na história e no cosmos. Novidades e surpresas.
Neste sentido, não é cristão caminhar com o
olhar voltado para baixo - como fazem os porcos: sempre vão assim - sem
levantar os olhos para o horizonte, como se todo o nosso caminho se consumisse
aqui, no palmo de poucos metros de viagem; como se na nossa vida não existisse
nenhuma meta e nenhum ponto de chegada, e nós fossemos obrigados a um eterno
vaguear, sem nenhuma razão para tantas nossas dificuldades. Isto não é cristão.
As páginas finais da Bíblia nos mostram o
horizonte último do caminho do crente: a Jerusalém do Céu, a Jerusalém celeste,
imaginada antes de tudo como uma grande tenda onde Deus acolherá todos os
homens para habitar definitivamente com eles. E esta é a nossa esperança.
Mas quando estivermos com Deus, o que Ele
fará conosco? Usará uma ternura infinita em relação a nós, como um pai que
acolhe os seus filhos que passaram por muitas dificuldades e sofreram muito.
Vamos ler e meditar – mas não de maneira
abstrata - a profecia de João em Apocalipse 21,3-5 (onde diz que Deus enxugará
as lágrimas de todas as faces e fará novas todas as coisas), mas depois de ter
visto o telejornal ou as manchetes dos jornais, onde existem tantas tragédias,
onde se fala de tantas notícias tristes às quais todos correm o risco de se
acostumar:
Procurem pensar nos rostos das crianças
amedrontadas pela guerra, ao choro das mães, aos sonhos desfeitos de tantos
jovens, aos refugiados que enfrentam viagens terríveis. A vida infelizmente é
também isto. Às vezes se diria que é, sobretudo, isto.
Mas diante desta realidade, existe um Pai que
chora conosco; existe um Pai que chora lágrimas de infinita piedade em relação
aos seus filhos. Nós temos um Pai que sabe chorar, que chora conosco. Um Pai
que espera para nos consolar, porque conhece os nossos sofrimentos e preparou
para nós um futuro diferente.
Esta é a grande visão da esperança cristã,
que se dilata sobre todos os dias da nossa existência, e nos quer reerguer!
Deus não criou a nossa vida por equívoco, obrigando
a Si mesmo e a nós a duras noites de angústias, mas nos criou porque nos quer
felizes. É o nosso Pai, e se nós aqui, agora, experimentamos uma vida que não é
aquela que Ele quis para nós, Jesus nos garante que o próprio Deus está
operando o seu resgate. Ele trabalha para nos resgatar.
Algumas pessoas acreditam que a vida ofereça
todas as suas felicidades na juventude e no passado, e que o viver seja um
lento declínio, ou que as nossas alegrias sejam esporádicas e passageiras, e na
vida dos homens esteja inscrita uma falta de sentido. Os que, diante de tantas
calamidades dizem: Mas, a vida não tem sentido. O nosso caminho não tem sentido.
Mas nós cristãos não acreditamos nisto:
Acreditamos, pelo contrário, que no horizonte
do homem existe um sol que ilumina para sempre. Acreditamos que os nossos dias
mais belos estão ainda por vir. Somos gente mais de primavera do que de outono:
vemos os brotos de um mundo novo antes que as folhas amareladas nos ramos. Não
nos refugiamos em nostalgias, arrependimentos e lamentações: sabemos que
Deus nos quer herdeiros de uma promessa e incansáveis cultivadores de sonhos.
Não esqueçam a pergunta: Eu sou uma pessoa de primavera ou
outono? De primavera, que espera a flor, que espera o fruto, que espera
o sol que é Jesus, ou de outono, que está sempre com o rosto olhando para
baixo, amargurado e, como disse às vezes, com a cara de pimentão no vinagre?
O cristão sabe que o Reino de Deus, o seu
Senhorio de amor, está crescendo como um grande campo de trigo, mesmo que no
meio exista a cizânia. E no final o mal será eliminado:
O futuro não nos pertence, mas sabemos que
Jesus Cristo é a maior graça da vida: é o abraço de Deus que nos espera no
final, mas que já agora nos acompanha e nos consola no caminho. Ele nos conduz
à grande tenda de Deus com os homens, com tantos irmãos e irmãs, e levaremos a
Deus a recordação dos dias vividos aqui embaixo:
E será bonito descobrir naquele instante que
nada foi perdido, nenhum sorriso, nenhuma lágrima. Mesmo que a nossa vida tenha
sido longa, nos parecerá de ter vivido um sopro. E que a criação não para no
sexto dia da Gênesis, mas prosseguiu incansável, porque Deus sempre se
preocupou conosco. Até o último dia em que tudo se cumprirá, na manhã em que se
enxugarão as lágrimas, no instante mesmo em que Deus pronunciará a sua última
palavra de bênção: "Eis que faço novas todas as coisas”. Sim, o nosso Pai é o
Deus das novidades e das surpresas. E naquele dia nós seremos realmente
felizes, e choraremos. sim, mas choraremos de alegria.
Papa Francisco - 23 de agosto de 2017
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