"Escrevo a
todas as Igrejas e insisto junto a todas que morro de boa vontade por Deus, se
vós não mo impedirdes.
Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência
inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é
possível encontrar Deus.
Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras,
para encontrar-me como pão puro de Cristo. Acariciai
antes as feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu
corpo, para que na minha morte não me torne peso para ninguém.
Então de fato serei
discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo.
Implorai a Cristo
em meu favor, para que por estes instrumentos me faça vítima de Deus.
Não é como Pedro e
Paulo, que vos ordeno. Eles eram apóstolos, eu um condenado; aqueles, livres, e
eu até agora escravo. Mas, quando tiver padecido, tornar-me-ei alforriado de
Jesus Cristo, e ressuscitarei n’Ele, livre. E agora, preso, aprendo a nada
desejar.
Desde a Síria,
venho combatendo com feras até Roma, por terra e por mar, de noite e de dia,
preso a dez leopardos, isto é, a um destacamento de soldados, que se tornam
piores quando se lhes faz o bem.
Por seus maus
tratos, porém, estou sendo mais instruído, mas nem por isso estou justificado.
Oxalá goze destas feras que me estão preparadas; rezo que se encontrem bem
dispostas para mim: hei de instigá-las, para que me devorem depressa, e não
aconteça o que aconteceu com outros que, amedrontadas, me não toquem.
Se elas por sua vez
não quiserem de boa vontade, eu as forçarei. Perdoai-me: sei o que me convém;
começo agora a ser discípulo. Coisa alguma visível e invisível me impeça
que encontre a Jesus Cristo. Fogo e
cruz, manadas de feras, quebraduras de ossos, esquartejamentos, trituração do
corpo todo, os piores flagelos do diabo venham sobre mim, contanto que encontre
a Jesus Cristo."
Trecho da Carta de
Santo Inácio de Antioquia aos Romanos - ano 110
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