sábado, 4 de outubro de 2014

A Pobreza


No dia de São Matias, em 24 de fevereiro de 1209, Francisco meditou longamente, desde a madrugada, sobre a missão de pregador. Sentia que não bastava reformar igrejas, mas que devia também pregar a palavra de Deus. Neste dia, na principal igreja de Assis, por divina inspiração compreendeu de maneira bem clara, o dever de anunciar Jesus. Ouvindo o padre proclamar: “Não possuais ouro nem prata, nem tragais dinheiro nas vossas cintas; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem cajado” (Mt 10,9-10), não teve dúvida a respeito da pobreza evangélica. Ele seria pobre, realmente pobre, e assim teria mais autoridade para mostrar o caminho do céu.

Querendo ouvir mais uma vez o Evangelho, Francisco e Bernardo abriram o livro sagrado e se deram com estas palavras: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu” (Mt 19,21). Pela segunda vez abriram o livro e se deparam com o seguinte: “Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, e tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23). Pela terceira vez abrem o livro e eis que encontram o seguinte: “Não possuais ouro nem prata, nem tragais dinheiro nas vossas cintas” (Mt 10,9).

O bispo de Assis, com prudência humana, disse a Francisco que não seria possível a vida de seus irmãos em tão rigorosa indigência. Francisco respondeu: “Senhor bispo, se possuíssemos bens, seríamos obrigados a possuir também armas para os defender e proteger. De toda a propriedade resultariam discussões com o vizinho, que prejudicariam o amor a Deus e aos homens; portanto, para conservarmos esse amor intacto e puro, estamos absolutamente decididos a nada querer possuir neste mundo.”

Indo por uma rua, Francisco censurou um religioso, que repelira asperamente um mendigo, que de maneira impertinente e com insistência pedia esmolas, mostrando sua extrema pobreza. Francisco se ajoelhou e pediu perdão ao mendicante. Voltou-se para o religioso e disse: “Irmão, quando vires um pobre, pensa que estás diante de um espelho do Senhor e de sua pobre mãe.”

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