Nascido no coração
da Itália, nos últimos vinte anos do século XII (fim de 1181 ou início de
1182), filho do rico proprietário e comerciante de tecidos Pedro de Bernardone
e de Joana, chamada Pica, seu nome batismal – João – foi logo mudado para
Francisco ("francês", nome já em uso, mas não muito difundido na
Itália) pelo pai, ao voltar dos seus negócios na França. A mãe, muito piedosa,
cuidou de sua primeira formação religiosa.
O Santo aprendeu a
ler e escrever na escola paroquial de São Jorge, em Assis, e completou sua
modesta cultura com elementos de cálculo, de poesia e música, adquirindo também
uma escassa noção da língua francesa (provençal) bem como de contos e lendas de
cavalaria. De gênio perspicaz e muito boa memória, Francisco adquirirá, mais tarde,
uma discreta cultura religiosa, lendo e meditando. Filho de rica família
burguesa, com um pai ambicioso, que pretendia alargar no exterior a área do seu
comércio, o ambiente familiar de Francisco foi aquele típico da classe média da
sociedade italiana da época, em escalada civil e política, ávida de bem-estar e
liberdade, até a conquista de um título de nobreza para equiparar-se aos
"maiores", que pairavam acima da massa dos pobres e
"menores".
Francisco,
largamente dotado de inteligência, ambicioso e ativo, no primeiro período de
vinte e cinco anos de vida "no século" (1182-1207), tentou
pessoalmente todas estas vias de subida e de glória mundana.
Filho primogênito
(com um só irmão menor, Ângelo), aclamado rei das festas e da juventude
assisiense, gastava profusamente as riquezas paternas, vestindo roupas curiosas
e vistosas, entretendo-se em noites de gala entre músicas e cantos. Tolerado
com indulgência pelos pais naquelas despesas "principescas", era
admirado especialmente pela mãe e pelos amigos por suas boas qualidades
naturais e morais, nobreza de palavras e de trato, generosidade com os pobres e
singular integridade dos costumes.Tomou parte ativa, aos vinte anos, na guerra comunal de Assis contra Perúgia (1202) e caiu prisioneiro dos peruginos. Libertado após um ano de prisão e provado por longa doença, o mundo começou a parecer-lhe diferente e estranho. Mas depois de certo tempo, restabelecido da doença e atraído por novos sonhos de glória, decidiu ir até as Apúlias para a conquista do título de cavaleiro (1205). A viagem de Francisco foi, contudo, interrompida em Spoleto, a sua "estrada de Damasco", onde o Senhor o convidava, em sonho, a entrar na companhia de um senhor mais nobre.
Revestido de uma pobre túnica, assinalada por uma cruz, e proclamando-se o "arauto do grande rei", ele passa um biênio de vida penitente e eremítica, entregue à oração e a serviços humildes, por breve tempo também, num mosteiro beneditino. Depois, interpretando literalmente o convite do Crucificado, empenha-se na restauração material de três igrejas de Assis: São Damião, São Pedro della Spina e Santa Maria dos Anjos, chamada Porciúncula.
À espera de nova iluminação divina, que veio logo depois da última restauração, quando escutou o Evangelho do envio e da pobreza dos Apóstolos, na igreja da Porciúncula (cerca de 24 de fevereiro de 1208), Francisco pediu explicação ao sacerdote a respeito do referido Evangelho e, nele reconheceu com alegria a própria vocação e missão (Mt 10;Lc 9,10).
Seguiram-no o rico
Bernardo de Quintavalle e o doutor em Direito, Pedro Cattani, aos quais se
juntaram o jovem Egídio e mais oito companheiros (1208). Um ano depois, o grupo
foi aprovado em seu modo de vida comunitária e apostólica pelo Papa Inocêncio
(1209). Era a Primeira Ordem, a "Ordem dos Menores". Instituiu também
a Segunda (Damas Pobres de São Damião ou Clarissas) e a Terceira Ordem.
Já doente, o
próprio Santo, após o retorno do Oriente, providenciou para a Ordem a direção
ativa de um vigário, na pessoa de Frei Elias de Assis (1221-1227), e a Regra
definitiva (1223). Encaminhava-se ao último período da sua vida, num crescendo
de ascensões místicas e no desejo de mais íntima participação e conformidade
com o Crucificado.
No verão de
1224, retirou-se para o Monte Alverne, onde, entre prolongadas orações,
meditações e jejuns, apareceu-lhe o próprio Cristo Crucificado, na figura de um
Serafim alado e flamejante, que lhe imprimiu na carne os estigmas vivos da
paixão: feridas abertas e sangrentas, com pregos de longas pontas dobradas
(constituídas pela própria carne) nas mãos e nos pés, além da chaga no peito.
Descendo do
Monte Alverne, Francisco transcorreu seu último biênio de vida numa contínua
paixão de doenças e dores, afligido por uma grave oftalmia contraída no
Oriente. Entre o fim de 1224 e os primeiros dias de 1225,
"certificado" pelo Senhor de sua morte próxima e do prêmio eterno,
num ímpeto de exaltação mística pela obra da criação, ditou aos companheiros o
"Cântico do irmão Sol e de todas as criaturas" (LP, 43-45).
Na
Porciúncula, meditando a narração joanina da Paixão e celebrando com seus
religiosos a lembrança da última ceia do Senhor, invocando a "irmã
morte" e cantando o Salmo "Em voz alta ao Senhor eu imploro… Muitos
justos virão rodear-me pelo bem que fizeste por mim" expirou na tarde de
Sábado de 3 de outubro de 1226, com a idade de 44 anos.
No dia seguinte,
Domingo, pela manhã, com solene procissão do clero e povo, seu corpo foi levado
à igrejinha de São Jorge, dentro dos muros da cidade, ficando aí guardado por
cerca de quatro anos, onde também o Santo foi canonizado, em 16 de Julho de
1228.
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