A obra mística mais famosa
de santa Teresa é o Castelo interior, escrito em 1577, em plena maturidade. Trata-se de uma
releitura do próprio caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, de uma
codificação do possível desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a
santidade, sob a ação do Espírito Santo.
Teresa inspira-se na
estrutura de um castelo com sete quartos, como imagem da interioridade do
homem, introduzindo ao mesmo tempo o símbolo do bicho da seda que renasce como
borboleta, para expressar a passagem do natural ao sobrenatural.
A santa
inspira-se na Sagrada Escritura, em particular no Cântico
dos Cânticos, para o símbolo final dos «dois Esposos», que lhe
permite descrever no sétimo quarto o ápice da vida cristã nos seus quatro
aspectos: trinitário, cristológico, antropológico e eclesial.
Não é fácil resumir em
poucas palavras a profunda e minuciosa espiritualidade teresiana. Gostaria de
mencionar alguns pontos essenciais.
Em primeiro lugar, santa Teresa propõe as
virtudes evangélicas como base de toda a vida cristã e humana: em especial, o
desapego dos bens, ou pobreza evangélica, e isto diz respeito a todos nós; o
amor mútuo como elemento básico da vida comunitária e social; a humildade como
amor à verdade; a determinação como fruto da audácia cristã; a esperança
teologal, que descreve como sede de água viva.
Sem esquecer as virtudes
humanas: a afabilidade, veracidade, modéstia, cortesia, alegria e cultura.
Em
segundo lugar, santa Teresa propõe uma profunda sintonia com as grandes figuras
bíblicas e a escuta viva da Palavra de Deus. Ela sente-se em sintonia sobretudo
com a esposa do Cântico dos Cânticos e com o apóstolo Paulo, mas também com o Cristo da Paixão e com Jesus
Eucarístico.
Depois, a santa realça como
a oração é essencial; orar, diz, «significa frequentar com amizade, porque
frequentamos face a face Aquele que sabemos que nos ama». A ideia de santa Teresa coincide com a definição que s. Tomás de
Aquino dá da caridade teologal, como«amicitia quaedam hominis ad Deum», um tipo de amizade do homem com Deus, que foi o primeiro a oferecer a
sua amizade ao homem; a iniciativa vem de Deus. A oração é vida e desenvolve-se
gradualmente com o crescimento da vida cristã: começa com a prece vocal, passa
pela interiorização mediante a meditação e o recolhimento, até chegar à união
de amor com Cristo e a Santíssima Trindade.
Obviamente, não se trata de um
desenvolvimento em que subir os degraus mais altos quer dizer deixar o
precedente tipo de oração, mas é antes um aprofundar-se gradual da relação com
Deus que envolve toda a vida.
Mais do que uma pedagogia da oração, a de Teresa
é uma verdadeira «mistagogia»: ao leitor das suas obras ensina a rezar, orando
ela mesma com ele; com efeito, frequentemente interrompe a narração ou a
exposição para irromper em oração.
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