quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Carta de São João Leonardo, presbítero, ao Papa Paulo V

Indicar-te-ei o que o Senhor exige de ti

Os que desejam dedicar se à reforma dos costumes dos homens, procurando antes de mais a glória do Senhor, devem em primeiro lugar esperar e pedir, para tão salutar e difícil problema, o auxílio d’Aquele de quem procede todo o bem.

Apresentem-se a si mesmos perante aqueles que desejam reformar, como espelho de todas as virtudes e como lâmpadas postas sobre candelabros, a fim de resplandecerem pela integridade de vida e brilho de costumes à vista de todos os que estão na casa de Deus.
Deste modo, em vez de obrigarem, atrairão suavemente os homens à reforma de vida.
Como afirma o Concílio de Trento, não se exija ao corpo o que não aparece na cabeça da Igreja, pois assim seria ameaçada a estabilidade e a ordem de toda a família do Senhor. Além disso, à semelhança de médicos prudentes, procurem com diligência conhecer a fundo todas as enfermidades que afligem a Igreja e peçam remédio, a fim de poderem aplicar a cada uma delas os medicamentos oportunos.

Quanto aos remédios, que são comuns à Igreja – dado que a sua reforma deve afetar igualmente os primeiros e os últimos, os governantes e os governados – é necessário fixar os olhos primeiramente em todos aqueles que são superiores dos outros, para que a reforma comece no lugar donde deve irradiar para os demais.

Deve pôr se muito cuidado na escolha dos cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos e párocos, que são os responsáveis diretos na cura de almas, para que sejam tais que se lhes possa entregar com confiança o governo do rebanho do Senhor.
Mas passemos também dos superiores aos inferiores, isto é, da cabeça aos mais pequenos, pois estes não podem ficar esquecidos por quem sente a preocupação de elevar o nível da vida cristã. Não se devem deixar de experimentar todos os meios que contribuam para educar as crianças, desde os primeiros anos, em bons costumes e numa fé cristã sincera. Para conseguir isto, nada tão indicado como uma santa instituição para o ensino da doutrina cristã, confiando a formação de tais crianças só a homens bons e tementes a Deus.


São estas, santíssimo Padre, as sugestões que por agora o Senhor Se dignou inspirar me acerca de tão gravíssimo problema. Se à primeira vista parecem muito difíceis, ao compará-las com a importância do assunto parecem até muito fáceis. De resto, nada de grande se consegue sem grandes esforços e os grandes empreendimentos confiam se aos grandes homens.”

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