quarta-feira, 22 de outubro de 2014

São João Paulo II - Sofrimento e Perdao



“Desejo partilhar ao menos brevemente convosco o que foi a matéria das minhas meditações naquele período dalguns meses, no qual participei numa grande Prova divina.

Digo: Prova divina. Embora, de lado, os acontecimentos de 13 de Maio — o atentado à vida do Papa e também as consequências dele, relacionadas com a intervenção e com o tratamento na Policlínica Gemelli — tenham a sua dimensão plenamente humana, todavia esta não pode ofuscar uma dimensão ainda mais profunda: a dimensão precisamente da Prova permitida por Deus. Nesta dimensão deve-se colocar também tudo aquilo de que falei quarta-feira passada. Hoje desejo, uma vez mais, voltar a isso.

Deus permitiu-me experimentar, durante os meses passados, o sofrimento, permitiu-me experimentar o perigo de perder a vida. Permitiu-me ao mesmo tempo compreender, claramente e até ao fundo, que esta é uma graça Sua especial para mim próprio como homem, e ao mesmo tempo — em consideração do serviço que desempenho, como Bispo de Roma e Sucessor de São Pedro uma graça para a Igreja.

É assim, caros Irmãos e Irmãs: sei que experimentei uma grande graça. E, recordando-vos ao mesmo tempo o que sucedeu em 13 de Maio e durante todo o período seguinte, não posso deixar de falar sobretudo disto. Cristo, que é a Luz do mundo, o Pastor do Seu rebanho, e sobretudo o Príncipe dos pastores, concedeu-me a graça de poder, mediante o sofrimento e com o perigo da vida e da saúde, dar testemunho à Sua Verdade e ao Seu Amor. Precisamente isto julgo ter sido uma graça particular a mim concedida — e por este motivo exprimo de modo especial o meu reconhecimento ao Espírito Santo, que os Apóstolos e os seus sucessores receberam no dia do Pentecostes como fruto da Cruz e da Ressurreição do seu Mestre e Redentor.”

Audiência Geral 14/10/1981


SOFRIMENTO PELAS FAMÍLIAS

“Eu meditava , eu repensava em tudo isso durante a minha estadia no hospital. E eu encontrei -me novamente ao lado da grande figura do Cardeal Wyszynski , Primaz da Polônia (que recordamos  ontem o 13 º aniversário da morte). Ele, no início do meu pontificado , me disse: "Se o Senhor te chamou, você tem que conduzir a Igreja no Terceiro Milênio ". Ele mesmo levou a Igreja na Polônia, no segundo milênio cristão .

Então eu  percebi que eu tenho que introduzir a Igreja de Cristo neste terceiro milênio com a oração, com várias iniciativas, mas já vi que não é suficiente: era necessário apresentá-lo com sofrimento, com o atentado de 13 anos atrás, e com este novo sacrifício. Porque agora, porque neste ano, porque neste Ano da Família? Precisamente porque a família é ameaçada, a família é atacada. Deve ser atacado, o Papa, o Papa deve sofrer, porque cada família e o mundo vão ver que há um Evangelho, eu diria, de cima: o Evangelho do sofrimento, com a qual você deve se preparar para o futuro, do terceiro milênio das famílias, de cada família e de todas as famílias.”


Angelus 29/05/1994




PERDÃO

Cristo ensinou-nos a perdoar. O perdão é indispensável também para que Deus possa apresentar à consciência humana interrogativos, aos quais espera resposta em toda a verdade interior.

Neste tempo, em que tantos homens inocentes morrem às mãos de outros homens, parece impor-se uma especial necessidade de nos aproximarmos de cada um daqueles que matam, aproximarmo-nos com o perdão no coração e também com a mesma pergunta que Deus, Criador e Senhor da vida humana, fez ao primeiro homem que atentara à vida do irmão e lha tirara — tirara aquilo que é propriedade exclusiva do Criador e do Senhor da vida.

Cristo ensinou-nos a perdoar. Ensinou Pedro a perdoar "setenta vezes sete" (Mt 18, 22). Deus mesmo perdoa, quando o homem responde à pergunta dirigida à própria consciência e ao próprio coração com toda a verdade interior da conversão.

Deixando a Deus mesmo o juízo e a sentença na sua dimensão definitiva, não deixemos de pedir: "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".

Audiência Geral 21/10/1981

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