quarta-feira, 27 de maio de 2015

Nossa Senhora do Capítulo

Entraram os frades menores em Portugal pelo ano de 1216, demandando logo a corte do rei Dom Afonso II, que residia em Coimbra. Foi, então, grande a afeição que lhes tomou a rainha Dona Urraca, sua mulher, que os adotou por filhos, e os mandou abrigar com exímia caridade. Daí passaram para a vila de Alenquer. Pela fama já divulgada de suas virtudes e do seu zelo pelo bem espiritual das almas, recebeu-os em Alenquer a infante Dona Sancha, com muita piedade e devoção, e, desejando muito que ali ficassem, deu-lhes um lugar para a fundação de um convento.
No capítulo (sala onde se reúnem os religiosos para deliberar sobre negócios de sua jurisdição; essas reuniões chamam-se “capítulos”, daí o nome da sala) deste convento se venera, desde a sua fundação, uma milagrosa imagem de Nossa Senhora, à qual se refere a seguinte maravilha:

Houve nesse convento um noviço de vida muito inocente, ao qual o guardião ordenou certo dia, em penitência de leve culpa, que não se apartasse do altar de Nossa Senhora enquanto ela mesma não lhe revelasse que oração lhe era mais aceita dentre todas as que lhe eram dirigidas.
O santo noviço perseverou de joelhos todo o dia, e, sendo já alta noite, do profundo da alma, com grande afeto, devoção e lágrimas, prorrompeu nestas palavras:
“Ó Virgem Santíssima, Mãe de Piedade, humildemente vos rogo, manifesteis a esse vosso servo o que o guardião me mandou perguntar-vos. Por obediência, Mãe Santa, daqui não hei de me afastar sem lhe levar a resposta.”
Eis que, inclinada a imagem de Nossa Senhora, a seus humildes rogos, do altar onde estava lhe responde:
“Vai, amantíssimo filho, e afirma que o hino ‘O gloriosa Domina’, que a Igreja me canta, é de todas as orações a que me é mais aceita, e, para provar o que te digo, este meu Infante Jesus, que até agora tive no braço direito, eu o passo para o esquerdo, por isso, vai confiante, que, vendo o mundo tão extraordinária maravilha, todo ele te dará crédito; e convida o guardião e os mais religiosos para virem me visitar”.
O santo noviço, consolado com tão grande favor, depois de agradecer a Nossa Senhora, foi obediente referi-lo ao guardião, que, alvoroçado, assim como os outros religiosos, foram todos, e, vendo o tão manifesto milagre que Nossa Senhora havia operado em sua santa imagem, creram no que o noviço afirmava da oração “O Gloriosa Domina”, crescendo nos fiéis, daquele dia em diante, a devoção a Nossa Senhora, que ainda hoje persevera.

Conservou-se sempre o Menino mudado, sendo evidentíssimos testemunhos da verdade deste sucesso os sinais que ficaram no lugar em que tinha estado o Menino. Sucedeu este prodígio no ano de 1224, e, para comemorá-lo, todos os sábados, depois das Completas, tocado o sino grande, vai a comunidade em procissão ao capítulo, com círios acesos, acompanhada de multidão, e, com solenidade e devoção, de joelhos cantam o hino “O Gloriosa Domina”.
Parece que foi deste fato que nasceu, em nosso Santo Antonio de Lisboa, a grande devoção que tinha a esse hino, valendo-se dele em suas maiores necessidades, como fez certa noite em que o demônio quis afogá-lo, invejoso do grande fruto que produzia na Itália a sua pregação, afugentando-o com a repetição deste hino. Este milagre é referido por todos os autores franciscanos.

Como a imagem milagrosa estava na sala do capítulo, deram a Nossa Senhora o novo título: Nossa Senhora do Capítulo.

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