Dom Romero foi assassinado em 1980 por um membro dos
esquadrões da morte - ativos na época da guerra civil salvadorenha - enquanto
celebrava a Missa na capela do Hospital da Divina Providência, em San Salvador.
Recordá-lo é importante porque é um dos testemunhos que
marcou a história da Igreja, a partir do Vaticano II. Não por acaso em 24 de
março, dia de seu martírio, celebram-se os mártires de toda a Igreja
contemporânea – os novos mártires – e além disso, as próprias Nações Unidas
elegeram este dia como dia de memória da liberdade da própria fé, do testemunho
das próprias convicções.
Ainda existem resistências, em relação à sua memória,
infelizmente, não somente em casa, mas também fora, e perto de nós muitas
vezes. A resistência nascia do fato que, como escreve o Concílio Vaticano II,
como a Igreja latino-americana imediatamente após o Concílio Vaticano II havia
afirmado: o Evangelho não é indiferente, o Evangelho não é uma devoção, o
Evangelho transforma o mundo. E Romero havia compreendido que, para mudar o
mundo, era necessário partir, como escreve o Evangelho, do amor pelos pobres.
Muitos pensaram que esta escolha pelos pobres era uma escolha política, ditada
quem sabe por uma análise marxista, etc. Mas não é assim: a escolha de amar os
pobres para mudar o mundo é a mesma que fez Jesus. Esta escolha Romero fez sua,
e muitos se opuseram, até matá-lo. Se opuseram aqueles que, mesmo cristãos,
eram porém ditadores, aqueles que queriam subjugar os mais pobres, explorá-los
e violentá-los. Romero escolheu, pelo contrário, esta Igreja. E eis porque
existe um grande consenso sobre ele. Quiseram matá-lo para fazê-lo calar.
Romero, com o sacrifício da vida, continua hoje a falar.
A escolha feita por Dom Romero o levou também a um
martírio post mortem... Papa Francisco
O Papa Francisco pronunciou estas palavras diante dos
bispos de El Salvador e de uma peregrinação de salvadorenhos, vindos para
agradecê-lo pela beatificação de Romero. E o Papa Francisco disse estas
palavras com uma força que eu não esqueço. É a oposição que ainda hoje muitos,
ou alguns, querem fazer à mesma mensagem do Papa Francisco: o Evangelho não
deixa o mundo assim como é, o Evangelho não deixa os crentes como se nada
houvesse. O Evangelho pede para se fazer escolhas, para estar do lado dos
pobres, dos sofredores, de dar a vida por isto, eis porque o Papa Francisco,
sublinhando também a oposição post mortem a
Romero, no fundo continua a dizer aquilo que já Jesus tantas vezes havia dito:
“Se a mim perseguiram, perseguirão também a vós”. E eis porque não devemos
render-nos ou retroceder, mas devemos continuar a olhar Romero como um grande
exemplo de crente, de novo mártir deste tempo. Como se pode ser cristãos, olhar
Romero e depois ser indiferente àqueles que morrem no Mediterrâneo, ou levantar
barreiras e muros, ou virar as costas diante dos conflitos”.
Eu acredito que estejamos em um bom ponto para a sua
canonização. Estamos examinando um milagre que diz respeito a uma mulher grávida
e o seu filho que foram, esperemos, milagrosamente curados por intercessão de
Dom Romero. Foi concluído o processo diocesano que foi enviado a Roma e
iniciamos o exame do milagre. Faço votos de que o processo termine logo. Se
tudo isto acontecer, é possível que se possa esperar para o próximo ano a celebração
da canonização de Romero.
Dom Vincenzo Paglia - Postulador da Causa de Canonização de Dom Óscar Romero - 11 de agosto de 2017
O martírio de Dom Romero não foi no momento de sua morte,
mas seu sofrimento foi anterior e posterior. Uma vez morto - “eu era um jovem
sacerdote e ouvi” – foi difamado e caluniado inclusive por seus irmãos no
sacerdócio e no episcopado. “Ou seja, é lindo vê-lo assim também: um homem que
segue sendo mártir. Depois de dar a sua vida, seguiu deixando-se açoitar por
todas essas incompreensões e calúnias. Isso me dá força, só Deus sabe. Somente
Deus conhece as histórias das pessoas, e quantas vezes as pessoas que deram sua
vida continuam sendo lapidadas com a pedra mais dura que existe no mundo: a
língua.”
Papa Francisco – 30 de outubro de 2015
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