quinta-feira, 8 de março de 2018

08 de março - “Para entender uma mulher antes é necessário sonhá-la" Papa Francisco



“Para entender uma mulher antes é necessário sonhá-la”: eis por que a mulher é o grande dom de Deus, capaz de trazer harmonia à criação. A ponto que, gosto de pensar que Deus criou a mulher para que todos nós tivéssemos uma mãe.

É a mulher, que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bela. E se explorar as pessoas é um crime de lesa humanidade, explorar uma mulher é mais do que um delito e de um crime: significa destruir a harmonia que Deus quis dar ao mundo, é voltar para trás.

A liturgia continua a narração da criação do mundo, pois com a criação do homem parece que tudo terminou, a ponto que Deus repousa. Contudo, falta algo: o homem estava sozinho e daquela solidão o próprio Deus se deu conta: “Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele” lê-se no livro de Gênesis.

Então, o Senhor artesanalmente — mas esta é uma forma literária para o explicar — formou da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria. E Deus disse ao homem: esta será a tua companhia, dá-lhe um nome. Para Deus, prosseguiu Francisco, esta é uma ordem do demônio. Na prática diz ao homem: “Tu serás o dono destes, aquele que põe o nome, aquele que manda”. Mas o homem não encontrou uma auxiliar adequada lê-se no livro de Gênesis. Assim o homem estava sozinho, com todos estes animais: Mas, ouve lá, porque não arranjas um cão, fiel, que te acompanhe na vida, e também dois gatos para os acariciar: o cão fiel é bom, os gatos são engraçados, para alguns, para outros não, para os ratos não! Todavia, o homem não encontrava nestes animais uma companhia e, em síntese, estava sozinho.

Vamos repropor ponto por ponto o trecho do Gênesis: Então o Senhor — continua a narração — adormeceu profundamente o homem: fez com que dormisse. Um homem sozinho, a solidão, agora o homem está adormecido, o sonho do homem: adormeceu. E artesanalmente — está escrito à letra — enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das costelas e fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. O homem, quando a viu, disse: “Eis agora aqui, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher — atribuiu-lhe um nome — porque foi tirada do homem”. Em síntese, para o homem é algo diferente de tudo o que ele tinha, era o que lhe faltava para não estar sozinho: a mulher, descobriu-a, viu-a. Mas antes de a ver, sonhou com ela. Com efeito, para entender uma mulher antes é necessário sonhá-la; não é possível compreendê-la como todos os outros seres vivos: é algo diferente, é algo diverso. Precisamente assim Deus a fez: para ser sonhada, antes.

Muitas vezes quando falamos das mulheres, falamos de maneira funcional: a mulher serve para fazer isto, para fazer, não! Primeiro, é para outra coisa: a mulher traz algo sem o qual o mundo não seria assim. A mulher é algo diferente, é algo que traz uma riqueza que o homem, toda a criação e todos os animais não têm. Também Adão, antes de a ver, sonhou com ela: há algo de poesia, nesta narração. E depois o terceiro trecho, quando Adão diz “Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne de minha carne”: o destino de ambos. Com efeito, lê-se no Gênesis: Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne. Sim, uma só carne.

Adão não podia ser uma só carne com as aves, com o cão, com o gato, com todos os animais, com toda a criação: não, não! Só com a mulher, e isto é o destino, isto é o futuro, isto era o que faltava. E a mulher vem assim coroar a criação, mais ainda: traz harmonia à criação. Por conseguinte, quando não há a mulher, falta a harmonia. Também nós dizemos, falando: esta é uma sociedade com uma forte atitude masculina. Falta a mulher. E talvez afirmemos inclusive que a mulher serve para lavar os pratos, para fazer.... Ao contrário, não: a mulher serve para trazer harmonia; sem a mulher não há harmonia. O homem e a mulher não são iguais, um não é superior ao outro, não. É simplesmente que o homem não traz harmonia: é ela que traz aquela harmonia que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bonita.

Portanto, três trechos.
Em primeiro lugar: o homem sozinho, a solidão do homem sem a mulher;
Segundo, o sonho: nunca se pode entender uma mulher sem a sonhar antes;
Terceiro, o destino: uma só carne.

Aconteceu-me há alguns meses numa das audiências, ao saudar as pessoas que se encontravam atrás das barreiras, ter encontrado um casal que celebrava o sexagésimo aniversário de matrimônio: não eram muito idosos porque se tinham casado ainda jovens, deveriam ter cerca de oitenta anos, mas estavam bem, sorridentes. Ao vê-los perguntei-lhes qual dos dois teve mais paciência ao longo dos sessenta anos de casamento. E eles que olhavam para mim, trocaram os olhares — nunca esquecerei aqueles olhos — depois voltaram a olhar para mim e disseram-me, os dois juntos: “Estamos apaixonados”. Eis, depois de sessenta anos, isto significa uma só carne e é isto que traz a mulher: a capacidade de se apaixonar. A harmonia ao mundo.

Muitas vezes ouvimos dizer: “É necessário que nesta sociedade, nesta instituição, haja uma mulher para que faça isto, faça estas coisas”. Mas a funcionalidade não é a finalidade da mulher: é verdade que a mulher deve fazer coisas e faz — como todos nós fazemos — coisas. Porém, a finalidade da mulher é criar harmonia e sem a mulher não há harmonia no mundo. Sim, explorar as pessoas é um crime de lesa humanidade, é verdade, mas explorar uma mulher é mais do que isso: significa destruir a harmonia que Deus quis proporcionar ao mundo. Significa realmente destruir, não é apenas um delito, um crime: é uma destruição, significa voltar para trás, destruir a harmonia.

É este o grande dom de Deus: deu-nos a mulher. E no trecho do Evangelho de Marcos, proposto hoje na liturgia, ouvimos do que é capaz uma mulher (referindo-se à mulher cuja filha estava possuída por um espírito impuro – Mc 7,24-30). Uma mulher corajosa que foi em frente sem recear, mas é mais do que isso, é mais: a mulher é harmonia, é poesia, é beleza. A ponto que sem ela o mundo não seria tão bonito, não seria harmônico.

Papa Francisco – 9 de fevereiro de 2017


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