sexta-feira, 9 de março de 2018

09 de março - Santa Francisca Romana


O vosso mosteiro tem uma peculiaridade, que naturalmente reflete o carisma de Santa Francisca Romana. Aqui vive-se um equilíbrio singular entre vida religiosa e vida laical, entre vida no mundo e fora do mundo. Um modelo que não nasceu no papel, mas na experiência concreta de uma jovem romana: escrito – poder-se-ia dizer – pelo próprio Deus na existência extraordinária de Francisca, na sua história de menina, de adolescente, de jovem esposa e mãe, de mulher madura, conquistada por Jesus Cristo, como diria São Paulo. Não é ocasional que as paredes destes ambientes sejam decoradas com imagens da sua vida, demonstrando que o verdadeiro edifício que Deus ama construir é a vida dos santos.

Papa Bento XVI – Mosteiro de Santa Francisca Romana – 09 de março de 2009

A festa de santa Francisca Romana celebra-se na Quaresma e a liturgia deste tempo recorda-nos a necessidade da purificação interior, através da oração, do jejum e das obras de misericórdia. Mas isto pode ser, sem dúvida, também a Mensagem que a Santa nos transmite, toda dedicada a uma vida de oração e de caridade, que suscitava admiração entre os romanos do seu tempo.

Cinco séculos e meio nos separam daquele longínquo 9 de Março de 1440, dia em que Francisca expirava na sua casa de Tor de' Specchi, com 56 anos. Mas a sua fome de santidade permanece intacta até aos nossos dias.
Na sua vida nos deparamos com uma daquelas mulheres fortes, das quais os Livros Sagrados e as páginas da história da Igreja estão repletos. Exemplo de mulher forte, primeiro na vida familiar e depois na monástica. Exemplo de mulher generosa, totalmente dedicada às obras de caridade, numa Roma que no início de 1400, estava provada por carestias e pestes. 

Devota frequentadora da igreja de Santa Maria Nova, quantas vezes a nossa santa terá ouvido nela as palavras de Jesus que o Evangelho nos repropôs: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1, 15). Sob a orientação sábia dos Padres Olivetanos que havia mais de um século estavam presentes nesta igreja, Francisca formou-se na vida da perfeição evangélica. Tendo ficado viúva, consagrou-se a uma vida religiosa mais intensa na família das Oblatas Beneditinas. Era a festa da Assunção, a 15 de Agosto de 1425, quando, com 41 anos, ela pronunciou nesta mesma igreja a sua solene fórmula de oferta ao Senhor nas mãos do Delegado do Abade de Monte Oliveto Maior, comprometendo-se a servir ainda com maior generosidade o Senhor e os irmãos, numa vida intensa de caridade.

Roma, no final de 1300 e início de 1400, encontrava-se deveras num estado miserável. A cidade dentro dos Muros Aurelianos estava reduzida a 25.000 habitantes, segundo alguns historiadores, dizimada pelas guerras, carestias e pestes.

Mesmo pertencendo à antiga família aristocrática dos Ponziani, a nobre mulher Francisca não desdenhou inclinar-se ao serviço dos mais humildes nos bairros de Trastevere, Campo Marzio, na periferia de Parione ou do Palatino. Desta forma, Francisca podia realizar aquele apostolado social, que também hoje permanece insubstituível, em qualquer tipo de sociedade. O fervor interior que a animava era a admoestação de Cristo: "É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35). E a caridade fraterna tornou-se a regra inspiradora da sua vida.

Mulher de ação, Francisca hauria contudo de uma intensa vida de oração a força necessária para o seu apostolado social. O Senhor concedeu-lhe também graças extraordinárias, assim como fizera com duas outras grandes místicas daquele tempo, santa Catarina de Sena e santa Brígida da Suécia.

Permanece também típica a sua familiaridade com o Anjo da Guarda, do qual era devotíssima. Ele aparecia-lhe no seu caminho, defendendo-a dos perigos e iluminando-lhe a estrada durante a noite. Foi precisamente por isto que o Papa Pio XI em 1925 quis proclamar santa Francisca Romana Padroeira dos motoristas, para que do céu, juntamente com os Anjos da Guarda, obtivesse proteção para quem percorre as estradas da nossa cidade.

A vivencia da caridade inspirou Santa Francisca numa Roma transtornada por calamidades profundas. A Urbe era verdadeiramente aquela cidade "de outros músculos e com os fortes arruinados", descrita por Manzoni. Os muros e os arcos estavam "sem glória e sem louro", como escreveu Leopardi. Mas o programa desta mulher excepcional, como foi Santa Francisca Romana, foi o de todos os gigantes da santidade: "Não lamentações, mas ação". Eis a mensagem que a nossa Santa nos deixa em herança também a nós, seis séculos após a sua partida para a casa do Pai.

Cardeal Ângelo Sodano – 05 de março de 2005


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