Nos territórios sob a ocupação prussiana, Maria
Karłowska, desenvolvia uma atividade de autêntica samaritana entre as mulheres
provadas por grande miséria material e moral. O seu santo zelo imediatamente
atraia a si um grupo de discípulas de Cristo, com as quais fundou a Congregação
das Irmãs Pastorinhas da Divina Providência. Para si mesma e para as suas irmãs
estabelecia o seguinte objetivo: “Devemos anunciar o Coração de Jesus, isto é,
de tal modo vivermos d’Ele, n'Ele e para Ele, para nos tornarmos semelhantes a
Ele e para que na nossa vida Ele seja mais visível do que nós mesmas”.
A sua
dedicação ao Sacratíssimo Coração do Salvador frutificou um grande amor pelos
homens. Sentia uma insaciável fome de amor. Um amor deste género, segundo a
Beata Maria Karłowska, jamais dirá basta nem se deterá pela estrada.
Precisamente isto acontecia a ela, que era como que enlevada pela corrente do
amor do divino Paráclito. Graças a este amor restituiu a muitas almas a luz de
Cristo e ajudou-as a readquirir a dignidade perdida.
É bom que também ela seja
beatificada em Zakopane, porque a cruz do Giewont olha para toda a Polónia,
rumo ao Norte, rumo à Pomerânia e à cidade de Płock, rumo a todos os lugares
onde vivem os frutos da sua santidade, as suas irmãs e o seu serviço aos
necessitados.
Caros Irmãos e Irmãs, esta religiosa heroica, levando
avante as suas santas obras, em condições extremamente difíceis, manifestou em
toda a plenitude a dignidade da mulher e a grandeza da sua vocação. Manifestou
aquele “gênio feminino”, que se revela numa profunda sensibilidade para com o
sofrimento humano, na delicadeza, na abertura e na disponibilidade a levar
ajuda, e noutras qualidades próprias do coração feminino. Com frequência ele se
manifesta sem clamor e por isso, às vezes é subestimado. Quanta necessidade tem
dele o mundo de hoje, a nossa geração! Como é grande a necessidade desta
sensibilidade feminina nas coisas de Deus e dos homens, a fim de que as nossas
famílias e a sociedade inteira sejam repletas de calor cordial, de benevolência,
de paz e de alegria! Como é necessário este “gênio feminino”, para que o mundo
de hoje aprecie o valor da vida, da responsabilidade, da fidelidade; para que
conserve o respeito pela dignidade humana! Com efeito, Deus, no seu desígnio
eterno, estabeleceu um semelhante lugar para a mulher, criando o ser humano “varão
e mulher” à própria “imagem e semelhança”.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 06 de
junho de 1997
Maria Karlowska nasceu em 4 de setembro de 1865 nos
territórios ocupados pela Prússia, décima primeira filha do casal Mateusz
Karlowska e Dembiñska Eugenia, uma família numerosa, muito religiosa e devota
do Sagrado Coração de Jesus.
Quando seus pais venderam a fazenda da família, Maria foi
viver com eles em Poznan, onde começou seus estudos na escola secundária para
meninas católicas. Ficou órfã de seus pais quando tinha 17 anos, quando
prometeu viver em castidade durante toda a vida. Ela ainda não pensava em
tornar-se religiosa, pois precisava trabalhar para ajudar seus irmãos e irmãs.
Viajou pouco depois para Berlim no intuito de ali aprender o ofício de
costureira.
Frequentou a escola de costura por um ano e fez um curso
em Berlim. Após o treinamento, exerceu a sua profissão em Poznan, auxiliando a
irmã mais velha, Wanda, como instrutora na escola de costura. Na terra natal
exerceu uma ação caridosa tornando-se uma verdadeira samaritana no meio das
mulheres tocadas pela grande miséria social e moral.
Filha de pais educados, acostumados com a vida de uma
família nobre, Maria não tinha ideia da pobreza moral das mulheres que
praticavam a prostituição para ganhar a vida, quando começou a visitar os
doentes e os pobres mais pobres das ruas da cidade. Um imperativo interior a
levou a esses lugares onde a pobreza material era associada com a prostituição.
Em novembro de 1892, Maria encontrou uma prostituta pela
primeira vez. Este encontro foi decisivo para a sua vocação, porque a partir de
então toda a sua energia se concentraria nestas mulheres que Maria queria
ajudar a sair de uma situação onde voluntária ou involuntariamente se tinham
colocado, e a cortar os laços que as retinham naquela vida. Exortava as
mulheres à deixarem a vida pecaminosa e as preparava para receberem os santos
sacramentos.
Naquela época, a prostituição era tolerada pelas
autoridades estaduais. Essas pessoas eram registradas e eram obrigadas a
fazerem exames médicos regulares, para evitar a propagação de doenças venéreas.
Depois de um ano e meio deste apostolado a desaprovação geral forçou a jovem a
esconder suas atividades, rejeitada até por membros da família que consideravam
desonrosa sua preocupação com prostitutas.
O seu zelo nesta obra difícil atraiu outras mulheres com
quem fundou a Congregação das Irmãs
Pastorinhas da Divina Providência. Para as irmãs e para ela mesma, ela já
tinha estabelecido o seguinte objetivo: “Nós devemos anunciar o Coração
de Jesus, quer dizer, viver Dele, Nele e por Ele, de maneira a nos tornarmos
como Ele, e nós devemos fazer de maneira que em nossas vidas Ele se torne mais
visível do que nós mesmas”.
Com o tempo e a perseverança de todas as Irmãs, este apostolado
começou a dar bons resultados, e muitas dessas mulheres começaram a levantar a
cabeça e a enveredar resolutamente pelo caminho certo. Algumas até se tornaram
mães exemplares e outras tantas apóstolas junto daquelas que ainda estavam
relutantes em voltar para trás.
Maria Karlowska tinha o dom de guiar as almas. Ela sabia
o que fazer para trazer as jovens ao caminho certo. Para acalmar o
comportamento das jovens, Maria usava a bondade; se fosse imprescindível,
assumia uma atitude de rigor, não hesitando em usar palavras duras e exigentes.
Ela sabia qual era a luta delas contra a sua natureza degradada, e por
isso cercava-as de afeto, suportando pacientemente as explosões de seu
temperamento, acalmando a impulsividade e a impetuosidade com a doçura.
A catequese tinha prioridade na reabilitação das jovens;
quanto ao trabalho físico também usado na reabilitação, era fundamental
descobrir as habilidades de cada jovem, para dar-lhes um trabalho adequado às
suas predisposições naturais.
De acordo com Maria Karlowska, a “santidade
consiste em fazer coisas comuns de forma extraordinária, com carinho e
dedicação… Tal santidade é oculta diante dos olhos humanos, presentes apenas
nos olhos de Deus”. Às suas irmãs, dizia que “a santidade é uma corrente cujos
anéis são chamados de virtudes, e da ruptura de um, corre-se o risco de perder
toda a corrente”.
Ela agradecia a Deus pelas graças e favores resultantes
da obediência total à Igreja Católica: “A união com Deus e a Igreja é a
minha força, segurança, esperança e toda a minha glória”, escreveu,
exortando as Irmãs a viverem sempre fieis à Santa Igreja, porque a união com a
Igreja encoraja a santidade pessoal.
De sua vida e dos seus escritos podemos perceber que ela
foi uma alma contemplativa, de silêncio e oração. Rezava muito, passava as
noites sem dormir, rezando incessantemente. Toda a sua confiança era depositada
no Bom Pastor, confiando totalmente a Ele e somente a Ele as almas dedicadas. Ela
amava a serenidade e o silêncio que a mantinham unida a Deus, porque “Deus fala
à uma alma em silêncio”. A oração, para Maria Karlowska, devia ser sempre
sincera, ardente, incessante, insistente, e devia ter como objetivo principal a
salvação das almas.
O sistema educacional criado pela Madre Karlowska foi
excepcional e baseado principalmente no exemplo que nos é oferecido por Jesus,
e enfatiza a liberdade e a boa vontade. “Toda prática religiosa é um ato livre”.
A Providência Divina era o fundamento da sua esperança, e
uma característica predominante em sua Congregação. O Amor de Deus foi o motivo
pelo qual ela ainda muito jovem emitiu o voto de castidade e pela mesma razão
fundou a Congregação. Este Amor encontra a sua plena expressão em fazer a
Vontade de Deus em tudo e sempre, e em se submeter a qualquer momento. Ela
aceitava as cruzes da vida e agradecia a Deus pelo sofrimento. Para ela só
o pecado é o maior mal, e assim ela odiava todo pecado porque ele ofende o amor
de Deus.
O Amor de Deus é inseparável do amor ao próximo.
Testemunhas enfatizaram o fato de que a Beata tinha um amor sobrenatural para
com todos, e o exercia em um grau mais eminente. O amor ao próximo foi o
principal motivo para todas as suas atividades de apostolado. A Beata sempre
manifestou um grande amor à Congregação e também à Polônia.
Com cerca de setenta anos, Madre Maria Karlowska entregou
a sua alma a Deus em 24 de março de 1935, deixando para a posteridade uma obra
reconhecida, de uma grande ajuda para a Igreja na Polônia e nos países
vizinhos.
Ela foi beatificada a 6 de junho de 1997 em Zakopane
(Polônia) por João Paulo II.
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