A contaminação contínua por uma linguagem
enganadora acaba por ofuscar o íntimo da pessoa.
E então como
defender-nos? O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar
pela verdade. Na visão cristã, a verdade não é uma realidade apenas conceitual,
que diz respeito ao juízo sobre as coisas, definindo-as verdadeiras ou falsas.
A verdade não é apenas trazer à luz coisas obscuras, “desvendar a realidade”,
como faz pensar o termo que a designa em grego: aletheia, de a-lethès, “não
escondido”. A verdade tem a ver com a vida inteira. Na Bíblia, reúne os
significados de apoio, solidez, confiança, como sugere a raiz ‘aman (daqui
provém o próprio Amem litúrgico). A verdade é aquilo sobre o qual nos
podemos apoiar para não cair. Neste sentido relacional, o único verdadeiramente
fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único “verdadeiro”
é o Deus vivo. Eis a afirmação de Jesus: “Eu sou a verdade” (Jo 14, 6).
Sendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si
mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homem: “A
verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32).
Libertação da
falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não
podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros,
autênticos e fiáveis. Para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que
favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar,
dividir e contrapor. Por isso, a verdade não se alcança autenticamente quando é
imposta como algo de extrínseco e impessoal; mas brota de relações livres entre
as pessoas, na escuta recíproca. Além disso, não se acaba jamais de procurar a
verdade, porque algo de falso sempre se pode insinuar, mesmo ao dizer coisas
verdadeiras. De fato, uma argumentação impecável pode basear-se em factos
inegáveis, mas, se for usada para ferir o outro e desacreditá-lo à vista
alheia, por mais justa que apareça, não é habitada pela verdade. A partir dos
frutos, podemos distinguir a verdade dos vários enunciados: se suscitam
polémica, fomentam divisões, infundem resignação ou se, em vez disso, levam a
uma reflexão consciente e madura, ao diálogo construtivo, a uma profícua
atividade.
O melhor antídoto contra as falsidades não
são as estratégias, mas as pessoas: pessoas que, livres da ambição, estão
prontas a ouvir e, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a
verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da
linguagem.
Papa Francisco – Mensagem para Dia Mundial
das Comunicações Sociais 2018
Hoje celebramos:
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