O vosso mosteiro
tem uma peculiaridade, que naturalmente reflete o carisma de Santa Francisca
Romana. Aqui vive-se um equilíbrio singular entre vida religiosa e vida laical,
entre vida no mundo e fora do mundo. Um modelo que não nasceu no papel, mas na
experiência concreta de uma jovem romana: escrito – poder-se-ia dizer – pelo próprio Deus
na existência extraordinária de Francisca, na sua história de menina, de
adolescente, de jovem esposa e mãe, de mulher madura, conquistada por Jesus
Cristo, como diria São Paulo. Não é ocasional que as paredes destes ambientes
sejam decoradas com imagens da sua vida, demonstrando que o verdadeiro edifício
que Deus ama construir é a vida dos santos.
Papa Bento XVI –
Mosteiro de Santa Francisca Romana – 09 de março de 2009
A festa de santa
Francisca Romana celebra-se na Quaresma e a liturgia deste tempo recorda-nos a
necessidade da purificação interior, através da oração, do jejum e das obras de
misericórdia. Mas isto pode ser, sem dúvida, também a Mensagem que a Santa nos
transmite, toda dedicada a uma vida de oração e de caridade, que suscitava
admiração entre os romanos do seu tempo.
Cinco
séculos e meio nos separam daquele longínquo 9 de Março de 1440, dia em que
Francisca expirava na sua casa de Tor de' Specchi, com 56 anos. Mas a sua fome
de santidade permanece intacta até aos nossos dias.
Na
sua vida nos deparamos com uma daquelas mulheres fortes, das quais os Livros
Sagrados e as páginas da história da Igreja estão repletos. Exemplo de mulher
forte, primeiro na vida familiar e depois na monástica. Exemplo de mulher
generosa, totalmente dedicada às obras de caridade, numa Roma que no início de
1400, estava provada por carestias e pestes.
Devota frequentadora da igreja de Santa Maria Nova, quantas vezes a nossa santa terá ouvido nela as palavras de Jesus que o Evangelho nos repropôs: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1, 15). Sob a orientação sábia dos Padres Olivetanos que havia mais de um século estavam presentes nesta igreja, Francisca formou-se na vida da perfeição evangélica. Tendo ficado viúva, consagrou-se a uma vida religiosa mais intensa na família das Oblatas Beneditinas. Era a festa da Assunção, a 15 de Agosto de 1425, quando, com 41 anos, ela pronunciou nesta mesma igreja a sua solene fórmula de oferta ao Senhor nas mãos do Delegado do Abade de Monte Oliveto Maior, comprometendo-se a servir ainda com maior generosidade o Senhor e os irmãos, numa vida intensa de caridade.
Roma,
no final de 1300 e início de 1400, encontrava-se deveras num estado miserável.
A cidade dentro dos Muros Aurelianos estava reduzida a 25.000 habitantes,
segundo alguns historiadores, dizimada pelas guerras, carestias e pestes.
Mesmo
pertencendo à antiga família aristocrática dos Ponziani, a nobre mulher
Francisca não desdenhou inclinar-se ao serviço dos mais humildes nos bairros de
Trastevere, Campo Marzio, na periferia de Parione ou do Palatino. Desta forma,
Francisca podia realizar aquele apostolado social, que também hoje permanece
insubstituível, em qualquer tipo de sociedade. O fervor interior que a animava
era a admoestação de Cristo: "É por isto que todos saberão que sois meus
discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35). E a
caridade fraterna tornou-se a regra inspiradora da sua vida.
Mulher
de ação, Francisca hauria contudo de uma intensa vida de oração a força
necessária para o seu apostolado social. O Senhor concedeu-lhe também graças
extraordinárias, assim como fizera com duas outras grandes místicas daquele
tempo, santa Catarina de Sena e santa Brígida da Suécia.
Permanece
também típica a sua familiaridade com o Anjo da Guarda, do qual era
devotíssima. Ele aparecia-lhe no seu caminho, defendendo-a dos perigos e iluminando-lhe
a estrada durante a noite. Foi precisamente por isto que o Papa Pio XI em 1925
quis proclamar santa Francisca Romana Padroeira dos motoristas, para que do
céu, juntamente com os Anjos da Guarda, obtivesse proteção para quem percorre
as estradas da nossa cidade.
A
vivencia da caridade inspirou Santa Francisca numa Roma transtornada por
calamidades profundas. A Urbe era verdadeiramente aquela cidade "de outros
músculos e com os fortes arruinados", descrita por Manzoni. Os muros e os
arcos estavam "sem glória e sem louro", como escreveu Leopardi. Mas o
programa desta mulher excepcional, como foi Santa Francisca Romana, foi o de
todos os gigantes da santidade: "Não lamentações, mas ação". Eis a
mensagem que a nossa Santa nos deixa em herança também a nós, seis séculos após
a sua partida para a casa do Pai.
Cardeal Ângelo
Sodano – 05 de março de 2005
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