O Espírito de verdade vos guiará
à verdade total". Teresa Eustóquio Verzeri, que hoje contemplamos na
glória de Deus, na sua breve mas intensa vida deixou-se conduzir docilmente
pelo Espírito Santo. Deus revelou-se-lhe como misteriosa presença diante da
qual nos devemos inclinar com profunda humildade. A sua alegria era considerar-se
sob a constante proteção divina, sentindo-se nas mãos do Pai celeste, no qual
aprendeu a ter sempre confiança.
Ao abandonar-se à ação do Espírito, Teresa viveu uma particular
experiência mística "da ausência de
Deus". Só uma fé inabalável a impediu de não perder a confiança neste
Pai providente e misericordioso, que a punha à prova: "É justo escrevia ela que a
esposa, depois de ter seguido o esposo em todos os seus sofrimentos que
acompanharam a Sua vida, participe ainda com Ele na mais terrível".
Eis o ensinamento que Santa Teresa deixa ao Instituto das "Filhas do
Sagrado Coração de Jesus", por ela fundado. Eis o ensinamento que nos
deixa a todos nós: Mesmo entre as
contrariedades e os sofrimentos íntimos e exteriores, é preciso manter viva a
fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Papa João Paulo II -
Homilia de Canonização – 10 de junho de 2001
Teresa Verzeri nasce
no dia 31 de julho de 1801, em Bérgamo (Itália). É a primogênita dos sete
filhos de Antonio Verzeri e da condessa Elena Pedrocca-Grumelli. Seu irmão, Jerônimo,
foi bispo de Brescia. Sua mãe, sentindo-se atraída a abraçar a vida monástica,
coloca em dúvida o seu chamado ao matrimônio. Recebe da tia, Maria Antonia
Grumelli, monja clarissa a resposta profética: "Não, Deus te quer nesse estado de vida, para fazer-te mãe de uma
descendência de santos!".
Desde
a mais tenra idade, Teresa aprende da sua mãe, mulher profundamente cristã, a
conhecer e a amar a Deus ardentemente. Teresa faz seus estudos iniciais na
própria família. Inteligente, dotada de espírito aberto, vigilante reto, é
educada ao discernimento, à busca dos valores perenes e a ser fiel à ação da
graça. Da infância até a idade madura deixa-se iluminar pelo Espírito de
Verdade que a animará a uma constante e intensa luta espiritual: à luz da fé,
descobre e experimenta o peso da própria fragilidade, desmascarando, na medida
do possível a uma criatura humana, toda forma de idolatria, de mentira, de
egoísmo e de medo para entregar-se totalmente a Deus.
Com
a força da graça, percorre um caminho de libertação, de pureza de intenção, de
retidão e de simplicidade que a leva a buscar "Deus só". Interiormente, vive a particular experiência
mística da "ausência de Deus",
enfrentando um dos problemas da experiência religiosa de hoje: o peso da solidão humana diante da sensação
inquietante de distância e de silêncio de Deus. Entretanto, com uma fé
inabalável, Teresa não deixa de confiar e de abandonar-se ao Deus Vivo, Pai
providente e misericordioso, a quem entrega a própria vida, em atitude de
obediência. Como em Jesus, seu grito de solidão transforma-se em oferta total
de si mesma por amor.
No
desejo de agradar a Deus e de fazer somente a Sua Vontade, amadurece a vocação
religiosa na família e no Mosteiro Beneditino de Santa Grata, de onde sai
depois de um longo e sofrido processo de discernimento, para fundar, juntamente
com Monsenhor Giuseppe Benaglio, em Bérgamo, no dia 8 de fevereiro de 1831, a Congregação das Filhas do Sagrado Coração
de Jesus.
Teresa
Verzeri vive na primeira metade de 1800, período de grandes transformações na
história da Itália e da sociedade de Bérgamo marcada por mudanças políticas, por
revoluções, por perseguições que não pouparam a Igreja, atingida, também, pelo
jansenismo e pela crise de valores, resultante da Revolução Francesa.
No
momento em que a Devoção ao Coração de Jesus encontra resistências, Teresa
entrega às irmãs este testamento que caracteriza a herança espiritual da
Congregação: "Jesus Cristo a vós e ao vosso Instituto fez o precioso dom de Seu
Coração, para que aprendais somente d'Ele que é a fonte inexaurível da
verdadeira santidade".
Ela
percebe com clareza o que é urgente fazer, capta as necessidades de seu tempo.
Com disponibilidade absoluta diante de qualquer situação exigida pela caridade,
mesmo as mais perigosas e graves, dedica-se, com suas primeiras companheiras, a
diversos serviços apostólicos: "educação
das jovens da classe média e baixa; asilo para órfãs em situação de risco,
abandonadas ou mesmo transviadas; externatos e internatos; catequese, retiros,
recreação festiva; assistência aos enfermos".
Na
sua missão, Teresa Verzeri revela seus dons especiais de mestra espiritual, de
apóstola, de pedagoga, e assume, claramente, os princípios do sistema
preventivo: "Cultivai e preservai, com muita atenção, a mente e o coração de
vossas jovens, enquanto ainda pequenas, para evitar, na medida do possível, que
entre nelas o mal, sendo melhor, preservá-las da queda com vossas advertências
do que levantá-las com correções”.
A
educação é obra de liberdade e de persuasão, no respeito à individualidade; por
isso, recomenda que se deixe às jovens "uma
santa liberdade, de modo que façam de boa vontade e de pleno acordo aquilo que
fariam como um peso e uma violência, se fossem oprimidas pela imposição";
que, na escolha dos meios educativos, considere-se " o temperamento, o
caráter, as inclinações, as circunstâncias...e, a partir do conhecimento de
cada uma", opte-se pelo melhor modo de tratá-la.
Em
1836, morre Monsenhor Benaglio. Teresa, apoiada na obediência que lhe garante
ser vontade de Deus a vida da Congregação, dedica-se totalmente a sua
aprovação, consolidação e expansão. Enfrenta, por isso, muitos obstáculos
criados pelas autoridades civis e mesmo por membros da hierarquia eclesiástica
que põem a dura prova sua virtude, mostrando-se heroica no abandono à vontade
de Deus que a sustenta.
Depois
de uma vida de intensa doação, Teresa Verzeri morre em Brescia, no dia 3 de
março de 1852. Deixa a Congregação já aprovada pela Igreja e pelo governo, bem
como uma ampla documentação, sobretudo as Constituições, "Livro dos
Deveres" e mais de 3500 cartas, onde se pode encontrar toda a riqueza de
sua experiência espiritual e humana.
Animadas
por esse espírito, as Filhas do Sagrado Coração de Jesus continuam, hoje, a
missão de Teresa na Itália, no Brasil, na Argentina e Bolívia, na República
Centro-Africana e em Camarões, na Índia e na Albânia.
Na
contemplação do Coração de Cristo recebem o mandato de ir ao encontro de cada
irmão, com uma dedicação que dá preferência aos mais pobres, abertas a todo o
tipo de serviço, solícitas em promover sempre a dignidade da pessoa e em
"ser Coração de Cristo" lá onde a necessidade é maior.
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