“Ontem, em
Vigevano, foi proclamado beato o jovem Teresio Olivelli, morto por sua fé
cristã em 1945, no campo de concentração de Hersbruck. Ele deu testemunho a
Cristo no amor pelos mais fracos e se une à longa lista dos mártires do século
passado. Que o seu heroico sacrifício seja semente de esperança e de
fraternidade sobretudo para os jovens”.
Papa
Francisco – 04 de fevereiro de 2018
Teresio Olivelli nasceu
em 07 de janeiro de 1916. Jesus chamava os apóstolos Tiago e João de “filhos do
trovão” pelo caráter forte que tinham, modelos perfeitos para ele que
seguidamente brincava com o fato de ter sido batizado na Paróquia de São Tiago
e por isto, também ele era uma espécie de “filho do trovão”.
E de fato o era, em
tudo o que fazia: no trabalho como assistente em jurisprudência na Universidade
de Turim, no serviço que realizava em Cottolengo, até na decisão de se alistar,
porque não suportava que o sacrifício extremo da vida fosse reservado somente
aos mais pobres. Um testemunho cristão constante que o levará ao martírio, como
recordou o cardeal Angelo Amato:
“Falar de Teresio
Olivelli é falar de um jovem entusiasta pela própria fé e amante da própria
pátria. Se a Itália conferiu a ele a medalhe de ouro por mérito na guerra, a
Igreja o reconheceu mártir heroico no exercício das virtudes da fé, da
esperança e da caridade”.
Aderiu ao fascismo
até perceber que a ideologia não poderia construir a sociedade em coerência com
o Evangelho que sonhava, sem guerra e sem mortos.
“Quem quer me
seguir, tome a sua cruz e me siga”, palavras de Jesus
que ecoaram no jovem que entrou para a resistência, “sem ser da resistência”.
Foi então para a
guerra, sim, mas com o coração de paz que o levava não para onde havia o
sucesso, mas onde havia o fracasso e a derrota.
As suas armas,
mesmo no conflito, foram sempre o amor ao próximo e o sacrifício de si. Por
isto estava sempre pronto para socorrer seus companheiros e difundir sempre os
valores da misericórdia, do perdão, da liberdade e da justiça, firmemente
ancorados em uma fé solidificada:
“A fé de nosso
Beato era alimentada pela oração e pela Eucaristia. Durante a guerra no front
russo ou na prisão nos campos de concentração, chamava a atenção a ingenuidade
de sua fé, simples, convicta, manifestada com as palavras e sobretudo com as
obras. Na dolorosa retirada, sustentava, consolava, confortava. Rezava e fazia
rezar. Na dolorosa retirada da Rússia, os soldados encontravam acolhida e
consolação religiosa em Teresio. Amava Deus, amava a igreja, amava o Papa,
amava os outros com aquela caridade evangélica ensinada a nós por Jesus: amar o
próximo como a si mesmo. A caridade era o tecido de sua vida”.
Sempre rebelde, mas
por amor, enquanto tudo ao seu redor era ódio e violência. Rebelde como todo
bom cristão que leva em frente aquela revolução moral no mundo que às vezes
leva até o martírio. Assim escrevia na oração “Liberta-nos” e assim percorria o seu caminho rumo ao martírio, que
se cumpriu no campo de extermínio nazista de Hersbruck em 1945:
Senhor, que
deixastes entre os homens a vossa cruz como um sinal de contradição,
Que pregastes e
sofrestes a revolta do espírito contra a perfídia e os interesses dominantes,
surdez inerte da massa, oprimidos por um jugo oneroso e cruel que em nós e antes
de nós pisou a fonte de vidas livres, dais força à rebelião.
Deus que és a
Verdade e a Liberdade, nos torne livres e intensos: respire em nosso propósito,
dai força à nossa vontade, multipliques nossa força, reveste-nos com sua
armadura.
Nós oramos a vós,
Senhor.
Vós, que fostes
rejeitado, injuriado, traído, perseguido, crucificado, na hora das trevas, nos
sustente a sua vitória: seja encorajamento aos desamparados, apoio no perigo,
conforto na amargura. Quanto mais o adversário se torna pesado e escuro, mais nos
deixes claros e retos.
Na tortura comprima
os nossos lábios – despedaça-nos, não nos deixe dobrar. Se cairmos, faz que o
nosso sangue se una ao teu sangue inocente e àquele de nossos mortos, para
fazer crescer no mundo a justiça e a caridade”.
Vós que dissestes: “Eu
sou a ressurreição e a vida” refaz a vida generosa na severa dor da Itália. Liberta-nos
da tentação dos afetos: Velai sobre as nossas famílias.
Nas montanhas de
vento e nas catacumbas das cidades, das profundezas das prisões, nós te pedimos:
que haja em nós a paz que só vós podes nos dar.
Deus da paz e dos
exércitos, Senhor que carrega a espada e a alegria, ouve a nossa oração: rebeldes
por amor.
Funda o periódico: “O Rebelde” e passa a combater, com a
doutrina católica, as ideias e argumentos dos nazistas e fascistas. É
perseguido pelos nazistas porque rechaça o ódio e difunde os valores da
humanidade cristã. Foi capturado, aprisionado e deportado sucessivamente para
Fossoli, Bolzano, Flossenbürg e Hersbruck, onde assume sempre atitudes religiosas
e caritativas: reza e consola, ajuda espiritualmente aos enfermos e débeis e
lhes dá de comer de sua pobre ração de alimentos.
Os nazistas
continuam castigando-o, porque odeiam sua fé e seu testemunho cristão. Porém,
apesar de todos os sofrimentos, ele não se queixa e os perdoa. Em 31 de
dezembro de 1944, se lançou a um gesto supremo de amor: protege com seu corpo a
um jovem brutalmente golpeado por um guarda. Recebe um violento chute em seu
ventre. Foi levado à enfermaria de Hersbruck e morre, dias depois, em lenta
agonia, no dia 17 de janeiro de 1945.
Não conseguiu ver o
fim da II Guerra Mundial que iluminou com a sua luz de santidade; uma santidade
que não é reservada somente aos consagrados, porque a salvação é de todos, como
conclui o cardeal Angelo Amato:
“Nem todos os
Santos são sacerdotes ou religiosos. O batismo é a porta que nos introduz na
vida de Deus, caridade e misericórdia sem limites. O Beato Teresio Olivelli fez
de seu batismo uma fonte de energia divina feita de caridade, de bondade, de
dinamismo apostólico, de testemunho heroico do Evangelho”.
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