A inculturação da
espiritualidade cristã nas culturas dos povos nativos encontra, nos
Sacramentos, um caminho particularmente valioso, porque neles se unem o divino
e o cósmico, a graça e a criação. Na Amazônia, os Sacramentos não deveriam ser
vistos como separação da criação, pois constituem um modo privilegiado em que a
natureza é assumida por Deus e transformada em mediação da vida sobrenatural.
São uma plenificação da criação, na qual a natureza é elevada para ser lugar e
instrumento da graça, para abraçar o mundo num plano diferente.
Na Eucaristia vemos
que, no apogeu do mistério da Encarnação, o Senhor quer chegar ao nosso íntimo
através dum pedaço de matéria. (…) [Ela] une o céu e a terra, abraça e penetra
toda a criação. Por isso, a Eucaristia pode ser fonte de luz e motivação para
as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da
criação inteira. Assim, não fugimos do mundo, nem negamos a natureza, quando
queremos encontrar-nos com Deus. Isto permite-nos receber na liturgia
muitos elementos próprios da experiência dos indígenas no seu contato íntimo
com a natureza e estimular expressões autóctones em cantos, danças, ritos,
gestos e símbolos. O Concílio Vaticano II solicitara este esforço de
inculturação da liturgia nos povos indígenas, mas passaram-se já mais de
cinquenta anos e pouco avançamos nesta linha.
No domingo, a
espiritualidade cristã integra o valor do repouso e da festa. O ser humano
tende a reduzir o descanso contemplativo ao âmbito do estéril ou do inútil,
esquecendo que deste modo se tira à obra realizada o mais importante: o seu
significado. Na nossa atividade, somos chamados a incluir uma dimensão receptiva
e gratuita. Os povos nativos conhecem esta gratuidade e este sadio lazer
contemplativo. As nossas celebrações deveriam ajudá-los a viver esta
experiência na liturgia dominical e encontrar a luz da Palavra e da Eucaristia
que ilumina as nossas vidas concretas.
Os Sacramentos
mostram e comunicam o Deus próximo que vem, com misericórdia, curar e
fortalecer os seus filhos. Por isso, devem ser acessíveis, sobretudo aos
pobres, e nunca devem ser negados por razões de dinheiro. Nem é admissível,
face aos pobres e abandonados da Amazônia, uma disciplina que exclua e afaste,
porque assim acabam descartados por uma Igreja transformada numa alfândega.
Pelo contrário, nas situações difíceis em que vivem as pessoas mais
necessitadas, a Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e
integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se fossem uma rocha,
tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e abandonadas precisamente por
aquela Mãe que é chamada a levar-lhes a misericórdia de Deus. Segundo a Igreja,
a misericórdia pode tornar-se uma mera expressão romântica, se não se manifestar
concretamente no serviço pastoral.
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