A liturgia nos apresenta o episódio da
mulher adúltera. Nele contrapõem-se duas atitudes: por um lado, a dos escribas
e dos fariseus e, por outro, a de Jesus. Os primeiros querem condenar a
mulher, porque se sentem os tutores da Lei e da sua aplicação fiel. Ao
contrário, Jesus quer salvá-la, porque Ele personaliza a misericórdia de
Deus, que perdoando redime, e reconciliando renova.
Os escribas e os fariseus levam a Jesus uma
mulher surpreendida em adultério; põem-na no meio e perguntam a Jesus se se
deve lapidá-la, como prescreve a Lei de Moisés. Eles querem colocar Jesus à
prova. Pode-se supor que o propósito deles era este: o “não” teria sido um
motivo para acusar Jesus de desobediência à Lei; o “sim” para o denunciar à
autoridade romana, que tinha reservado para si as sentenças, e não admitia o
linchamento popular. E Jesus deve responder.
E como reage Jesus diante desta prova? Permanece
por alguns instantes em silêncio, e inclina-se para escrever com o dedo na
terra, como que recordando que o único Legislador e Juiz é Deus, que escreveu a
Lei na pedra. E depois diz: Quem de vós estiver sem pecado, atire-lhe a
primeira pedra! Deste modo Jesus apela-se à consciência daqueles
homens: da sua condição de homens pecadores, pela qual não podem arrogar-se o
direito de vida ou de morte sobre um dos seus semelhantes.
Um após o outro, a começar pelos mais idosos —
ou seja, aqueles que estão mais conscientes das próprias misérias — foram-se
embora todos, renunciando a lapidar a mulher. Esta cena convida também cada um
de nós a ter consciência de que somos pecadores, e a deixar cair das nossas
mãos as pedras da difamação e da condenação, da bisbilhotice, que às vezes
gostaríamos de atirar contra o próximo. Quando falamos mal dos outros, lançamos
pedras, somos como eles.
No fim, lá no meio só permanecem Jesus e a
mulher: A mísera e a misericórdia, diz Santo Agostinho. Jesus é o único
sem culpa, o único que poderia lançar a pedra contra ela, mas não o faz, porque
Deus “não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva”. E
Jesus despede a mulher com estas palavras maravilhosas: Vai e de agora em
diante não tornes a pecar. E assim Jesus abre diante dela um caminho novo,
criado pela misericórdia, uma vereda que exige o seu compromisso de não voltar
a pecar. Trata-se de um convite válido para cada um de nós: quando nos perdoa,
Jesus abre-nos sempre um caminho novo para irmos em frente.
Papa Francisco – 07 de
abril de 2019
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