Numa Amazônia plurirreligiosa, os crentes
precisam de encontrar espaços para dialogar e atuar juntos pelo bem comum e a
promoção dos mais pobres. Não se trata de nos tornarmos todos mais volúveis nem
de escondermos as convicções próprias que nos apaixonam, para podermos
encontrar-nos com outros que pensam de maneira diferente. Se uma pessoa
acredita que o Espírito Santo pode agir no diverso, então procurará deixar-se
enriquecer com essa luz, mas acolhê-la-á a partir de dentro das suas próprias
convicções e da sua própria identidade. Com efeito, quanto mais profunda,
sólida e rica for uma identidade, mais enriquecerá os outros com a sua
contribuição específica.
Nós, católicos, possuímos um tesouro nas
Escrituras Sagradas que outras religiões não aceitam, embora às vezes sejam
capazes de as ler com interesse e inclusive apreciar alguns dos seus conteúdos.
Algo semelhante, procuramos nós fazer face aos textos sagrados doutras
religiões e comunidades religiosas, onde se encontram preceitos e doutrinas que
(…) refletem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens.
Temos também uma grande riqueza nos sete Sacramentos, que algumas comunidades
cristãs não aceitam na sua totalidade ou com idêntico sentido. Ao mesmo tempo
que acreditamos firmemente em Jesus como único Redentor do mundo, cultivamos
uma profunda devoção à sua Mãe. Embora saibamos que isto não se verifica em
todas as confissões cristãs, sentimos o dever de comunicar à Amazônia a riqueza
deste ardente amor materno, do qual nos sentimos depositários. De fato,
terminarei esta Exortação com algumas palavras dirigidas a Maria.
Nada disto teria que nos tornar inimigos. Num
verdadeiro espírito de diálogo, nutre-se a capacidade de entender o sentido
daquilo que o outro diz e faz, embora não se possa assumi-lo como uma convicção
própria. Deste modo torna-se possível ser sincero, sem dissimular o que
acreditamos, nem deixar de dialogar, procurar pontos de contacto e sobretudo
trabalhar e lutar juntos pelo bem da Amazônia. A força do que une a todos os
cristãos tem um valor imenso. Prestamos tanta atenção ao que nos divide que, às
vezes, já não apreciamos nem valorizamos o que nos une. E isto que nos une é o
que nos permite estar no mundo sem sermos devorados pela imanência terrena, o
vazio espiritual, o cómodo egocentrismo, o individualismo consumista e
autodestrutivo.
Como cristãos, a todos nos une a fé em Deus, o
Pai que nos dá a vida e tanto nos ama. Une-nos a fé em Jesus Cristo, o único
Redentor, que nos libertou com o seu bendito sangue e a sua ressurreição
gloriosa. Une-nos o desejo da sua Palavra, que guia os nossos passos. Une-nos o
fogo do Espírito que nos impele para a missão. Une-nos o mandamento novo que
Jesus nos deixou, a busca duma civilização do amor, a paixão pelo Reino que o
Senhor nos chama a construir com Ele. Une-nos a luta pela paz e a justiça.
Une-nos a convicção de que nem tudo acaba nesta vida, mas estamos chamados para
a festa celeste, onde Deus enxugará as nossas lágrimas e recolherá o que
tivermos feito pelos que sofrem.
Tudo isto nos une. Como não lutar juntos? Como
não rezar juntos e trabalhar lado a lado para defender os pobres da Amazônia,
mostrar o rosto santo do Senhor e cuidar da sua obra criadora?
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