Frequentemente sucede que, num determinado
lugar, os agentes pastorais vislumbram soluções muito diferentes para os
problemas que enfrentam e, por isso, propõem formas aparentemente opostas de
organização eclesial. Quando isto acontece, é provável que a verdadeira
resposta aos desafios da evangelização esteja na superação de tais propostas,
procurando outros caminhos melhores, talvez ainda não imaginados. O conflito
supera-se num nível superior, onde cada uma das partes, sem deixar de ser fiel
a si mesma, se integra com a outra numa nova realidade. Tudo se resolve num
plano superior que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades
em contraste. Caso contrário, o conflito fecha-nos, perdemos a perspectiva, os
horizontes reduzem-se e a própria realidade fica fragmentada.
Isto não significa de maneira alguma
relativizar os problemas, fugir deles ou deixar as coisas como estão. As
verdadeiras soluções nunca se alcançam amortecendo a audácia, subtraindo-se às
exigências concretas ou buscando culpas externas. Pelo contrário, a via de
saída encontra-se por transbordamento, transcendendo a dialética que limita a
visão para poder assim reconhecer um dom maior que Deus está a oferecer. Deste
novo dom recebido com coragem e generosidade, deste dom inesperado que desperta
uma nova e maior criatividade, brotarão, como que duma fonte generosa, as
respostas que a dialética não nos deixava ver. Nos seus primórdios, a fé cristã
difundiu-se admiravelmente seguindo esta lógica que lhe permitiu, a partir duma
matriz judaica, encarnar-se nas culturas grega e romana e adquirir na sua
passagem fisionomias diferentes. De forma análoga, neste momento histórico, a
Amazônia desafia-nos a superar perspectivas limitadas, soluções pragmáticas que
permanecem enclausuradas em aspetos parciais das grandes questões, para buscar
caminhos mais amplos e ousados de inculturação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário