A liturgia de hoje nos propõe uma palavra de
Cristo iluminadora e ao mesmo tempo desconcertante. Durante a sua última subida
a Jerusalém, alguém lhe pergunta: "Senhor, são poucos os que se
salvam?" E Jesus responde: "Esforçai-vos por entrar pela porta
estreita, porque muitos, eu vos digo, tentarão entrar sem o conseguir".
Que significa esta "porta estreita"? Por
que muitos não conseguem entrar por ela? Trata-se porventura de uma passagem
reservada a alguns eleitos? De fato, este modo de raciocinar dos interlocutores
de Jesus, considerando bem, é sempre atual: a tentação de interpretar a prática
religiosa como fonte de privilégios ou de certezas está sempre pronta para
armar uma cilada. Na realidade, a mensagem de Cristo é precisamente em sentido
oposto: todos podem entrar na vida, mas para todos a porta é
"estreita". Não há privilégios. A passagem para a vida eterna
está aberta a todos, mas é "estreita" porque é exigente, requer
compromisso, abnegação, mortificação do próprio egoísmo.
Mais uma vez o Evangelho nos convida a
considerar o futuro que nos espera e para o qual nos devemos preparar durante a
nossa peregrinação na terra. A salvação, que Jesus realizou com a sua morte e
ressurreição, é universal. Ele é o único Redentor e convida todos para o
banquete da vida imortal. Mas a uma só e igual condição: a de se esforçar
por segui-l'O e imitá-l'O, assumindo sobre si, como Ele fez, a própria cruz
e dedicando a vida ao serviço dos irmãos.
Portanto, esta condição para entrar na vida
celeste é única e universal. No último dia recorda ainda Jesus no Evangelho não
seremos julgados com base em privilégios presumíveis, mas segundo as nossas
obras. Os "operadores de iniquidade" serão excluídos, e serão
acolhidos os que tiverem realizado o bem e procurado a justiça, à custa de
sacrifícios. Portanto, não será suficiente declarar-se "amigos" de
Cristo vangloriando-se de falsos méritos: "Comemos e bebemos contigo e
Tu ensinaste nas nossas praças". A verdadeira amizade com Jesus
expressa-se no modo de viver: expressa-se com a bondade do coração, com a
humildade, com a mansidão e a misericórdia, o amor pela justiça e a verdade, o
compromisso sincero e honesto pela paz e pela reconciliação. Poderíamos dizer
que é este o "bilhete de identidade" que nos qualifica como seus
autênticos "amigos"; é este o "passaporte" que nos
permitirá entrar na vida eterna.
Papa Bento XVI – 26 de
agosto de 2007
Hoje celebramos:
Nenhum comentário:
Postar um comentário