Gostaria de falar brevemente sobre o trecho
evangélico que nos diz que nenhum profeta é bem aceito pelo seu povo, que o viu
crescer. Com efeito, depois de Jesus, com quase trinta anos, ter deixado Nazaré
e já há algum tempo pregava e fazia curas noutras partes, regressou uma vez à
sua terra e pôs-se a ensinar na sinagoga. Os seus concidadãos ficaram admirados
pela sua sabedoria e, conhecendo-o como o filho de Maria, o carpinteiro que
viveu no meio deles, em vez de o receber com fé ficaram escandalizados com Ele.
Este fato é compreensível, porque a familiaridade a nível humano torna difícil
ir além e abrir-se à dimensão divina. Eles têm dificuldade de acreditar que
este Filho de um carpinteiro seja Filho de Deus. O próprio Jesus dá como
exemplo a experiência dos profetas de Israel, que precisamente na sua pátria
tinham sido objeto de desprezo, e identifica-se com eles. Devido a este
fechamento espiritual, Jesus não pôde realizar em Nazaré milagre algum. Apenas
curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Com efeito, os milagres de Cristo
não são uma exibição de poder, mas sinais de amor de Deus, que se realiza onde
encontra a fé do homem na reciprocidade. Escreve Orígenes: Do mesmo modo que
para os corpos existe uma atração natural da parte de uns para com os outros,
como o ferro atrai o ímã... também tal fé exerce uma atração sobre o poder
divino.
Portanto, parece que Jesus se resigna — como se
diz — ao mau acolhimento que encontra em Nazaré. Ao contrário, no final da
narração encontramos uma observação que diz precisamente o contrário. Escreve o
Evangelista que Jesus se admira com a incredulidade deles. À admiração dos
cidadãos, que se escandalizam, corresponde a maravilha de Jesus. Também Ele,
num certo sentido, se escandaliza! Não obstante saiba que profeta algum é bem
aceite na pátria, todavia o fechamento do coração do seu povo permanece para
Ele obscuro, impenetrável: como é possível que não reconheçam a luz da Verdade?
Por que não se abrem à bondade de Deus, que quis partilhar a nossa humanidade?
Com efeito, o homem Jesus de Nazaré é a transparência de Deus, n’Ele Deus
habita plenamente. E enquanto nós procuramos sempre outros sinais, outros
prodígios, não nos apercebemos de que o verdadeiro Sinal é Ele, Deus feito
carne, é Ele o maior milagre do universo: todo o amor de Deus contido num
coração humano, num rosto de homem.
Aquela que compreendeu deveras esta realidade
foi a Virgem Maria, bem-aventurada porque acreditou. Maria não se escandalizou com
o seu Filho: a sua admiração por Ele é cheia de fé, de amor e de alegria, ao
vê-lo tão humano e ao mesmo tempo tão divino.
Papa Bento XVI – 08 de
julho de 2012
Hoje celebramos:
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