"Senhor, tu nos livraste do medo da morte. Tu fizeste do ocaso de nossa vida a aurora da verdadeira vida. Tu permites a nossos corpos repousar por um pouco de tempo, durante o sono, para despertá-los ao som da trombeta. Tu permites que se deposite na terra o pó com o qual tuas mãos nos forjaram; retomas o que nos deste, transformando em imortalidade e beleza aquilo que em nós é mortal e disforme. Deus eterno, põe ao nosso lado um anjo de luz que me conduza pela mão ao lugar da restauração, onde jorra a água refrescante, no seio dos santos padres. Se caí por causa da debilidade de minha natureza, por palavras, ações, pensamentos, concede-me o perdão a fim de que volte a subir e, uma vez despojado de meu corpo, possa encontrar-me diante de ti sem mancha e sem rugas na face de minha alma. Mas que minha alma seja recebida entre teus escolhidos, irrepreensível e imaculada, como incenso em tua presença".
Uma Família de Santos:
Macrina nasceu em Cesaréia, na Capadócia, era a primogênita de dez
filhos de São Basílio o Maior e Santa Emélia, pertencentes à aristocracia da
Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo.
Como
seus pais sofressem perseguições religiosas por parte do imperador Galério
Máximo (293-311), a família mudou-se para o Ponto, província romana localizada
ao norte da Capadócia.
Macrina
é chamada a Jovem, porque levava o nome da avó paterna, ela também santa,
Macrina a Anciã. Desde a mais tenra idade foi educada nas Sagradas Escrituras;
o Livro da Sabedoria e os Salmos de David eram as obras prediletas dela, que
não se descuidava dos deveres domésticos e dos trabalhos de bordado e de
costura.
Na
adolescência, devido a sua beleza, muitos foram os pretendentes à sua mão. Aos
doze anos, como era costume, o pai prometeu-a em matrimônio, mas o noivo morreu
prematuramente. Ela recusou-se a aceitar novos compromissos e, como a mãe
ficara viúva após o nascimento do décimo filho, permaneceu a seu lado
ajudando-a na educação de seus irmãos.
Os
irmãos aprenderam com ela o temor da riqueza e o amor à oração e a palavra de
Deus. Foi “o pai e a mãe, a guia, a mestra e a conselheira” de seu irmão mais
novo, Pedro, pois o pai morreu pouco depois do seu nascimento.
Exerceu
muita influência sobre seu irmão Basílio, que deixou a vida mundana para
abraçar a vida monástica,
tornando-se depois Bispo de Cesárea. Ele voltou a rever a irmã no mosteiro em
376; ordenou sacerdote o irmão mais novo, Pedro, que vivia em um mosteiro
vizinho ao da irmã. São Basílio morreu em 1° de janeiro de 379.
Quando
todos os irmãos se tornaram auto-suficientes, ela convenceu a mãe a se retirar
com ela para a solidão em uma propriedade da família, nas margens do Rio Íris,
onde fundaram um mosteiro, e para onde seguiram também suas criadas e
companheiras.
Numa
organização de tipo familiar, as monjas dedicavam-se à meditação sobre as
verdades do cristianismo, às orações e ao auxílio aos pobres. O convento era considerado
essencial para as virgens absorverem a cultura sagrada; nele as mulheres
poderiam ser alfabetizadas. Não só os irmãos de Macrina, mas também amigos da
família, como São Gregório Nazianzeno e Santo Eustáquio de Sebaste, estiveram
ligados a esta comunidade.
Macrina
teve papel preponderante na espiritualidade católica do século IV. Pelo fato de
viverem inteiramente dedicadas ao ascetismo virginal e de basear seu
conhecimento unicamente nas Escrituras, ela e as outras virgens são
consideradas verdadeiros esteios do cristianismo. Possuía uma excelente bagagem
intelectual: sua mãe a ensinara a ler e ela conhecia autores cristãos, como
Orígenes, além de ler as obras dos irmãos.
Por ocasião da morte da mãe, em 373, Macrina tornou-se superiora
do mosteiro. Ela então repartiu entre os pobres a herança que recebeu de sua
mãe, e viveu do trabalho de suas mãos.
Retornando
do Concílio de Antioquia, em 379, São Gregório, Bispo de Nissa, desejou visitar
a irmã, mas a encontrou nos seus últimos momentos de vida.
O
santo ficou muito consolado vendo a alegria com que sua irmã suportava a
tribulação e muito impressionado com o fervor com que ela se preparava para a
morte. Eles tiveram somente um último colóquio de elevado teor espiritual e
depois de uma magnífica oração a Deus, entregou a alma a Deus (380).
Santa
Macrina era tão pobre, que para amortalhar o cadáver não se encontrou outra
coisa além de um vestido velho e um tecido surrado. São Gregório, porém, doou a
sua túnica de linho para seu sepultamento. O corpo foi sepultado na igreja dos
40 Mártires de Sebaste, a pouca distância do mosteiro, onde já estavam
sepultados seus pais.
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