O Servo de Deus Inácio Falzon também nutria
uma enorme paixão pela pregação do Evangelho e pelo ensinamento da fé católica.
Também ele colocou os seus inúmeros talentos e a sua formação intelectual ao
serviço do trabalho catequético. O Apóstolo Paulo escreveu: "Dê cada um
segundo o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus
ama quem dá com alegria" (2 Cor 9, 7).
O Beato Inácio foi um daqueles que
deu em abundância e com alegria; e as pessoas encontravam nele não apenas uma
energia ilimitada, mas também profunda paz e júbilo. Ele renunciou ao sucesso
mundano para o qual o seu currículo o preparara, a fim de servir o bem
espiritual dos outros, inclusivamente dos inúmeros soldados e marinheiros
britânicos que nessa época se encontravam estacionados em Malta.
Ao
aproximar-se deles, de entre os quais só alguns eram católicos, antecipou o
espírito ecumênico do respeito e do diálogo, que hoje nos é familiar, mas que
na sua época nem sempre era predominante. Inácio Falzon hauria a sua força e
inspiração da Eucaristia, da oração diante do Tabernáculo, da devoção a Maria,
do Rosário e da imitação de São José.
Eis as fontes de graça em que todos os
cristãos podem beber. A santidade e o zelo pelo Reino de Deus florescem de
maneira especial lá onde as paróquias e as comunidades promovem a oração e a
devoção ao Santíssimo Sacramento. Por conseguinte, exorto-vos a valorizar as
vossas tradições maltesas de piedade, purificando-as quando for necessário e
fortalecendo-as com sólidas instruções e catequese. Não haveria melhor modo de
honrar a memória do Beato Inácio Falzon,
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação –
09 de maio de 2001
Inácio nasceu em La Valleta (capital da
República de Malta), em 1º de julho de 1813. Sua família tinha uma situação
financeira bastante confortável – seu pai, o advogado Giuseppe Francesco, fazia
parte da comissão para a redação do novo Código Civil e, mais tarde, foi
nomeado Juiz de Sua Majestade. Dois de seus irmãos, Doutores em Direito,
tornaram-se sacerdotes.
Aos quinze anos, recebeu a primeira tonsura (a tonsura é
uma cerimônia religiosa em que o bispo dá um corte no cabelo do
ordinando ao conferir-lhe o primeiro grau no clero, chamado também “prima
tonsura”); três anos mais tarde, recebeu as Ordens Menores, mas nunca se sentiu
digno de receber a Ordenação Sacerdotal.
Aos vinte anos, em 7 de setembro de 1833,
obteve o Doutorado em Direito Canônico e Civil no Ateneu de Malta, porém nunca
exerceu essa profissão. Estudou a língua inglesa, coisa rara naqueles tempos,
mas essencial para manter contato com os soldados ingleses (eram, então, cerca
de vinte mil) que chegavam a Malta para preparar a guerra da Crimeia.
Dedicou-se à oração e ao ensino do catecismo,
devotava-se muito à Santíssima Eucaristia, tendo também como alimentos
espirituais a adoração e a meditação, ao ponto de despertar a admiração de
todos os fiéis que frequentavam a igreja paroquial de São Paulo Náufrago, assim
como a igreja franciscana de Santa Maria de Jesus. Tinha particular devoção à
Santíssima Virgem e a São José. Rezava o santo Rosário todos os dias.
Ignácio sempre apoiou as vocações
sacerdotais. Socorria continuamente os necessitados. Destacou-se especialmente
pela missão que desempenhou entre os soldados e marinheiros ingleses. Começou
organizando encontros de orações e turmas de catecismo para os militares
católicos que se preparavam para partir para a frente de batalha. Logo fazia
amizade com os outros soldados, protestantes ou não cristãos, aos quais dava
bons conselhos. Assim, atraiu para a fé católica centenas de homens. Os
documentos que se conservam na igreja dos jesuítas em La Valletta contêm os
nomes de mais de 650 pessoas que Ignácio preparou para receber o batismo. Além
disso, destacava-se também por sua capacidade de inspirar confiança inclusive
nos que não se haviam convertido: estes lhe confiavam seus objetos pessoais e
valiosos para que os entregasse a seus entes queridos, caso morressem na
guerra.
Pioneiro no campo do ecumenismo, desempenhou
esta missão com a ajuda dos leigos. Alguns de seus colaboradores tornaram-se
sacerdotes e capelães militares ou navais. Um deles, que permaneceu em Malta,
deu continuidade à missão de Ignácio.
Nosso beato viveu uma existência silenciosa:
podia-se intuir sua santidade ao vê-lo orar diante do Santíssimo Sacramento.
Morreu em 1º de julho de 1865, no dia em que completava 52 anos de idade. Era
membro da Ordem Franciscana Secular (ou Terceira). Foi sepultado no jazigo de
sua família na igreja franciscana de Santa Maria de Jesus, em La Valletta. As
graças obtidas por sua intercessão difundiram sua fama de santidade não só na
Ilha de Malta, mas também nos países que acolheram, e acolhem, imigrantes
malteses.
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