Após 20 anos da Ascensão de Nosso Senhor a
semente do Evangelho já havia se espalhado por numerosas cidades do Império
Romano.
Em Roma, alguns judeus professavam sua fé em
Jesus como o Salvador. Entre eles, Áquila, um tecedor de tendas. Ele procedia
de Anatólia do Norte, a atual Turquia. Sua esposa, Priscila – nome abreviado
para Prisca – era romana. Segundo uma antiga tradição, o casal era aparentado
com o senador Caio Mario Pudente Corneliano, que hospedava São Pedro em sua
casa em Viminale. Embora não haja fontes escritas que testemunhem isto, existem
pinturas de São Pedro administrando o Batismo a uma jovem chamada Prisca.
Inicialmente o Estado romano confundia os
cristãos com os judeus a ponto de oferecer a eles os mesmos privilégios: livre
exercício do culto e dispensa de obrigações incompatíveis com o monoteísmo,
como o culto ao imperador.
No final dos anos 40 as discrepâncias dentro
da comunidade judaica sobre a questão messiânica chegou ao conhecimento do
imperador Tibério Cláudio César, que se mostrara benévolo com os judeus, mas
que temia uma possível revolta e resolveu exilá-los de Roma por um tempo.
Forçados a deixar Roma, Áquila e Priscila
foram para Corinto, a capital de Acaya, conforme relatado nos Atos dos
Apóstolos.
O jovem casal teve que iniciar a vida numa
cidade em que gregos, romanos, africanos e judeus conviviam. As tradições e as
mentalidades mais diversas convergiam à capital: espetáculos sangrentos vindos
de Roma, veneração a deuses etc. Além disso, Corinto era consagrada a deusa
Afrodite. Tudo parecia impossibilitar a vida cristã. A cidade ocupava um lugar
chave entre o Oriente e o Ocidente; os coríntios frequentavam as numerosas
termas, teatros e os intelectuais podiam ter contato com escolas filosóficas de
peso.
Esta cidade que abrira as portas a todo tipo
de novidades, inclusive aos costumes mais inumanos, acolheu o casal cristão
entre seus habitantes. Áquila não tardou a instalar seu próprio negócio da
indústria da púrpura e do tecido.
Alguns meses depois, hospedaram um viajante
que lhes pedia asilo. O hóspede vinha de Atenas abatido, após ter se dirigido a
pessoas que apenas o ouviam para ter algo em que falar. São Paulo assim se
recorda de sua entrada em Corinto: “me apresentei diante de vós débil e
com temor e muito tremor”.
Além de o casal alojar São Paulo em seu lar,
Áquila compartilhou sua oficina com São Paulo, pois este também era fabricante
de tendas. Os Atos dos Apóstolos falam pouco do trabalho na oficina de Áquila.
Era trabalho de grande concentração, inclusive os tecedores estavam
desobrigados de se por de pé à passagem de pessoas importantes para não se
distrair durante sua tarefa.
Em fins do ano 50 e inicio de 51, a oficina
de São Paulo e de Áquila foi palco de um fato dos mais relevantes da História:
Timóteo e Silas chegaram a Corinto para trazer notícias de Tessalônica para São
Paulo.
Os cristãos daquela cidade sofriam
perseguição por parte daqueles que não aceitavam o Evangelho. O Apóstolo então
escreveu para eles a fim de fortalecê-los na Fé e esclarecer dúvidas em torno
do destino dos mortos e da segunda vinda do Senhor: era a Primeira Carta aos
Tessalonicenses e o primeiro livro do Novo Testamento.
Não só pela atuação do Apóstolo, mas também
pela de Áquila e Priscila e de outros cristãos, a Igreja de Acaya chegou a ser
uma das mais importantes. O Batismo foi dado, entre outros, a Crispo, chefe da sinagoga;
Erasto, tesoureiro da cidade; Tercio, que mais tarde seria secretário de São
Paulo; Ticio Justo, membro da colônia romana; Estéfanas, um prosélito, e sua
família. Escravos e libertos, artesãos e pessoas exponenciais, foram batizadas
na cidade que parecia surda às moções da graça.
No outono de 52, depois de um intenso
trabalho apostólico, São Paulo deixou Corinto. “Paulo ficou muitos dias
com os cristãos em Corinto. Depois se despediu deles e embarcou num navio para
a província da Síria, junto com Priscila e o seu marido Áquila. Antes de
embarcar em Cencréia, ele raspou a cabeça como sinal de que havia cumprido uma
promessa que tinha feito a Deus”. (Atos 18:18)
Áquila e Priscila, movidos pela Fé, junto com
Silas e Timóteo, acompanharam o Apóstolo na sua travessia de quase dez dias até
Éfeso. A nave ancorou no porto de Palermo, e os viajantes foram de barco até
Éfeso, a capital da Ásia proconsular. São Paulo pretendia continuar em direção
à Síria e embora os judeus do lugar instassem para ele ficar, o Apóstolo
seguiu, prometendo voltar.
Éfeso era o centro da província mais populosa
da Ásia. Havia ali uma importante colônia de judeus. Apolônio – abreviado, Apolo
– “homem eloquente e muito versado nas Escrituras”, natural de Alexandria do
Egito, possivelmente educado na cultura aberta à verdade, pregava na sinagoga.
Um dia, Áquila e Priscila ouviram sua pregação e reconheceram o esplendor de um
discurso messiânico. “Ele (Santo Apolônio) começou a falar com coragem na
sinagoga. Priscila e o seu marido Áquila o ouviram falar; então o levaram para
a casa deles e lhe explicaram melhor o Caminho de Deus”. (Atos 18:26)
O douto homem entendeu as razões e pediu para
ser batizado. Apolônio foi para Acaya e se apresentou à Igreja de Corinto e ali
foi “de grande eficácia, com a graça divina, para os que haviam acreditado,
pois refutava vigorosamente em público os judeus, demonstrando pelas Escrituras
que Jesus é o Cristo”.
Pela carta do Apóstolo aos romanos ficamos
sabendo que Priscila e Áquila retornaram a Roma: “Saudai Priscila e
Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, que para salvar minha vida
expuseram suas cabeças. Não somente eu lhes devo gratidão, mas também todas as
igrejas da gentilidade. Saudai também a Igreja que se reúne em sua casa”.
Entende-se pela carta que os esposos
realizavam em sua casa este tipo de reunião que em grego se chama ekklesia,
em latim ecclesia, que quer dizer convocação, assembleia, reunião. A casa
de Priscila e Áquila ficava provavelmente onde atualmente se encontra a Igreja
de Santa Prisca, no Aventino.
As escavações arqueológicas dos anos 1933 a
1966 descobriram dois edifícios dos séculos I e II. No do século II, encontraram
um lugar de culto ao deus Mitra; na casa do século I, se reconheceu o titulus
Priscae, a placa que indicava quem era o titular da casa.
Não sabemos quanto tempo Priscila e Áquila
permaneceram em Roma. Até o ano 67 se encontravam em Éfeso, pois São Paulo lhes
envia saudações em sua carta a Timóteo. Alguns autores falam de um novo retorno
do casal a Roma, ou pelo menos o de Priscila (Prisca). Em todo caso, os dados
biográficos que chegaram aos nossos dias são suficientes para motivar-nos a gratidão a estes esposos que, dóceis à vontade de Deus, como seu mestre, o
Apóstolos das Gentes, iam de uma cidade a outra defendendo sua Fé.
O Martirológio Romano afirma que eles
morreram na Ásia Menor, porém, segundo a tradição, foram martirizados em
Roma.
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