Na
realidade, o que se celebra hoje é bem mais do que uma aparição na qual Jesus é
elevado ao céu. É toda a realidade de sua glorificação que celebramos, aquilo
que os primeiros cristãos chamaram de “estar sentado à direita do Pai”. Assim,
a última aparição de Jesus aos apóstolos aponta para uma realidade que
ultrapassa o quadro da narração.
Jesus
realiza-se agora em outra dimensão, a dimensão de sua glória, de seu senhorio
transcendente. A atividade aqui na terra, ele a deixa para nós (“Sede as
minhas testemunhas… até os confins da terra” At 1,8), e nós é que
devemos reinventá-la a cada momento. Na ressurreição, Jesus volta a nós, não
mais “carnal”, mas em condição gloriosa, para nos animar com seu Espírito.
Ao
contemplar a ascensão de seu Senhor à glória do Pai, os discípulos ficaram
assombrados, porque não entendiam as Escrituras antes do dom do Espírito, e
olhavam para o alto. Aparecem dois homens vestidos de branco, é uma teofania, a
mesma dos dois homens que Lucas descreve no sepulcro (24,4). Neles a Igreja Mãe
judaico-cristã via acertadamente a forma simbólica da divina presença do Pai,
que são Cristo e o Espírito.
As palavras dos dois homens são fundamentais: “Galileus, o
que fazeis aí plantados olhando para o céu? O próprio Jesus que vos deixou para
subir ao céu, voltará como vistes marchar (Atos 1,11).”
Em
um excesso de amor semelhante ao que o levou ao sacrifício, o Senhor voltará
para tomar os seus e para estar com eles para sempre; e se mostrará como imagem
perfeita de Deus, como ícone transformante por obra do Espírito, para nos
tornar semelhantes a ele, para contemplá-lo tal como ele é (1 João 3,1-12).
No relato deste mistério segundo o Evangelho de São Mateus
(28,19-20), o Senhor envia os discípulos a proclamar e realizar a salvação,
segundo o triplo mistério da Igreja: pastoral, litúrgico e magisterial: Ide e
fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e
do Espírito Santo; e ensinando-os a guardar tudo o que vos mandei.
O Plano de Deus está sendo cumprido, e a salvação, anunciada
primeiro a Israel, é proclamada a todos os povos. Nesta obra de conversão
universal, por longa e laboriosa que possa ser, o Ressuscitado estará vivo e
operante em meio dos seus: E sabei que eu estou convosco todos os dias até o
final dos tempos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário