Na Festa de Pentecostes de 1544, Filipe erguia uma prece ao Senhor:
Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovareis a face da Terra".
Enquanto rezava, sentiu seu coração encher-se "de grande e
inusitada alegria, uma alegria feita de amor divino, mais forte e veemente que
qualquer outra sentida antes".
Uma bola de fogo - símbolo do Espírito Santo - refulgiu diante dele,
entrou por sua boca e pousou em seu coração. Num instante, viu-se tomado de
excepcional amor e entusiasmo pelas coisas divinas, bem como de uma capacidade
incomum de comunicá-los. Sua constituição física, não podendo conter o ímpeto
da ação sobrenatural, modelou-se milagrosamente a ela: o coração aumentou de
tamanho e buscou lugar entre a quarta e a quinta costelas, as quais se
arquearam docilmente para dar-lhe um maior espaço.
Esse episódio milagroso, ocorrido na vigília de Pentecostes, passaria
para a História como "o pentecostes de São Filipe Néri".
E os frutos de tamanho prodígio não se fizeram esperar: a doçura, a
persuasão e o fogo da caridade, a humildade, a paciência e o devotamento, que
ele viveu antes de morrer, e sua congregação continuou depois de sua morte.
Nascido em Florença, Itália, em 21 de julho de 1515, Filipe Rômolo Néri pertencia a uma família rica: o pai, Francisco, era tabelião e a mãe, Lucrécia, morreu cedo. Junto com a irmã Elisabete, foi educado pela madrasta. Filipe, na infância, surpreendia pela alegria, bondade, lealdade e inteligência, virtudes que ele soube cultivar até o fim da vida. Cresceu na sua terra natal, estudando e trabalhando com o pai, sem demonstrar uma vocação maior, mesmo frequentando regularmente a igreja.
Tendo estudado
humanidades com os melhores professores da cidade, por volta dos 16 anos seu
pai o enviou para São Germano, aos pés de Monte Cassino, para aprender a arte
do comércio com seu tio Rômulo.
Apesar de Felipe
se dedicar com empenho ao negócio, suas cogitações estavam muito acima das
mercadorias com que tratava. Logo se viu que ele não tinha senso comercial, mas
divino. Apenas terminado o trabalho do dia, retirava-se para alguma igreja ou
um dos oratórios abundantes na Itália. Servia-se também do emprego para fazer
apostolado, perguntando aos fregueses se sabiam o Pai-Nosso ou se haviam feito
a Páscoa. O tio comentava: “Felipe nunca
será um bom comerciante. Eu deixaria a ele toda minha herança, se não fosse
essa mania de rezar”. Para Felipe isso não era uma “mania”, mas
necessidade. “Nada ajuda mais
o homem do que a oração”, dirá mais tarde.
Por isso, quando fez 20 anos,
deixou a casa do tio e, levado por um instinto sobrenatural, foi para Roma.
Na cidade
eterna, estudou filosofia na universidade La Sapienza, e teologia na de Santo Agostinho, mantendo-se com aulas particulares.Os que tratavam com ele ficavam admirados de sua sabedoria,
profundidade de pensamento e vida santa. Nessa época ele já vivia a pão e água
uma vez só por dia, dormia apenas algumas horas no chão duro, e passava parte
da noite em oração. À noite costumava visitar as sete principais igrejas de
Roma, retirando-se depois para a catacumba de São Sebastião. Seu exemplo atraiu
muitos companheiros, que se juntaram a ele nesses santos exercícios.
O que é mais curioso é que São Felipe, nessa época, não pensava em
fazer-se sacerdote. Julgava acertadamente que se pode servir a Deus e ao
próximo muito bem, permanecendo leigo. Entrou para a Companhia do Divino Amor,
irmandade cujo objetivo era atender espiritual e materialmente os pobres, os
doentes, os órfãos e os encarcerados. No Hospital dos Incuráveis, cuidou dos enfermos até o fim de
sua vida, e para lá enviaria os seus seguidores.
Não contente com a visita a hospitais, São Felipe
punha-se também a percorrer ruas e praças, falando às pessoas sobre a Religião
e as coisas de Deus, da maneira mais comovedora e cativante.
Quando Felipe
tinha 36 anos, seu confessor Pe. Persiano ordenou-lhe, em nome de Deus, que se
fizesse sacerdote. Depois de mais alguns estudos, ordenou-se, celebrando sua
primeira missa no dia 23 de maio de 1551. Felipe entrou então para a comunidade
de Presbíteros de
São Jerônimo, que gozava merecida fama pelas virtudes
de seus componentes. Estes, embora vivessem em comunidade e tivessem mesa em
comum, não se obrigavam a nenhum voto. Este será o berço do Oratório de São
Felipe Néri.
Ouvindo contar as maravilhas operadas por São Francisco Xavier na
Índia, São Felipe pensou muito em ir também para o Oriente. Dirigiu-se então ao
santo religioso Agostinho Ghattino, muito favorecido por Deus, pedindo-lhe que
consultasse o Senhor sobre esse seu projeto. A resposta divina foi:“Felipe não
deve buscar as Índias, mas Roma, onde o destina Deus, assim como a seus filhos,
para salvar almas”
Como sacerdote, São Felipe dedicou-se especialmente ao confessionário, onde
passava grande parte do dia.
Outra nota marcante na vida de
São Felipe Néri foi seu amor pela Eucaristia. Era tão grande o fervor de sua
caridade que, em vez de se recolher para celebrar a Missa, tinha que procurar
deliberadamente uma distração, para ser capaz de prestar atenção depois no rito
externo do Santo Sacrifício.
São Felipe Néri entregou sua
alma a Deus no dia 26 de maio de 1595, sendo canonizado apenas 27 anos depois,
juntamente com Santo Isidoro Lavrador, Santo Inácio de Loyola, São Francisco
Xavier e Santa Teresa D’Ávila.
Nenhum comentário:
Postar um comentário