E regozijai-vos comigo também da diocese
de Nuoto, e vocês cidadãos de Orgosolo na Sardenha, pela jovem Antonia Mesina,
que proclamamos bem-aventurada hoje.
Seu martírio é o culminar de
uma dedicação humilde e alegre à vida de sua grande família, foi o seu sim
constante para o serviço escondido em casa que a preparou um sim total.
Desde tenra idade - foram os
anos da Primeira Guerra Mundial - Antonia experimentou a dureza da sua terra e a
generosidade de seu povo; guiada pelos pais, professores e pastor abriu-se com
coragem aos valores da vida e da fé; em particular a juventude Feminina da Ação
Católica colocou nas profundezas do seu coração as raízes cristãs e o seu desejo
de pureza e doação.
E com apenas dezesseis primaveras
teve de dar seu sim heroico para viver a
bem-aventurança da pureza, que ela defendeu com o sacrifício supremo.
O feixe de madeira recolhida
para fazer pão no forno em casa, naquele dia de maio de 1935, mantém-se amontoado
ao lado de seu corpo dilacerado por dezenas de golpes de faca. Esse dia vai
acender outro fogo e preparar um novo alimento para uma família muito maior.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 04 de outubro de 1987
Nos dias atuais temos muitas
jovens enfrentando a concupiscência de homens sem temor de Deus, cegos de
paixão insana, e que sofrem até a morte para defender a sua pureza. A defesa
extrema da pureza atualmente faz alguns sorrirem, resultado de um relaxamento
dos costumes e de uma liberdade sem freios entre muitos jovens. A pureza,
entretanto, era um bem e uma virtude que todas as jovens católicas tinham como
um dom natural a defender e preservar para um amor mais completo e abençoado no
Sacramento do Matrimônio, ou como um dom a oferecer a Deus em uma vida
consagrada.
Em 1947, ao beatificar a
jovem mártir da pureza Maria Goretti (1890-1902), o Papa Pio XII quis indicá-la
às jovens como exemplo de defesa extrema e heróica da pureza, e a proclamou
Santa em 1950, durante o Ano Santo. O reconhecimento oficial da Igreja desta
forma de martírio – que se pode considerar, segundo a linguagem de hoje, como
um estupro com um fim trágico devido à resistência da vítima – trás uma nova
luz ao martírio: o conceito de defesa da pureza como dom de Deus e o rebelar-se
consciente até a morte. São Domingos Sávio dizia: “Antes morrer do que pecar”.
Antonia, segunda de
dez filhos de Agostinho Mesina e de Graça Rubanu, nasceu a 21 de junho de 1919,
em Orgosolo, na província de Nuoro. Foi batizada na paróquia de São Pedro,
originária do século XIV, e, como era uso então, foi crismada a 10 de novembro
de 1920, quando tinha menos de dois anos de idade. Aos sete anos fez a Primeira
Comunhão.
A família, de condição
modesta, era sustentada pelo pai que era guarda campestre, o que já era alguma
coisa na carente economia de Orgosolo, região das colinas da Barbagia (alt.
620m), ao norte dos montes do Gennargentu, com as suas características
casinhas, e cujas principais fontes de renda dos habitantes eram o pastoreio e
a exploração dos bosques circunstantes.
Antonia Mesina se formou na
escola da Juventude Feminina da Ação Católica e de 1929 a 1931 fez parte dela
como ‘benjamina’, e de 1934 a 1935, como sócia efetiva. Era de uma piedade
simples e fervorosa, generosa na dedicação à sua família, respeitosa e caridosa
com todos.
De caráter reservado, típico
da personalidade das mulheres da sua região, evitou tudo aquilo que pudesse
ofuscar o seu bom nome e a sua modéstia. Participou com espontaneidade dos
eventos de Orgosolo: uma foto a retrata usando o belíssimo traje usado pelas
senhoras nas tradicionais festas da Assunção (15 agosto) e de S. Ananias
(primeiro domingo de junho).
No dia 17 de maio de 1935,
após ter assistido a Santa Missa na paróquia de São Pedro e ter recebido a
Santa Comunhão, foi ao bosque dos arredores para recolher lenha, segundo o
costume, para atender às necessidades da família. Acompanhava-a uma amiga, Ana
Castangia.
Encontrava-se na localidade
“Obadduthal” quando um jovem da sua região a abordou tentando-a e convidando-a
a cometer pecado, mas ela não aceita e resiste à sua paixão insana. O jovem,
cego diante da recusa, a agride com violência, massacrando-a com golpes de
pedra. Foram contadas 74 feridas.
Assim morre Antonia Mesina,
defendendo a sua pureza, com apenas 16 anos, impregnando aquela nobre e antiga
terra da Barbagia com o seu sangue inocente, tornando-se uma flor a ser
admirada pelo povo de Orgosolo, que participou em massa, no dia 19 de maio de
1935, dos solenes funerais.
A 22 de setembro de 1978, a
Santa Sé aprovou o início do processo para a sua canonização. O papa João Paulo
II beatificou esta filha da Sardenha no dia 4 de outubro de 1987.
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