Leandro, nome que vem do grego e significa homem calmo e sereno, era amigo
e correspondente de São Gregório Magno, e exerceu papel primordial na conversão
dos visigodos arianos que dominavam a Espanha no século VI
Os
dados sobre ele são tomados dos escritos de Santo Isidoro, seu irmão, de São
Gregório Magno e de São Martinho de Tours.
Seu irmão Santo Isidoro deixa este testemunho sobre ele: “Esse homem de suave eloquência e eminente talento, brilha de um modo especial por suas virtudes e por sua doutrina. Por sua fé e zelo, o povo visigodo foi convertido do arianismo à fé católica”.
Foi
num país dominado em boa parte pelos visigodos arianos heréticos que por volta
do ano de 520 nasceu em Cartagena São Leandro. Ele era o primogênito de quatro
irmãos, todos santos: São Fulgêncio, Bispo de Ecija, Santo Isidoro, que sucedeu
a Leandro na Sé de Sevilha, e Santa Florentina, abadessa, que dirigia quarenta
mosteiros e mil monjas.
São
Leandro era filho de Severiano, grande senhor que deu tão esmerada educação à
sua prole, que todos os filhos se tornaram grandes luminares da Espanha da
época.
Embora
seus muitos êxitos nos estudos pudessem destiná-lo a uma carreira brilhante,
São Leandro decidiu fazer-se monge, como quase todos os grandes santos daquele
século. Entrou então em um mosteiro de Sevilha.
Mas
não pôde gozar por muito tempo a paz do claustro, pois a fama de sua santidade
e erudição já o haviam tornado conhecido dos sevilhanos, que pelo ano de 578 foram buscá-lo
para ocupar a Arquidiocese de Sevilha, então vacante.
Para
consolidar seu poder, Leovigildo, o rei ariano, mandou seu filho e herdeiro
Hermenegildo representá-lo na antiga capital, Sevilha. Embora fosse ariano como
o pai, o príncipe casara-se com Ingunda, filha do rei da Austrásia, que era
firmemente católica.
Sob
a influência da piedosa esposa e de São Leandro, Hermenegildo acabou convertendo-se
à fé católica. E com tal radicalidade, que se tornou campeão da ortodoxia.
Leovigildo,
cuja ambição era tornar toda a Espanha ariana, não pôde suportar a defecção do
filho. E como este se negasse a ir explicar-se em Toledo, declarou-lhe guerra. Derrotando
o filho em combate, mandou prendê-lo. Depois, como Hermenegildo se recusasse a
receber a comunhão das mãos de um bispo ariano na cerimônia da Páscoa, mandou
decapitá-lo no dia 13 de abril de 585.
Leovigildo
continuou a perseguir os católicos, exilando muitos deles. Por isso baniu
também de seu reino vários bispos, entre eles São Leandro, que foi para
Constantinopla, e seu irmão São Fulgêncio.
Mas
não pararam aí as perseguições: Leovigildo apoderou-se das rendas das igrejas,
anulou os privilégios dos eclesiásticos e mandou matar muitos católicos
eminentes, para apoderar-se de seus patrimônios.
Do
seu exílio em Constantinopla, São Leandro não cessava de lutar contra os
hereges. Escreveu dois tratados sobre os erros dos arianos e os fez difundir
por toda a Espanha.
Em
Constantinopla, São Leandro ligou-se por estreita amizade ao futuro São
Gregório Magno, glória da Igreja e do papado, que era então embaixador do Papa
Pelágio II na corte bizantina.
Quando
os dois amigos voltaram a seus respectivos países, continuaram a comunicar-se
através muita correspondência. Assim, quando já era Papa, São Gregório escreve
a São Leandro: “Ausente de corpo, estais
sempre presente a meus olhos. [...] Minha carta é muito curta. Ela vos fará ver
a que ponto eu estou esmagado pelos processos e tempestades de minha Igreja,
pois que escrevo tão pouco a quem mais admiro neste mundo”.
Entretanto,
no ano de 588, Leovigildo foi atingido por uma enfermidade mortal. Arrependido
de tudo o que fizera, mandou chamar os bispos do exílio, entre eles São
Leandro, a quem fez guia de seu filho e sucessor, Recaredo.
O
sangue de Santo Hermenegildo não fora derramado em vão, pois seu irmão Recaredo
e todos os seus vassalos abjuraram a heresia ariana, abraçando a fé católica. E “produz-se em toda a Espanha uma
floração de fé, uma epifania de vida católica, que estalou delirante no
terceiro concílio de Toledo. Era o 4 de maio do ano 589, uma das datas mais
gloriosas da História da Espanha”.
A
tal concílio compareceram todos os bispos submetidos à autoridade de Recaredo,
ou seja, da Espanha e da Gália, num total de 78.
No
discurso de encerramento da assembleia conciliar, São Leandro – que como legado
do Papa – exclamou: “Novos povos
nasceram de repente para a Igreja. Regozija-te, santa Igreja de Deus! Sabendo
quão doce é a caridade e quão agradável a unidade, tu não pregas senão a
aliança das nações, não suspiras senão pela unidade dos povos. O orgulho
dividiu as raças com a diversidade das línguas; é preciso que a caridade as
volte a unir. [...] Alegra-te e regozija-te Igreja de Deus, que formas um só
corpo com Cristo; veste-te de fortaleza, enche-te de júbilo, porque cessaram
tuas lágrimas, lograste teus desejos, depuseste tuas vestes de luto; entre
gemidos e orações, concebeste, e, depois dos gelos, as chuvas e as neves,
contemplas a doce primavera dos campos, cheios de flores e pendentes dos ramos
da videira. [...] Gemíamos quando nos oprimiam, mas aqueles gemidos são agora
nossa coroa”.
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São
Leandro morreu octogenário no dia 27 de fevereiro de 603. Depois de inúmeras
trasladações, seu corpo foi finalmente repousa na Catedral de Sevilha.
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